Reconstrução
Vó da Reciclagem precisa de nova cadeira de rodas motorizada
Recicladora conhecida da Ilha da Pintada, Maria Ana teve a casa atingida pelo ciclone do final de 2023 e pela enchente de maio; móveis e o equipamento de locomoção foram perdidos
O ano que parecia promissor se tornou o mais desafiador de todos para a recicladora Maria Ana Ávila Macedo, 72 anos, conhecida como Vó da Reciclagem. Moradora da Ilha da Pintada, na Região das Ilhas, ela esperava voltar, este ano, para sua casa, que havia sido atingida pelo ciclone de setembro do ano passado. Entretanto, antes de a reforma ser concluída, a grande enchente de maio chegou de forma ainda mais devastadora e transformou a pequena residência às margens do Rio Jacuí, novamente, em destroços.
A água de maio levou, além da estrutura da casa, os móveis e eletrodomésticos que a família já havia arrecadado para equipar a residência quando pudessem voltar. As doações eram recebidas na casa de estadia solidária onde a Vó da Reciclagem morava. Mas o lugar não escapou da cheia e foi inundado quase até o teto.
Entre os itens perdidos, estava um dos desejos antigos de Maria Ana, recebido junto à leva de doações para a casa: uma cadeira de rodas motorizada. Ela não tem as duas pernas há mais de 30 anos devido a complicações da diabetes e depende da cadeira para sair de casa. Assim, a versão motorizada do equipamento lhe daria mais autonomia.
— Eu consegui dar duas voltas na rua com a cadeira antes da enchente. Foi uma maravilha! Coisa boa ir para a rua, olha quanto tempo eu passo dentro de casa — relata.
Agora, o desejo da recicladora é comprar uma cadeira nova ou arrumar a que ficou submersa e teve as baterias queimadas. Entretanto, Maria não tem condições de pagar o conserto, que foi orçado em R$ 8.500.
— O moço da assistência disse que nem vale a pena arrumar as cadeiras que ficaram na enchente, que sai muito caro. Vale mais a pena comprar uma nova ou usada — explica a catadora Carla Graziele de Ávila, a Grazi, 44 anos, filha da Vó da Reciclagem.
Por enquanto, Maria Ana usa uma cadeira de rodas comum para se locomover, mas tem suas limitações. Ela precisa ser empurrada por outra pessoa porque, se a idosa tenta conduzi-la sozinha, o peso faz a cadeira empinar.
A família se dedica para ajudar a idosa a passear quando possível. Apesar disso, Maria Ana não pôde participar de um evento importante: a formatura da neta mais velha, a quem cria desde pequena.
— Fica ruim para a Grazi ficar empurrando. Aí, eu disse para minha filha: “Tu vai, eu fico aqui”. Mas ficou tão triste a minha neta, ela queria eu lá — desabafa a Vó da Reciclagem.
"Nunca vi uma coisa assim"
Faz um ano e dois meses que a Vó da Reciclagem, sua filha e as quatro netas com quem mora não podem viver no próprio lar, na Rua Nossa Senhora da Boa Viagem, às margens do Rio Jacuí. Elas saíram em setembro de 2023 devido ao ciclone que atingiu a Capital naquele mês. Em janeiro desse ano, o Diário Gaúcho mostrou a esperança da família de voltar para o lar e que faltava pouco para a casa ficar pronta. Mas, em 2 de maio, tiveram que sair de barco do lugar onde estavam hospedadas, fugindo de mais uma cheia.
Depois de uma noite em um abrigo e de 50 dias na casa de um dos filhos, em Viamão, a Vó da Reciclagem pôde voltar para a Ilha da Pintada. Desde junho, ela, Grazi e as meninas estão, por meio da estadia solidária, em uma casa um pouco mais afastada do rio e contando com a solidariedade para adquirir móveis, utensílios e bens pessoais de novo.
— E eu não queria sair (em maio), não achava que ia encher. Não deu nem para tirar a minha cadeira. Me levaram no colo. Nunca vi uma coisa assim na vida — relembra, emocionada.
A Kombi da família, estragada há alguns anos e sendo consertada de pouquinho em pouquinho, talvez não tenha mais salvação. O veículo, que era utilizado pela família para catar sucata pelas ilhas, foi atingido por um barco durante a enchente e está atolado na areia desde então.
Ajude a Vó da Reciclagem
Doações podem ser feitas pela chave Pix 51984202983.
Quem quiser entrar em contato pode falar com Grazi pelo telefone (51) 98420-2983.
Produção: Caroline Fraga