Seu problema é nosso
Idosa enfrenta demora para agendar teste ergométrico em São Leopoldo
Clínica conveniada à prefeitura e a única que faz o exame pelo SUS no município diz estar com agenda lotada
Após o infarto que sofreu em agosto, Geneci de Fatima Leoratto Bedinoto, 68 anos, precisa fazer um teste ergométrico, requisitado pelo médico cardiologista. Contudo, a aposentada, moradora de São Leopoldo, tem enfrentado dificuldades para agendar o exame na clínica indicada pela Secretaria de Saúde do município.
Geneci recebeu o encaminhamento para realização do exame em setembro, mas só foi autorizada a marcá-lo em novembro. Com a autorização em mãos, ela foi à Clínica Polli, a única que realiza o exame pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
Lá, a aposentada foi informada que a agenda deste ano estava cheia para realizar o exame pelo SUS e que a de 2025 ainda não havia sido aberta. A opção seria fazer o exame particular, mas ao custo de R$ 200.
— Eu poderia pagar, mas acho que não é justo. Eu sou pagadora de impostos, não sou isenta de nada e ainda tenho que pagar para conseguir fazer esse exame — afirma Geneci.
A parceria do município com a clínica foi iniciada em 2022. Em novembro deste ano, a administração municipal renovou o contrato com a conveniada para realização de exames e consultas na área de cardiologia, conforme as informações disponíveis no portal da transparência.
Susto
Era começo da tarde da quarta-feira, 14 de agosto deste ano, quando Geneci começou a ficar tonta e sentir dores no braço esquerdo e entre as escápulas.
— Parecia que estavam pisando em mim — recorda.
Demorou algumas horas até ela ir à Unidade Básica de Saúde Imigrante Feitoria para fazer exames e descobrir que estava enfartando. Rapidamente, a equipe médica da UBS encaminhou-a para o Hospital São Francisco, no complexo da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Ela ficou internada por seis dias no Centro de Terapia Intensiva (CTI) da instituição.
Antes disso, a aposentada tomava remédios para a hipertensão, mas conta que negligenciou sua saúde nos últimos dois anos.
— Eu estava me sentindo bem — afirma.
Agora, sua rotina ainda é acompanhada por algumas sequelas do infarto. São manchas vermelhas e pretas na pele, tontura e cansaço até mesmo para conversar.
— O médico disse que eu posso ter uma vida normal, mas eu não estou conseguindo ter minha vida normal. A minha fisioterapia para um ombro eu não consigo fazer, porque fico tonta. Até para conversar eu tenho uma canseira — explica ela.
Com o teste ergométrico, ela espera conseguir um diagnóstico para ter o tratamento adequado e poder retomar sua vida.
O teste avalia o funcionamento cardiovascular quando o paciente é submetido a esforço físico em uma esteira. O objetivo é observar o comportamento da frequência cardíaca, da pressão arterial e do eletrocardiograma antes, durante e após o esforço.
Enquanto não consegue marcar a avaliação, a ex-metalúrgica fica apreensiva. Ela já esteve na Secretaria de Saúde e foi informada que deveria aguardar. Além disso, protocolou uma reclamação na ouvidoria da pasta sob o número 202420000416141, mas o prazo para a resposta é de 30 dias.
Contrapontos
Em resposta aos questionamentos do Diário Gaúcho, a assessoria da prefeitura informou que o atraso está relacionado à agenda acumulada após os feriados e que a autorização para marcar o exame tem validade de 60 dias. “Ninguém, com autorização de exame, ficará sem a marcação”, afirma.
A nota acrescenta que a administração municipal está com o credenciamento aberto para outras clínicas, mas apenas a Clínica Polli se manifestou. “Dessa forma, no momento, só é possível realizar este exame na Clínica Polli e por isso a paciente recebeu este encaminhamento.”
Questionada pela própria Secretaria, a Clínica se manifestou em nota assinada pelo cardiologista Ismael Polli. Segundo a nota, a Clínica não dá preferência a nenhum convênio e o agendamento dos exames é feito de acordo com a disponibilidade.
A nota também acrescenta que abrirá agendas extras para realização do teste ergométrico, mas não promete zerar a fila ainda neste ano.
“Em casos específicos, em que houver indicação médica para o exame ser realizado com maior brevidade, isso será providenciado”, completa.
*Produção: Guilherme Freling