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Investigação

Perícia aponta golpe "mata-leão" como causa mais provável para coma de homem após abordagem policial em Guaíba

IGP também destaca que brigadianos não tentaram reanimar Carlos Eduardo Nunes, que acabou morrendo semanas depois

18/11/2025 - 12h45min


Paulo Rocha
Paulo Rocha
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Reprodução/Reprodução
Homem foi contido por quatro brigadianos e sofreu disparo de taser.

Laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul aponta a asfixia por golpe "mata-leão" como a causa mais provável  para o estado de coma — e posterior morte — de um homem em Guaíba. O caldeireiro industrial Carlos Eduardo Nunes, de 43 anos, foi hospitalizado e permaneceu em estado vegetativo após uma abordagem policial na rua. O laudo também aponta que os policiais que o levaram desacordado ao hospital não realizaram massagem cardíaca na tentativa de reanimá-lo.

O laudo pericial a que Zero Hora teve acesso foi solicitado em 3 de julho pela Polícia Civil no âmbito das investigações do caso. Naquela data, Nunes ainda estava internado em coma no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. A perícia foi realizada na instituição no dia 8 de julho. Nunes morreu no dia 1º de setembro.

Em 24 de junho, o caldeireiro industrial, em aparente surto, foi contido por policiais do 31º Batalhão de Polícia Militar. Ele sofreu uma parada cardiorrespiratória após receber disparo de taser — arma de eletrochoque para incapacitação temporária — e um golpe “mata-leão”.

O delegado solicitou à perícia que respondesse se seria possível informar a causa do coma "apontando ou descartando as hipóteses de: asfixia, utilização de arma de choque ou overdose". Segundo a família, Nunes tinha histórico de uso de drogas.

Na resposta, o perito concluiu que não seria possível definir com exatidão a causa direta e exclusiva do quadro, mas estabeleceu como causa mais provável a asfixia por golpe "mata-leão", seguida do uso da arma de choque e, com menor probabilidade, uma overdose.

Homem foi não foi reanimado

Arquivo pessoal/Arquivo pessoal
Nunes era caldeireiro industrial.

O IGP também registra a ausência de tentativa de reanimação de Carlos Eduardo Nunes pelos policiais durante o deslocamento para o hospital. Após a abordagem, o homem foi levado desacordado em uma viatura ao Hospital Regional Nelson Cornetet. Ele deu entrada na instituição às 17h48min, 14 minutos após a viatura sair do local da abordagem, a dois quilômetros e meio do hospital.

O laudo enfatiza que "o provável tempo sem reanimação (compressões) contribuiu para um maior tempo sem circulação de sangue efetiva no encéfalo". Isso aumentou significativamente as chances de "sequelas funcionais e dano neurológico". Nunes só foi reanimado pela equipe médica, com sucesso, após a chegada ao hospital.

As investigações da Brigada Militar e da Polícia Civil não apontaram responsabilidade dos quatro policiais militares envolvidos na abordagem a Nunes. Tanto a Corregedoria da Brigada Militar quanto a Polícia Civil de Guaíba concluíram os respectivos inquéritos em agosto, antes da morte do homem.

As conclusões foram encaminhadas para o Tribunal de Justiça Militar do Estado. Caberá à promotoria de Justiça que atua no tribunal dar encaminhamento ao caso, podendo solicitar mais diligências ou o arquivamento. Uma hipótese também possível é a solicitação de "declínio de competência", o que pode levar o caso à Justiça comum por se tratar de uma morte.

Segundo o Tribunal de Justiça Militar, o caso ainda se encontra em fase de inquérito, com vistas para o Ministério Público. A instituição tem prazo até 4 de dezembro para se manifestar.

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