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Indicador social

RS de Extremos: Pedras Altas tem o mais alto índice de mortalidade infantil, Esteio, o menor

Nesta série de reportagens, ZH mostra cidades nos extremos dos principais indicadores sociais e econômicos

14/09/2012 - 05h10min

Atualizada em: 14/09/2012 - 05h10min


Em Pedras Altas, na região da Campanha, não nascem mais bebês. Para dar à luz, as gestantes precisam percorrer cerca de 200 quilômetros, até Bagé ou Pelotas. No ano passado, 12 mães fizeram o trajeto, 11 delas voltaram para casa com o filho no colo _ uma, que teve gêmeos, viu os bebês nascerem e morrerem no hospital da cidade próxima. Dois óbitos que impactaram no índice da mortalidade infantil. Pedras Altas, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado, é o município do Rio Grande do Sul com a maior taxa de morte entre os bebês até um ano de vida.

Na proporção são 153,8 mortes a cada mil nascimentos. Índice 13 vezes a média do Estado, que é de 11,4 mortes para cada mil bebês nascidos vivos.

A distância poderia ser apontada como a vilã dos altos índices, tanto que, no ano passado, a prefeitura adquiriu uma ambulância equipada com UTI e investe em cursos de emergência para os motoristas. Um deles, Alexandre Veiga, 34 anos, precisou ser parteiro do meio do caminho.

- Era uma moradora do Interior, eu tinha ido buscar uma criança doente e ela entrou em trabalho de parto. Quando estávamos quase chegando ela pediu para eu parar porque o bebê estava nascendo. Fiz o parto, cortei o umbigo e ainda carreguei até o hospital - lembra o motorista.

Porém, os dois bebês que morreram no ano passado eram prematuros, de uma gestação de alto risco. Informação que faz a luz vermelha piscar para o atendimento à gestante nos meses que antecedem a viagem que elas precisam fazer para ter os seus bebês. Em Pedras Altas, segundo a coordenadora municipal de saúde, Ana Gorete Teixeira, os médicos que atendem na policlínica vêm de outras cidades. O ginecologista está no município apenas uma vez por semana.

Ciente de que o alto índice de mortalidade infantil possa estar ligado ao período pré-natal, Ana Gorete diz que o município busca a qualificação no atendimento. Como 65% dos moradores estão na zona rural, em dias de consulta com o médico motoristas da prefeitura buscam as gestantes em casa.

E, uma vez por mês, há um grupo específico para gestantes. Quem frequentar todas as aulas, no final do curso, recebe um kit para o recém-nascido.

- Sabemos que esse índice precisa diminuir, mas também não podemos esquecer que esse resultado pode ser uma distorção da realidade. Em Pedras Altas, nascem poucos bebês por ano, mesmo um pequeno número de óbitos já gera um grande impacto na média - observa a coordenadora de saúde.

O que o futuro prefeito pode fazer

A quinta (e última) reportagem da série RS de Extremos tem como tema a mortalidade infantil no Estado. De um lado, números preocupantes de Pedras Altas, com maior índice de mortes de bebês até um ano de vida. De outro, Esteio festeja ser o município de menor mortandade de crianças no Rio Grande do Sul

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Em Pedras Altas, luz vermelha a cada nascimento
FOTO: Nauro Júnior

Membro do Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria e responsável pelo Programa de Educação Continuada à Distância da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, a médica pediatra Rita de Cássia Silveira ressalta que a principal causa da mortalidade infantil é a prematuridade.

Para combater o nascimento de bebês antes do tempo, é preciso que haja a qualificação da rede básica de assistência às gestantes. São recomendadas, no mínimo, oito consultas com um médico ginecologista durante a gestação. Ela frisa que somente um profissional qualificado é capaz de perceber possíveis problemas que podem ocasionar em partos prematuros _ como a diabetes gestacional e a pré-eclampsia, que é quando a pressão arterial da mãe fica muito acima do normal. 

Em Esteio, programa para acompanhar o primeiro ano de vida
FOTO: Fernanda Pimentel

No consultório da pediatra Adriana Rieder na unidade básica de saúde do bairro Nova Esteio, dezenas de lembrancinhas de bebês enfeitam as paredes.

Os presentes das mães são um reconhecimento ao trabalho dela, funcionária do posto há 11 anos e uma das profissionais que contribui para que Esteio seja o município de menor mortalidade infantil do Rio Grande do Sul. A médica integra o programa Criança Bem-Vinda, que é apontado como o principal responsável pelo índice de 1,7 mortes a cada mil nascidos no município, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde.

A iniciativa faz com que as mães que têm os filhos no Hospital São Camilo já deixem o local com a garantia de consultas periódicas com pediatras. Durante todo o primeiro ano de vida do bebê, são nove atendimentos assegurados pelo programa.

- É muito importante esse acompanhamento, porque podemos detectar doenças com antecedência e seguir de perto o desenvolvimento nutricional da criança, verificar como estão as vacinas e acompanhar o crescimento dela - explica Adriana.

A auxiliar de limpeza Lígia da Silva Silva foi mãe aos 40 anos, quando deu à luz ao menino Igor, agora com um ano e dois meses. Mesmo após passar por todas as consultas previstas no Criança Bem-Vinda, continua levando o filho ao posto uma vez a cada três meses.

- Minha gravidez foi muito tranquila. Fui em todas as consultas do pré-natal e não perdi nenhuma depois que o Igor nasceu. Continuo trazendo ele porque o atendimento é muito bom, gosto demais da doutora Adriana - orgulha-se.

Apesar da estatística de mortalidade infantil ser baixa, o secretário da Saúde do município, José Antônio Silveira, pondera que o índice, correspondente a 2011, é incomum.

- Nos dados deste ano, já estamos observando um número um pouco maior, em torno de cinco ou seis. Aquele dado de 2011 foi atípico - explica.

A média estadual é de 11,4, mais de seis vezes o índice registrado em Esteio. O secretário reforça que, além do Criança Bem-Vinda, a distribuição das nove unidades básicas de saúde do município favorece o atendimento às mães e filhos. Outros três postos estão em construção. Além disso, exames ambulatoriais e ecografias são garantidos para as gestantes.

- Depois de sair com o filho da maternidade, a mãe já sabe qual o posto mais próximo da casa dela e que vai atender o bebê durante o programa. Somente um deles não tem pediatra todos os dias. Isso qualifica o pré-natal, facilita os diagnósticos e também ajuda no atendimento de casos mais simples - detalha.

Com uma população de mais de 80 mil pessoas, Esteio conta com o segundo maior Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese) do Estado, atrás apenas de Caxias do Sul. A nota da cidade (0,846) fica na faixa considerada de "alto desenvolvimento", acima de 0,800.

O que o futuro prefeito pode fazer

O professor do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da Ulbra Airton Tetelbom Stein diz que o poder público deve estimular o envolvimento de toda a sociedade no sistema de saúde. Stein elogia o Criança Bem-Vinda e acredita que o atendimento das gestantes e dos bebês oferecido pela prefeitura deve ser cada vez mais qualificado.

- É necessário planejar a continuidade do cuidado. A criança requer um atendimento que começa na gestação, mas que deve seguir permanente. Também é importante que a sociedade interaja e se envolva com esse contexto, estimulando as gestantes a procurarem o programa e difundindo o conhecimento sobre gravidez para mobilizar a prevenção - explica Stein.

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