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Vale do Sinos

Casal de São Leopoldo tirou marcas da enchente de casa com esponja de louça

Primeira reportagem da série “Recomeço Gaúcho” destaca casal do bairro Vicentina, atingido pela enchente em São Leopoldo

24/06/2024 - 05h00min

Atualizada em: 24/06/2024 - 12h04min


Alberi Neto
Alberi Neto
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André Ávila / Agencia RBS
Com muito esforço, o casal conseguiu salvar alguns itens.

As marcas da enchente ainda são bastante visíveis nas ruas do bairro Vicentina, em São Leopoldo. Em algumas casas, a linha marrom deixada pelo limite de inundação passa dos três metros. O bairro, assim como grande parte da Região Metropolitana atingida pela enchente de maio, está em trabalho de reconstrução. 

Em meio a este cenário, uma residência colorida por um forte azul cortado por linhas amarelas chama atenção. É como se parecesse que a cruel água barrenta que castigou o Rio Grande do Sul “fez uma curva” ao deparar com o lar de um pavimento. 

Logo ao se aproximar do amplo pátio desta casa, vê-se o casal formado por João Corrêa dos Reis, 64 anos, e Maria Irene Lauermann dos Reis, 60 anos. Enquanto o industriário ajeita a bicicleta para pedalar até a labuta, a dona de casa varre o pátio e aguarda as roupas quararem no varal. Um vistoso cão de guarda corre serelepe pelo espaço. O primeiro questionamento que vem ao se puxar uma amistosa conversa com João e Maria é saber como eles pintaram toda a residência tão logo as águas baixaram. Mas a resposta surpreende mais ainda.

— Pintar? Que nada, a gente escovou tudinho, dias e dias — orgulha-se João, citando os ingredientes da mistura que tirou os traços marrons das paredes. – Muita água, esponja de louça e detergente.

O resultado é tão impactante que até vizinhos comentam, como brinca o casal. Não é incomum os dois ouvirem que até parece que a "enchente não passou ali". Apesar de dificuldade, são estes pequenos momentos que trazem algum alívio enquanto a reconstrução segue, relatam.

Esperança de dias melhores

O desafio foi superado por João com ajuda de dois filhos, que não moram no local. O trabalho árduo deixava os ombros doloridos ao final do dia, em razão da repetição interminável de movimentos circulares com a esponja. Mas o resultado trouxe esperança de dias melhores. 

O mesmo esforço ainda serviu para que João e Maria conseguissem salvar a geladeira, um tanquinho e uma secadora de roupas, além de um ventilador. Itens que tinham ficado cerca de 25 dias completamente submersos pela água do Rio dos Sinos que extravasou na região. 

— Conseguimos manter também alguns poucos móveis, principalmente, os mais artesanais. Uma mesa construída por um dos meus filhos resistiu à força da água. Limpamos e vamos seguir usando ela — comemora Maria.

Em relação ao que não foi possível continuar usando depois da enchente, João e Maria traçam novos planos. Uma cozinha, televisor e colchão serão adquiridos. A cama do casal, que era de ferro, poderá seguir sendo usada. Nos dias que seguem, o objetivo é continuar o trabalho também na parte interna da casa, buscando limpar as marcas que ficaram nos cômodos. 

Um novo início também no trabalho

Apressado para não perder o horário de início do expediente, João Corrêa cita que a indústria onde é empregado também foi um local atingido pela água. O recomeço na rotina pós-enchente se dividiu entre a casa e o emprego. 

— Ainda não retomamos completamente as atividades na empresa, mas já está sendo possível trabalhar com o que conseguimos limpar, consertar e colocar em funcionamento — conta o industriário.

O local de onde tira o sustento fica próximo da casa da família, por isso, o trajeto é feito de bicicleta. Logo que está preparado, João monta no selim e ruma em direção ao serviço. Maria segue de casa avançando dia a dia na retomada da identidade familiar e dos laços com a comunidade onde os dois vivem há mais de 40 anos.

Vou indo para não perder o horário — despede-se João, pedalando rumo ao trabalho.


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