Solidariedade
Alunos de escola pública de Guaíba doam dinheiro da formatura para cirurgia cardíaca de bebê
Estudantes do terceiro ano do Ensino Médio da escola Augusto Moura e Cunha deram R$ 2 mil para a anestesia do bebê Asafe Rosado. Ele morreu na madrugada deste sábado no hospital da Criança Santo Antônio, dez dias após a cirurgia
No lugar da festa que celebraria o fim de um ciclo em dezembro, os 70 estudantes das três turmas do terceiro ano do ensino médio do Instituto Estadual Dr. Augusto de Moura e Cunha, de Guaíba, decidiram participar do início da possibilidade de uma nova etapa na vida do bebê Asafe Rosado, de três meses de idade. Para pagar a anestesia da cirurgia do pequeno, que sofria de cardiopatia congênita, eles doaram os R$ 2 mil arrecadados ao longo do ano e reservados ao passeio final das turmas.
Na sexta-feira passada, a mãe de Asafe, Cintia Rosado Alves, 37 anos, foi à escola para agradecer aos jovens solidários. Pela primeira vez desde que o filho passou pelo procedimento, há dez dias, ela saiu do Hospital Santo Antônio, em Porto Alegre. Longos abraços, seguidos de lágrimas, palavras emocionadas e minutos de silêncio seguiram-se nos 60 minutos do encontro.
- Não tenho palavras para agradecer pelo gesto de vocês. Estou muito feliz. Imagino o quanto lutaram para conseguir este dinheiro. Se eu tivesse condições, pediria para alguém dar o passeio a vocês - disse Cintia.
"Precisamos olhar para a nossa frente"
A conexão entre as turmas do Moura e Cunha e a vida de Asafe ocorreu via rede social. Num desabafo no próprio perfil, em 7 de setembro, Cintia contou que o filho estava internado e precisaria de uma cirurgia às pressas. O convênio, porém, não pagava o anestesista. Uma hora depois, a professora de Literatura dos estudantes, Silvania Freitas, 41 anos, compartilhou a mensagem.
- Na manhã seguinte, mesmo sem conhecer a família do pequeno, os alunos da turma 301 sugeriram a doação do dinheiro. As outras duas turmas também foram favoráveis. Eles mostraram que precisamos olhar para a nossa frente, para os nossos lados, para o próximo. É um gesto humanitário - esclareceu a professora, chorando.
"Isso não tem preço"
Pâmela Bassualdo, 17 anos, uma das estudantes, contou que as turmas já deveriam ter decidido pelo que fazer com o dinheiro. Porém, nenhuma sugestão tinha agradado aos formandos:
- Só agora percebemos que ele já tinha dono: o Asafe. Ele terá muitas madrinhas e padrinhos (os próprios estudantes). Vamos juntar mais dinheiro para fazer um terno para ele participar da nossa formatura.
Raíssa Monteiro, 17 anos, colega de Pâmela, explicou à mãe de Asafe que a intenção foi fazer algo importante com o dinheiro arrecadado com rifas e vendas de lanches nos recreios.
- Percebemos que, mais do que termos uma festa de formatura ou um passeio, nosso dinheiro estará no coração de uma criança. E isso não tem preço - resumiu.
No momento da cirurgia de Asafe os estudante reuniram-se numa das salas da escola para rezar pela vida do bebê. Outras turmas ficam sensibilizadas pela história. De mãos dadas, mais de cem crianças e adolescentes participaram do ato.
- Foi tão único aquele momento, que ninguém pensou em fotografá-lo. Mas ficará para sempre na nossa memória - contou a professora.