Caminho do Bem
Bom exemplo! Morador de Cachoeirinha instala placas em ruas sem identificação
Na estreia da página Caminho do Bem, Xiruzinho conta o que ele faz para ajudar o próximo
Mesmo apaixonado por geografia, Valderi Müller dos Santos, 36 anos, mais conhecido como Xiruzinho, passou anos se perdendo em Cachoeirinha, cidade para onde se transferiu em 1995 depois de deixar Giruá, a 376km de distância. Por mais que gostasse de mapas, ele não encontrava os nomes das ruas das vilas mais recentes. Foi então que decidiu estudar por conta própria, com o auxílio da lista de Ceps dos Correios, as vias de Cachoeirinha sem identificação.
Em 2004, quando se aposentou por invalidez depois de sofrer um transplante de rins, Xiruzinho começou a sonhar com o dia em que teria todas as ruas como nomes na cidade. Três anos depois, ao assumir a presidência da Associação de Moradores do Jardim Vitória, ele começou a colocar em prática o antigo desejo.
Moradores de Guaíba criam projeto que espalha poesia pelas ruas da cidade
Com a ajuda da mulher, Gisele Santos, 36 anos, e do amigo Valdoci Marques, 35 anos, Xiruzinho instalou 17 placas de latão nas ruas da vila onde mora, e um pórtico de boas-vindas na entrada do Jardim Vitória. Agora, decidido a ampliar o projeto, ele deu um passo adiante: começou a identificar as vias das vilas vizinhas.
Ao saber da iniciativa do morador, a prefeitura o elogiou, e a Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão prometeu uma visita para conhecer o trabalho do líder comunitário.
Todas as quartas-feiras, a reportagem mostrará exemplos como o de Xiruzinho, que mesmo sem auxílio encontrou um caminho para fazer o bem ao próximo.
A história de Valderi em 1 minuto:
"Fiz transplante de rins em 2004 e, desde então, estou aposentado por invalidez. Como eu não tenho nada para fazer, este é o bem que eu faço para a comunidade: minha maior preocupação é identificar a rua do bairro porque tem pessoas que se perdem, não sabem onde estão.
De maneira manual, usando lâminas de lata e adesivos, fiz as primeiras placas das cinco ruas do meu bairro. Algumas duraram até o ano passado. Outras, se foram com os postes trocados. E começamos a ficar sem placas de novo. Então, pensei em ampliar o meu sonho antigo, levando ele para outras vilas carentes de Cachoeirinha.
Primeiro, mapeio todo o bairro. As que ainda não têm Cep, deixo um espaço na placa para colocar depois. Fiz o orçamento com uma gráfica: o adesivo com a identificação da rua sai R$ 4,50, e a placa de lata, R$ 1. Com R$ 5,50, a gente identifica ruas que jamais tiveram nome. Juntei um dinheiro e mandei fazer mais de 50 placas. Pedi para fazer a letra um pouco maior para facilitar a vida dos idosos e de quem anda de carro e precisa visualizar a placa de longe.
Minha parte é adesivar as placas de metal, colocar um reforcinho de madeira atrás para não dobrar e amarrar com arame bem firme e bem no alto dos postes ou das casas dos moradores das esquinas. Coloco uma em cada extremo da rua. Faço sempre aos domingos para os moradores saberem que não é um trabalho da prefeitura. E a recepção sempre é muito boa. Pergunto para eles assim "quantos anos existe a rua?" Eles respondem "Ah! Há 50 anos, 40 anos..." Então, rebato "alguma vez já recebeu uma plaquinha destas aqui?" E vem a resposta "Nunca! É a primeira que está recebendo." Daí, a pessoa fica alegre.
É um trabalho lento e difícil porque é um trabalho que estou fazendo sozinho. Eu já trabalhei com política (foi cabo eleitoral), mas não é por causa disso que eu estou fazendo as placas. É por um bem comum de cada cidadão que mora em Cachoeirinha, ou cada cidadão que vem visitar Cachoeirinha."
Valderi identifica as ruas com a ajuda do mapa do município
Foto: Mateus Bruxel
A receita de Xiruzinho
* Esqueça a burocracia. Tire a ideia do papel.
* Tenha amor pelas pessoas, não faça nada sem alegria.
* Tenha iniciativa.
* Não peça nada em troca.
Confira o trabalho de Xiruzinho nas fotos de Mateus Bruxel
* Diário Gaúcho