Efeito da enchente
Comerciantes percebem aumento nas vendas de móveis e eletrodomésticos em Porto Alegre
Nos bairros Azenha e Cidade Baixa, clientes procuram estabelecimentos para comprar camas, colchões, máquinas de lavar e outros itens
Os efeitos da pior enchente da história do RS se refletem no comércio de Porto Alegre. Os estabelecimentos de móveis e eletrodomésticos de bairros como Azenha e Cidade Baixa sentem o incremento nas vendas. Neste sábado (1º), a reportagem do Diário Gaúcho circulou pelas lojas e conversou com vendedores e clientes. As pessoas aproveitavam o sol e buscavam novos itens para as casas recentemente alagadas pela cheia do Guaíba.
O frentista Tiago Carpes, 37 anos, mora no bairro Harmonia, em Canoas, na Região Metropolitana. A água entrou 1m80cm dentro da casa onde vive com sua família. Só sobrou o aparelho de ar-condicionado. De férias, ele comprava um sofá-cama e um roupeiro em uma loja da Azenha.
— Estou pensando em comprar à vista. Meu pai também está fazendo uma vaquinha para podermos conseguir adquirir fogão e geladeira — explica.
A gerente da loja Ponto Frio da Azenha, Tatiana Xavier, 47, comenta que, desde o dia 15 de maio, houve aumento nas vendas de produtos para casas. Tudo motivado pela destruição causada pelos alagamentos.
— Tá uma loucura. Estourou o movimento, principalmente de clientes aqui do bairro — diz, citando ainda gente vinda de Eldorado do Sul e da zona sul da Capital atrás de produtos novos.
Segundo a gerente, muitos clientes compram para ajudar amigos ou familiares que perderam tudo na enchente.
— Tem saído muitas geladeiras, fogões, lavadoras, camas e guarda-roupas. É o essencial de uma casa — observa.
A técnica em enfermagem Sandra Lima, 53, mora na Avenida Venâncio Aires. Conforme relata, sua residência ficou "debaixo d'água" na Capital.
— Na verdade, perdi um pouco de tudo, do quarto à sala. Estou procurando uma televisão — compartilha, estimando o prejuízo pessoal causado pela inundação em R$ 30 mil e lamentando não ter direito a receber auxílio do governo por pertencer a outra faixa salarial.
Em outra loja da Azenha, onde são vendidos colchões e camas, o crescimento nas vendas chega a 10% e se acentuou nas duas últimas semanas. Porém, alguns clientes que aparecem preferem fazer primeiro orçamento do valor antes de efetuar a compra. Também esperam receber o auxílio emergencial do governo para poder ajeitar a casa.
— Nossos fornecedores são de Canoas, tiveram prejuízos com a enchente e não conseguem cumprir as demandas — revela a vendedora Lucia Mendonça, 54.
Em outro conhecido estabelecimento da Azenha, a média de venda antes da cheia era de R$ 15 mil a R$ 20 mil por dia. Agora, mais do que dobrou.
— A média agora está entre R$ 50 mil a R$ 80 mil por dia — estima o vendedor Gabriel Hoffmann, 25.
A procura neste estabelecimento tem sido tão grande que chega a faltar espaço para armazenar os itens. O que mais sai são fogões, máquinas de lavar e colchões. O estoque da loja fica localizado em Sapiranga. Antes, as entregas eram feitas de um dia para o outro. Com a situação atual, em que as estradas estão bloqueadas ou comprometidas com problemas, o cliente recebe a compra em até cinco dias.
O motorista José Amaral, 62, vive no bairro Santa Tereza, em Porto Alegre. Não teve a casa inundada pela água, mas a força da chuva causou diversos danos no telhado e atingiu peças dentro da residência.
— Entrou água no quarto e no banheiro. Estou aqui para procurar material para arrumar as telhas — conta, calculando em R$ 3 mil suas perdas.
Proprietária de uma loja de móveis na Avenida João Pessoa, no bairro Cidade Baixa, a comerciante Márcia Sartori, 48, percebe que a maioria dos fregueses compra produtos para doar para quem precisa. Colchões, camas, balcões e pias são os artigos mais procurados.
— Fogões não tenho mais. E as geladeiras que vendemos a preços populares também acabaram — assegura.
Na Avenida Bento Gonçalves, no bairro Partenon, outra loja tradicional de móveis foi visitada pela reportagem. No local, a presença de clientes afetados pela enchente em busca de produtos para a casa ainda não é percebida.
— Por enquanto, apenas uma ou outra pessoa nesta situação tem aparecido. Estamos em um ponto mais afastado da região central da cidade — alega o gerente de estoque Lóris Alba, 62.