Polícia



Vítima de bala perdida

"Tiraram a minha felicidade", diz mãe de motoboy morto em tiroteio na zona sul de Porto Alegre

Allan Lucas dos Santos foi atingido quando voltava para casa após visitar o pai

07/10/2025 - 12h22min


Vinicius Coimbra
Vinicius Coimbra
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Camila Hermes/Agencia RBS
Shirlei Fontoura, mãe de Allan, cobra justiça.

Um guri companheiro, amigo de todos e trabalhador. Essas foram algumas das definições dadas para explicar quem era Allan Lucas dos Santos, 21 anos. O motoboy foi morto em um ataque a tiros no bairro Restinga, zona sul de Porto Alegre, no domingo (5). Conforme a Polícia Civil, o caso ocorreu devido a um ataque de uma facção contra um grupo rival.

Para a família, Allan estava na "hora e no lugar errado", já que não tinha envolvimento com o crime.

— Vivi 21 anos de alegria com ele. Era um menino alegre, amado por todos. É injusto o que fizeram. Espero que não vire só mais um caso: quero justiça. Se não for a justiça dos homens, que seja a divina — disse Shirlei Fontoura dos Santos, 40 anos, mãe de Allan.

Allan trabalhava como motoboy há cinco anos para uma lancheira e uma pizzaria da região. Ele morava em um imóvel em frente à casa da mãe, com a esposa, com quem estava há quatro anos. Não tinha filhos. Quando foi atingido, o jovem voltava para casa após visitar o pai, também morador da região. Baleado, ele foi levado ao Hospital Restinga, mas não resistiu aos ferimentos.

—  É um vazio. Tiraram a minha felicidade, a coisa mais preciosa da vida, minha alegria. Preciso viver porque tenho minhas duas filhas. Não tem como aceitar o que fizeram com o meu filho — disse.

O jovem tinha uma paixão: motocicletas. Usava o veículo para trabalhar – tinha uma Honda Start 160, veículo que comprou novo. Com a moto também se arriscava em manobras registradas em vídeos e postadas nas redes sociais, no que os praticantes chamam de “grau”, ou seja, empinar o veículo.

— Ele sempre disse que queria ser motoboy. Também gostava de fazer trilha com moto, gostava da adrenalina. Todos amavam o Allan, ele não tinha inimigos — disse Leonardo Tavares Rodrigues, 19 anos, vizinho e amigo do jovem desde a infância.

Leonardo voltava de um passeio de bicicleta no domingo à tarde quando soube que o amigo tinha sido baleado. Naquela hora, lembrou-se de um episódio parecido: aos nove anos, Allan levou um tiro em uma das nádegas quando brincava depois da escola.

— Ele sempre se machucava e falava que voltaria melhor. Quando soube do tiro, pensei que ele ia ficar bem, mas depois me falaram que tinha falecido. Demorou para cair a ficha, mas depois desabei — contou.

Investigação

Segundo a Polícia Civil, o caso ocorreu durante um ataque de uma facção contra um grupo criminoso rival, no fim da tarde de domingo. Na ação, um carro foi utilizado pelos autores: dois homens desceram e atiraram contra pessoas que estavam em um ponto no entorno da escola de samba Estado Maior da Restinga. 

Além de Allan Lucas dos Santos, morreu na ocorrência Cristiano Machado Henriques, de 43 anos, que tinha antecedentes criminais. O motoboy não tinha passagens pela polícia.

Ninguém havia sido preso até a publicação desta reportagem. Cinco pessoas ficaram feridas no ataque e foram levadas para atendimento médico no Hospital Restinga, uma delas com ferimentos graves. Os nomes delas não foram divulgados.


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