Investigação
Perícia aponta golpe "mata-leão" como causa mais provável para coma de homem após abordagem policial em Guaíba
IGP também destaca que brigadianos não tentaram reanimar Carlos Eduardo Nunes, que acabou morrendo semanas depois


Laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul aponta a asfixia por golpe "mata-leão" como a causa mais provável para o estado de coma — e posterior morte — de um homem em Guaíba. O caldeireiro industrial Carlos Eduardo Nunes, de 43 anos, foi hospitalizado e permaneceu em estado vegetativo após uma abordagem policial na rua. O laudo também aponta que os policiais que o levaram desacordado ao hospital não realizaram massagem cardíaca na tentativa de reanimá-lo.
O laudo pericial a que Zero Hora teve acesso foi solicitado em 3 de julho pela Polícia Civil no âmbito das investigações do caso. Naquela data, Nunes ainda estava internado em coma no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. A perícia foi realizada na instituição no dia 8 de julho. Nunes morreu no dia 1º de setembro.
Em 24 de junho, o caldeireiro industrial, em aparente surto, foi contido por policiais do 31º Batalhão de Polícia Militar. Ele sofreu uma parada cardiorrespiratória após receber disparo de taser — arma de eletrochoque para incapacitação temporária — e um golpe “mata-leão”.
O delegado solicitou à perícia que respondesse se seria possível informar a causa do coma "apontando ou descartando as hipóteses de: asfixia, utilização de arma de choque ou overdose". Segundo a família, Nunes tinha histórico de uso de drogas.
Na resposta, o perito concluiu que não seria possível definir com exatidão a causa direta e exclusiva do quadro, mas estabeleceu como causa mais provável a asfixia por golpe "mata-leão", seguida do uso da arma de choque e, com menor probabilidade, uma overdose.
Homem foi não foi reanimado

O IGP também registra a ausência de tentativa de reanimação de Carlos Eduardo Nunes pelos policiais durante o deslocamento para o hospital. Após a abordagem, o homem foi levado desacordado em uma viatura ao Hospital Regional Nelson Cornetet. Ele deu entrada na instituição às 17h48min, 14 minutos após a viatura sair do local da abordagem, a dois quilômetros e meio do hospital.
O laudo enfatiza que "o provável tempo sem reanimação (compressões) contribuiu para um maior tempo sem circulação de sangue efetiva no encéfalo". Isso aumentou significativamente as chances de "sequelas funcionais e dano neurológico". Nunes só foi reanimado pela equipe médica, com sucesso, após a chegada ao hospital.
As investigações da Brigada Militar e da Polícia Civil não apontaram responsabilidade dos quatro policiais militares envolvidos na abordagem a Nunes. Tanto a Corregedoria da Brigada Militar quanto a Polícia Civil de Guaíba concluíram os respectivos inquéritos em agosto, antes da morte do homem.
As conclusões foram encaminhadas para o Tribunal de Justiça Militar do Estado. Caberá à promotoria de Justiça que atua no tribunal dar encaminhamento ao caso, podendo solicitar mais diligências ou o arquivamento. Uma hipótese também possível é a solicitação de "declínio de competência", o que pode levar o caso à Justiça comum por se tratar de uma morte.
Segundo o Tribunal de Justiça Militar, o caso ainda se encontra em fase de inquérito, com vistas para o Ministério Público. A instituição tem prazo até 4 de dezembro para se manifestar.