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O que são as ISTs? Entenda causas, sintomas e como se proteger
Infecções podem causar complicações de curto a longo prazo. Ginecologista alerta para a necessidade de cuidados contínuos.


Os problemas de saúde relacionados à vida sexual podem estar associados a uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST). As infecções, para além dos sintomas, podem atrapalhar o dia a dia das pessoas contaminadas e gerar complicações de curto a longo prazo.
A coluna Tua Saúde conversou com a médica especialista em ginecologia e obstetrícia Letícia Viçosa Pires, professora adjunta do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), para saber as principais causas, tipos, sintomas, tratamentos e prevenções contra as ISTs.
Transmissão
As Infecções Sexualmente Transmissíveis, ou ISTs*, são causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos. Elas possuem uma forma de transmissão que ocorre principalmente pelo contato sexual, que pode ser oral, anal ou por penetração vaginal sem o uso de camisinha. Mas, explica a especialista, a contaminação pode ter outros caminhos:
– O contato entre mucosas que sejam lesadas. Se a pessoa tiver contato sexual e contato com as secreções, pode haver a contaminação.
Para além do contato direto, algumas ISTs podem ser transmitidas através da gestação, via placenta, ou no canal de parto.
– A sífilis e o HIV são exemplos que podem ser passados da mãe para o bebê durante a gestação, parto e a amamentação – relata a especialista.
*O termo foi conhecido por anos como DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis). A diferença no uso do termo ocorreu para reduzir preconceitos associados às condições e para incentivar o atendimento médico.
Principais tipos de ISTs em circulação no Brasil:
/// HPV: um vírus que apresenta sintomas de verrugas genitais e, dependendo do tipo de HPV, pode levar ao câncer de colo do útero, pênis, ânus e garganta.
/// Clamídia: entre os sintomas podem estar o corrimento vaginal ou peniano, ardor ao urinar, sangramento genital, dor pélvica ou nos testículos e infecção retal. Também pode ser assintomática.
/// Gonorreia: o paciente com sintomas pode relatar corrimento vaginal ou na uretra, ardor ao urinar, dor testicular ou pélvica, mal-estar e febre.
/// Tricomoníase: as mulheres apresentam corrimento amarelo ou verde, forte odor, coceira e ardor ao urinar ou durante as relações sexuais. Já nos homens, muitas vezes a infecção não apresenta sintomas.
/// Sífilis: pode se manifestar em diferentes estágios, possuindo vários sintomas, como manchas na pele, febre, dor de cabeça e feridas nos genitais.
Buscar um especialista
A ginecologista enfatiza que o diagnóstico precoce é fundamental para que o tratamento possa ser feito antes do surgimento dos sintomas ou que ocorra o agravamento da doença, evitando a disseminação e complicações.
– Existe um período entre contrair a infecção e o surgimento da doença propriamente dita, e muitas vezes a pessoa pode estar infectada e transmitir a doença mesmo sem apresentar sintomas. Por isso, o diagnóstico e tratamento precoces são cruciais para evitar o desenvolvimento de doenças mais graves e para evitar a transmissão descontrolada – explica Letícia
Ela ainda reforça um alerta: é importante procurar atendimento médicos. Quando houver alguma suspeita ou sintoma de infecção, a recomendação é procurar um especialista, e não a automedicação.
O principal tratamento realizado é feito por antibióticos. Letícia ressalta que, quando o paciente se automedica, pode acabar usando a medicação errada ou nas quantidades inadequadas, o que pode levar ao desenvolvimento de uma “resistência da bactéria ao medicamento”.
Prevenção contínua
A ginecologista ainda ressalta que a prevenção é o caminho mais importante, e envolve um conjunto de ações que podem ser categorizadas como primárias e secundárias.
Ao nível primário está a educação e a proteção, quando a informação é passada para as pessoas se prevenirem das ISTs. Entre os tópicos está o sexo protegido, com o uso de preservativos – camisinhas são disponibilizadas de graça em Unidades Básicas de Saúde (UBS) – e a aplicação de vacinas contra o HPV, Hepatite B e A.
Na esfera secundária está a testagem e o diagnóstico precoce. São práticas que auxiliam na prevenção e reduzem o risco antes mesmo de surgirem sintomas. A médica recomenda que, a partir dos 25 anos, pessoas com vida sexual ativa realizem testes rápidos (disponíveis em UBS gratuitamente) e façam o exame da sorologia.
Para as mulheres, é recomendado o exame de papanicolau, também a partir dos 25. O procedimento auxilia a rastrear lesões precursoras do câncer de colo do útero.
– As pessoas devem procurar ativamente as UBSs para testagem, vacinação e tratamento – orienta Letícia.
Superando preconceitos
Letícia destaca que um dos principais problemas relacionados às ISTs ainda é o preconceito. E que muitos pacientes relutam na procura por tratamentos e até mesmo não buscam informações:
– É essencial que as pessoas entendam que ter uma IST não é motivo de vergonha. Todos nós somos humanos, temos fragilidades e podemos adoecer. O sexo é uma parte muito importante das nossas vidas e devemos praticá-lo de forma segura.
A médica reforça que muitos dos exames e tratamentos são gratuitos.
– Ações de cuidado são importantes. A vacinação de filhos não incentiva a precocidade sexual, mas, sim, ensina sobre autocuidado – finaliza.
*Produção: Josyane Cardozo