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Seu problema é nosso

Abrigo da Escola Mesquita ofereceu aulas de elétrica e informática para vítimas da enchente

Participantes receberam certificado de carga horária de 10h 

27/05/2024 - 14h28min

Atualizada em: 27/05/2024 - 14h31min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho

"Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo". A frase do educador Paulo Freire representa aquilo que a Escola Técnica Mesquita, na zona norte de Porto Alegre, realizou em meio à tragédia climática do Rio Grande do Sul. Desde o dia 3 de maio, a instituição transformou seu espaço físico para abrigar mais de 200 pessoas vítimas das enchentes na Capital. Porém, o local não serviu apenas para oferecer uma cama limpa, alimentação e banho quente para os flagelados: os abrigados também puderam participar de cursos enquanto estavam sendo acolhidos. 

Promover espaços de aprendizado no abrigo não foi a primeira ação social da Mesquita. Desde a pandemia, a instituição já realizava ações com moradores das comunidades Vila Farrapos, Humaitá e Beira do Rio, os mesmos que hoje estão abrigados nas dependências da escola. Segundo a diretora Claudete Oliveira, o primeiro passo foi a construção de cozinhas comunitárias em 2020, coordenadas por quatro ou cinco pessoas, que forneciam o suporte de alimentação para essas famílias. Depois, o plano era viabilizar a formação técnica dos moradores, porém a enchente chegou antes da sua concretização. Sendo assim, a ideia foi aproveitada e, depois de organizar o abrigo, as aulas iniciaram:

– Quando eles chegaram, no primeiro momento, nós os acolhemos e montamos uma estrutura mínima para dar conta. E aí depois começamos a preparar essas pessoas – relata a diretora. 

As aulas

Lecionadas por professores da própria instituição de forma voluntária, as aulas se dividiram principalmente em duas frentes: inclusão digital e elétrica básica. Além disso, oficinas pontuais sobre direito dos trabalhadores e políticas públicas de moradia também foram ministradas. 

Os ensinamentos de informática dos adultos foram destinados a aprimorar o processo de inserção dos moradores em práticas básicas da internet. Já as crianças aprenderam programação e robótica. De acordo com Claudete, o letramento digital é essencial para as comunidades, pois o acesso às políticas públicas se dá, principalmente, de forma online hoje em dia. 

– É muito importante que eles compreendam a necessidade de ter um e-mail, de memorizar senhas. Então, nós começamos por essa inclusão bem básica – destaca a diretora.

As aulas de elétrica, porém, tiveram um viés voltado ao curto prazo: quando as pessoas voltarem para suas casas depois que as águas baixarem. Então, entre os ensinamentos estavam: como secar e religar equipamentos, instalar chuveiros elétricos e criar novos pontos de tomada. De acordo com Claudete, em um primeiro momento, os aprendizados serão utilizados para benefício próprio, porém, mais tarde, também podem servir para o sustento:

– Daqui a pouco eles vão começar a escalar para o vizinho, para alguns familiares e isso pode virar uma fonte de renda, que é a nossa preocupação central: como essas pessoas vão se restabelecer.

Com a necessidade de retomar as atividades curriculares da escola, os abrigados foram encaminhados para o Sesi Rubem Berta, porém Claudete explica que, se houver adesão, o objetivo é dar continuidade aos cursos. No entanto, como muitos, em breve, voltarão às suas casas, aqueles que participaram das aulas já receberam um certificado de carga horária de 10h.

–Eles estão com a expectativa de voltarem para suas casas. Porém, se eles continuarem por mais tempo, nós vamos dar um jeito de aplicar uma carga-horária a mais para eles – afirma a diretora. 

A Escola

A Escola Técnica Mesquita foi fundada pelos Sindicatos dos Metalúrgicos em 1961 e as ações realizadas pela instituição têm apoio não só do sindicato, mas também da União das Associações de Moradores de Porto Alegre (UAMPA) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Para a diretora Claudete, realizar esse tipo de trabalho social faz parte da essência da Mesquita e, neste momento de dificuldade que o Estado está passando, não seria diferente:

– A Escola Mesquita, já nasce com esse compromisso de ser uma escola voltada para trabalhadores. Eu acho que a escola, como uma instituição, tem um papel primordial de atender as comunidades e buscar sempre viabilizar a garantia daquilo que é direito de todo mundo. Neste momento, mais do que nunca, a questão da moradia, da saúde e da educação –finaliza.

Produção: Elisa Heinski



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