Seleção para soldado
MP investiga eliminação de mulheres em teste físico de concurso para o Corpo de Bombeiros do RS
Concorrentes dizem que cerca de 80% das candidatas do sexo feminino foram reprovadas e que houve desproporcionalidade em exercício


O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) instaurou um procedimento após receber relatos de supostas irregularidades no concurso para o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS). O MP solicitou manifestação da corporação até a próxima quinta-feira (30). O processo seletivo é organizado pela Fundação Empresa e Tecnologia e Ciências (Fundatec).
Dezenas de candidatas alegam que o problema se deu durante o Teste de Aptidão Física (TAF), realizado no dia 15. A etapa é classificatória. O grupo diz que houve desproporcionalidade no exercício de simulação de resgate, o que resultou, segundo elas, na eliminação de cerca 80% das concorrentes do sexo feminino.
O desafio exigia arrastar um "boneco" de 70 quilos por 50 metros em até 36 segundos. Piso irregular e espera de até cinco horas entre exercícios também estão entre outros fatores prejudiciais citados.
— Foi muita injustiça. Eu passei em outras cinco atividades: na barra, abdominal, corrida, natação, subida de corda e rodei no boneco. Eu alcancei na linha de chegada, o pé do boneco ficou na mesma linha e me deram inapta. Foram várias injustiças coletivas — lamenta Julia Fagundes, 19 anos, estudante de nutrição.
As concorrentes também relatam que critérios diferentes teriam sido usados na mesma prova quando aplicada aos homens.
— Não deram tempo hábil para que pudéssemos ajustar a pegada do boneco no início do teste. Já os guris (concorrentes do mesmo concurso) puderam fazer isso, e eles mesmos nos relataram. Nossas manifestações não são um ataque aos bombeiros. Trata-se inteiramente do despreparo dos avaliadores e da banca — conta Karen Schallemberger de Oliveira, 22 anos, auxiliar de escritório.
As candidatas ainda relatam desacordo com as normas previstas no edital, questionam equidade e razoabilidade no concurso e exigem revisão dos resultados, bem como anulação do teste físico.
— Fomos surpreendidas no momento da prova, ocasionando uma reprovação em massa. As candidatas se preparam e abdicaram de muitas coisas por meses, mas, infelizmente, no dia da prova foi diferente. Teve despreparo da banca de examinadores e falta de fiscalização. Até o momento, não temos nem sequer uma explicação ou posicionamento dos responsáveis — relata a estudante de gestão pública, Larissa Duarte, 26 anos.
As queixas também foram levadas à Ouvidoria-Geral do Estado (OGE) e a representações da Assembleia Legislativa.
A ouvidoria do Estado informou que recebeu "demandas sobre a prova e as encaminhou para apuração do órgão competente, o CBMRS, que tem 20 dias para responder, podendo o prazo ser prorrogado por mais 10 dias".
O que diz a Fundatec
Procurada pela reportagem, a Fundatec enviou a seguinte manifestação: "O concurso transcorre dentro do previsto pelos editais e desconhecemos qualquer irregularidade."
O que diz o Corpo de Bombeiros
O Corpo de Bombeiros publicou nesta sexta-feira (24), em seu site, a seguinte nota:
O Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS), diante de notícias falsas sobre a fase do Teste de Aptidão Física (TAF) do Concurso para Soldado Bombeiro Militar, informa que o exame NÃO FOI ANULADO.
Alertamos para a propagação de notícias falsas, lembrando que é preciso sempre certificar a procedência das informações, procurando sempre a fonte da notícia.
Todas as informações relativas ao certame são publicadas em Diário Oficial do Estado e, posterior, no site do CBMRS.