Enxergando melhor
Mutirão no Hospital Banco de Olhos distribui centenas de óculos a crianças atendidas pelo SUS
No total, iniciativa calcula atender até 400 pacientes em dois dias de ação

Foi um sábado (24) em que dezenas de crianças começaram a enxergar melhor o mundo. Com mais nitidez e foco. No Hospital Banco de Olhos São Pietro (HBO), em Porto Alegre, foram distribuídos 68 óculos a crianças atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Localizada na Vila Ipiranga, zona norte da Capital, a instituição estimava realizar cerca de 200 atendimentos previamente agendados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) neste sábado.
A ação, realizada em parceria com a SES e a Óptica Moinhos de Vento, concluiu o mutirão iniciado no último dia 17. No total, a iniciativa calculava atender 400 crianças nos dois dias.
O atendimento foi exclusivo para pacientes com consulta marcada por meio da SES, que organiza a fila de espera e encaminha os casos para o hospital. Neste sábado, o último grupo de pacientes está previsto para ser atendido a partir das 16h.
Durante a ação, os atendidos podiam ser direcionados a um espaço reservado onde representantes da Óptica Moinhos de Vento, responsável pela confecção dos itens e distribuição de forma gratuita. No espaço, havia lápis de cores, balões e brinquedos para os pequenos.
As crianças podiam escolher a armação que fosse de seu agrado. Aqueles que foram atendidos no dia 17 de maio compareceram ao hospital para retirar os óculos. Já os que foram atendidos neste sábado devem retirar os óculos na próxima semana — a distribuição total deve passar da casa da centena.

Por ali estava Juliana Souza Pereira, 7 anos, ansiosa pelo seu futuro óculos. Moradora de Porto Alegre e acompanhada dos pais — Karine Sousa da Silva, 35, e Wagner Morais Pereira, 34 —, ela estava encantada por uma armação roxa, sua cor preferida.
— Eu reclamo muito de dores de cabeça. Eu vejo visão embaçada, fica um brilho no meu olho, todo lugar que olho fica piscando. Vim aqui para ver se eu vou precisar de óculos — relata Juliana.
Ela acrescenta que consegue brincar, ver TV e fazer as demais atividades, mas, é complicado para estudar, pois senta no fundo da sala, então fica difícil de enxergar.

Já Adrielle Sophia da Silva Cândido, 11 anos, estava prestes a trocar de óculos. Suas lentes atuais estavam embaralhando sua visão, como ela descreve. Será uma vida nova,
— Vai me ajudar a enxergar bem na escola, até para conseguir escrever e estudar melhor. Vai ser uma mudança — destaca.
A jovem estava acompanhada da mãe, Tatiane Silva, 42 anos. As duas vivem em Porto Alegre.
— Foi sensacional! Ela veio para uma consulta de revisão de estrabismo e vai sair com um óculos de graça. Vamos fazer, pois está cara uma armação — celebra Tatiane.
Reduzindo filas
Além de beneficiar diretamente o público infantil, a iniciativa visava contribuir para a redução de uma fila que, em alguns casos, pode ultrapassar três anos de espera. Conforme dados da SES, a fila para consultas oftalmológicas é atualmente a maior entre as especialidades ofertadas pelo SUS no Estado. Só na Capital, são mais de 30 mil solicitações para consultas.
O Hospital Banco de Olhos, que possui contrato com o Estado, é responsável por atender uma quantidade específica dessa demanda. Pelo SUS, a instituição realiza as consultas e fornece gratuitamente a receita para os óculos. Contudo, a confecção e entrega dos óculos não fazem parte das atribuições do hospital nesse acordo.
Com as crianças recebendo a consulta, a receita e os óculos, tudo quase no mesmo momento, a resolução dessa necessidade é facilitada. Às vezes, há a receita, mas não conseguem os óculos.
Para o mutirão, a equipe do HBO contou com entre 30 e 40 profissionais. Conforme Fausto Stangler, diretor técnico do Hospital Banco de Olhos, a ação supre o equivalente a 20 meses de atendimento em dois finais de semana.
Porém, ele destaca que a fila de oftalmologia possui vários tipos de espera:
— Há oftalmologia pediátrica, glaucoma, retina, catarata, tem outras filas. Essa fila que nós estamos atendendo é focada em crianças. É para redução da fila de crianças que precisam de óculos. É um mutirão pontual, específico — explica.
Nas próximas semanas, como adianta Fausto, o HBO deve realizar um novo mutirão, desta vez focado em atender pacientes do SUS com catarata. Sobre o mutirão dos dois últimos sábados, ele ressalta: uma criança que enxerga é o futuro:
— São crianças que, às vezes, são vítimas de preconceitos na escola, apontadas como desatentas ou como se não tivessem capacidade cognitiva. Quando, na verdade, o problema é de visão. Ao resolvermos isso, ela desempenha. Há um impacto na vida escolar e no futuro. Então, é um benefício para todo mundo — diz.