Números da violência
Números de assassinatos da Região Metropolitana são considerados "de guerra"
Diminuição das taxas depende de um "processo complexo"
Desde 2011, foram assassinadas 4.870 pessoas na Região Metropolitana, de acordo com o levantamento do DG. Números de guerra que, ao menos na perspectiva do diretor de investigações do Departamento de Homicídios, delegado Cristiano Reschke, tendem a ser reduzidos em cerca de dois anos. Mas para isso, será preciso contar com as condenações dos atuais envolvidos em homicídios.
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É que, desde a criação das delegacias especializadas em Porto Alegre, no começo de 2013, mais de 400 pessoas já foram presas envolvidas em assassinatos. No entanto, menos de 10% foram denunciadas até agora. E um volume ainda menor foi a julgamento.
- Boa parte dos envolvidos em homicídios têm antecedentes por outros crimes, como o tráfico. E, nesses casos, sabem que ficam pouco tempo na cadeia e voltam às ruas. À medida em que forem condenados por homicídios, ficarão mais tempo presos e talvez diminua essa sensação de impunidade - afirma o delegado.
A preocupação da polícia está justamente nos vínculos que os criminosos conseguem manter mesmo depois de presos. A constatação é de que a maior parte dos conflitos que resultam em mortes nas ruas está relacionada a negociações e disputas administradas pelas facções dentro das cadeias.
"Processo é complexo"
O juiz corregedor do Tribunal de Justiça (TJ-RS) Lucas Maltez Kachny explica que o processo de júri por homicídio é complexo, e por isso mesmo, demorado. Na primeira fase - a instrução - é a que permite mais recursos e outros ritos jurídicos previstos em lei. Na fase de pronúncia, o juiz analisa se há provas suficientes para a condenação. Se houver, o caso vai a júri. A decisão do magistrado, porém, pode ser contestada.
Recursos aos tribunais superiores podem levar de um a cinco anos. Além disso, mesmo depois de condenado pelo júri, a defesa pode recorrer. Nesses casos, os juízes podem autorizar a liberdade do condenado, até que se julgue o recurso.
- Para os leigos, isso pode gerar um sentimento de impunidade, mas é inerente ao processo penal, ao sistema jurídico brasileiro - explica Lucas.
Ele salienta que a demora no julgamento de homicídios é uma preocupação nacional, não apenas do Rio Grande do Sul. Como forma de reduzir este "gargalo", desde o segundo semestre do ano passado, juízes recém chamados por concurso estão atuando em cidades da Região Metropolitana - exceto Porto Alegre - para dividir a demanda do júri e auxiliar o magistrado titular.
- É o que chamamos de jurisdição compartilhada - explica o juiz corregedor.