Jaque Vieira é uma das representantes de Canoas na comunidade do grafite. Formada em Artes Visuais, ela faz parte do Centro Tradicionalista do Grafite Klan, formado por um grupo gaúcho deste ramo.  

Jaque descobriu sua paixão pela arte através do incentivo de seu irmão, Vitinho Vieira. Em 2012, ele, que já era grafiteiro, deixou a irmã fazer um desenho em um de seus muros e logo notou que ela levava jeito. A partir daí, o irmão começou a levar Jaque para eventos, aulas e trabalhos. Hoje, o grafite não é apenas a sua forma de expressão, mas também sua principal fonte de renda. 

A artista estreou, no final de março, uma exposição permanente no Teatro Sesc de Canoas chamada Mulheres em Cores. A arte nas paredes faz homenagem à figura feminina, que para ela é símbolo de força. 

Enchente

A casa da artista foi uma das muitas residências atingidas pela enchente em Canoas, no bairro Harmonia. 

O marido morava há 33 anos na casa e, por isso, não imaginavam que o terreno fosse ser invadido pela água. Saíram de lá com os arredores alagados, “apenas para evitar transtornos”, mas quando acordaram no outro dia, descobriram que a água já batia no teto. A inundação foi tão intensa que seus vizinhos tiveram que se refugiar nos telhados. 

A situação devastadora do bairro deixou o lar de Jaque submerso por 23 dias. Praticamente tudo foi perdido, exceto alguns itens como uma caixa de som, uma batedeira e uma estufa.  No ateliê, que ficava no mesmo terreno, Jaque estima que o prejuízo em materiais perdidos totalize cerca de R$ 25 mil. 

Entretanto, no meio de tanta destruição, uma obra enrolada em plástico sobreviveu à enchente. Mesmo que tenha boiado no barro por todo esse tempo, uma tela da atriz Viola Davis, reconhecida como um símbolo de resistência e força feminina, permaneceu seca. A peça era o prêmio de uma rifa que ela fez para arrecadar fundos para participar de um evento internacional de grafite. 

Superação

Apesar das dificuldades, Jaque encontrou na arte uma forma de superação. Em meio à crise, a canoense participou de uma live que iniciou o SocialSul, um projeto de artistas voluntários do Brasil que destinam integralmente o valor das vendas de suas obras para ajudar famílias afetadas pela tragédia do RS. Em uma destas iniciativas, Jaque pintou duas garrafas de espumante que foram à venda em um pavilhão da Bienal, em São Paulo.  

Segundo ela, foi graças ao grafite e ao apoio da comunidade artística que ela conseguiu enfrentar esse momento difícil. No último mês, a convite do grafiteiro Binho, ela participou de uma exposição no Beco do Batman, na capital paulista. A mostra chamada Pet Lovers destinou todo o valor de venda das obras para animais resgatados no Estado.  

Com o apoio do marido e das netas, a artista prefere ver as coisas de uma perspectiva positiva. Determinada a reconstruir sua vida, Jaque ressignifica a catástrofe:

— No fim, depois da tragédia, várias portas foram abertas, oportunidades para outras exposições e isso tem sido uma fonte de inspiração e força para continuar. 

Para a artista, aceitar que as coisas não serão mais como eram antes faz parte do seu processo para seguir em frente. Ela conta que ter consciência que a água pode voltar é importante para não ser pega de surpresa novamente. Mas, uma coisa não mudou: a arte continua sendo a ferramenta de construção e reconstrução usada por Jaque. 

Como ajudar Jaque

Doações pela chave Pix: 887.510.660-68
Contato: jaquevieirartes@gmail.com
Siga nas redes sociais: @jaquevieirartes

* Produção: Camila Mendes