Em Pelotas
Mulher é presa por suspeita de tentar matar três vezes o marido internado na UTI de hospital
A polícia passou a investigar o caso no último dia 15 de dezembro, depois que a equipe médica desconfiou da situação. O paciente segue hospitalizado, em estado estável, ainda sem condições de prestar depoimento


Uma mulher de 52 anos foi presa pela Polícia Civil, no sul do Estado, por suspeita de tentar matar o marido ao menos três vezes, enquanto ele estava hospitalizado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Santa Casa de Pelotas. A investigação é do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Os nomes dos envolvidos não foram divulgados até o momento.
A polícia passou a investigar o caso no último dia 15 de dezembro, depois que a equipe médica desconfiou da situação. Segundo a polícia, o paciente de 72 anos deu entrada no hospital no dia 5 de dezembro, com sintomas de acidente vascular cerebral. Depois disso, o idoso teve duas melhoras, mas, conforme a equipe médica, ele voltou a piorar e chegou a entrar em coma. As duas pioras teriam acontecido após visitas da mulher, nos dias 9 e 16.
Visitas e coma
Na primeira visita a mulher levou um mingau para que o marido consumisse. A situação fez com que a equipe médica a suspeitasse de um possivel envenenamento. Na segunda visita, a suspeita ofereceu água. Por fim, no último dia 17, a mulher levou bebidas lácteas para o marido, mas, desta vez, a médica responsável acionou a Polícia Civil e entregou os iogurtes.
Conforme a delegada Walquiria Meder, na ocasião em que a vítima ingeriu água, 40 minutos depois o paciente voltou a entrar em coma.
— Os médicos foram contundentes em afirmar que ele só não foi a óbito porque estava na UTI. Se não houvesse uma intervenção muito rápida certamente ele teria ido morrido — disse a delegada.
Na primeira visita, a vítima estava se recuperando, perto de ter alta do hospital quando, depois de ingerir um alimento levado pela companheira, em questão de horas piorou e entrou em coma, apontou a delegada.

Perícias
Os alimentos foram encaminhados para análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP). Também foi realizada coleta de urina do paciente. Os laudos confirmaram que havia alta concentração de um coquetel de medicamentos de uso controlado nos iogurtes apreendidos. As mesmas substâncias foram encontradas na urina e sangue do idoso.
Ainda conforme a investigação, nenhum desses medicamentos havia sido administrado no hospital. Os policiais, coordenados pela delegada Walkiria Meder, realizaram buscas na residência da mulher. No local, foram apreendidas diversas caixas com os mesmos medicamentos constatados pelas perícias.

Segundo a perícia, foram encontrados no iogurte quatro medicamentos: um opioide, um sedativo, um remédio para pressão alta e um relaxante muscular.
Paulini Wegner, chefe da divisão de Toxicologia Forense do IGP, explicou que os componentes, sobretudo quando combinados, tinham o potencial de provocar uma depressão do Sistema Nervoso Central, e em consequência uma depressão respiratória, levando a uma necessidade de ventilação mecânica ou coma do paciente.
— Tratamos, desde o início, este caso como urgência, pois geralmente este tipo de análise em casos semelhantes é feita após o óbito. Mas, sabendo da necessidade, em parceria com a Polícia Civil nos foi trazido os alimentos e amostras da urina para identificar o que o paciente estava recebendo via oral e o que estava no organismo — declarou.
A perícia também está analisando outros alimentos levados pela mulher para o hospital para verificar se há presença dos medicamentos.
A mulher foi presa de forma temporária por tentativa de homicídio no fim de semana e encaminhada à Penitenciária de Rio Grande. Após ser presa, ela optou por permanecer em silêncio.

— O inquérito foi conduzido de forma sigilosa. Infelizmente, esse senhor foi v[itima de tentativas de envenenamento e a autoria de forma chocante é de sua própria companheira. Não há dúvidas que a suspeita entrou no hospital e levou esses produtos, que é um tipo de iogurte para dar para o companheiro consumir — disse o delegado Mario Souza, diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa.
O delegado destacou ainda que a ação da equipe médica, que chamou a polícia ao desconfiar do caso, foi fundamental.
— O familiar tem acesso a quem está doente. Isso é normal. Graças a equipe de saúde do Hospital Santa Casa foi possivel proteger a vítima, investigar e chegar à autoria. Quando tiveram a desconfiança, acionaram a polícia.
O paciente segue hospitalizado, em estado estável, ainda sem condições de prestar depoimento. A polícia apura o que pode ter motivado a tentativa de homicídio. Os dois eram casados havia cerca de 30 anos.