Vida



Guerra ao mosquito

Entenda o que está sendo feito para combater o Aedes Aegypti no Brasil

A associação entre zika e microcefalia elevou a importância dada aos programas de combate ao Aedes aegypti em todo o Brasil. Só em 2015, mais de 1,2 mil casos da má-formação foram diagnosticados, quando a média anual era de 150

08/12/2015 - 03h04min

Atualizada em: 08/12/2015 - 03h04min


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Em 11 meses, o número de casos de microcefalia no Brasil cresceu quase 10 vezes em relação ao ano passado. A suspeita de que as mães dos bebês diagnosticados com a má-formação tenham sido infectadas pelo zika vírus durante a gestação e isso tenha causado o problema mobilizou o governo para a criação do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia. Lançado no último sábado, o programa tem como objetivos eliminar o mosquito Aedes aegypti, ampliar o atendimento às mães que têm o bebê diagnosticado com a má-formação e investir em pesquisas para identificação do zika vírus. No entanto, as ações, até o momento, estão concentradas em Pernambuco, Estado que mais registrou casos de microcefalia no país.

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Foram 646 dos 1.248 sendo investigados em todo o país. Dado que tende a ser ainda maior, já que esses números foram divulgados no final de novembro. Na ocasião, 14 unidades federativas estavam na lista do governo. Um novo relatório deve ser divulgado nesta terça-feira, às 11h, atualizando os dados, levando em conta, por exemplo, os 11 casos suspeitos em São Paulo que estão sendo investigados.

- É uma força federal de ataque ao zika junto às forças estaduais, Polícia Militar, Bombeiros, vigilância sanitária, todos, inclusive a sociedade. Para ela ser vitoriosa tem de contar com a presença da população - disse a presidente Dilma no último sábado.

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A força-tarefa deve mobilizar 19 órgãos e entidades, encabeçados pelo Ministério da Saúde e com o reforço das Forças Armadas e Defesa Civil. Porém, o plano ainda não teve o valor das verbas definido. O ponto de partida do projeto é o extermínio do mosquito Aedes aegypti.

No Rio Grande do Sul, a participação do Exército foi anunciada em 2 de novembro, quando foi criado o Comitê Estadual Intersetorial de Combate ao Mosquito Aedes aegypti. O foco do trabalho dos soldados também é no combate aos focos do mosquito e no auxílio ao acesso de equipes da vigilância de saúde a residências. Até o momento, não foram definidas as quantias que serão destinadas para o mutirão. Em Pernambuco, ontem, os soldados identificaram diversos focos do mosquito em ação no morro Alto do Mandu.

Diagnóstico no país é feito apenas por um local

Para esta terça-feira, a presidente convocou os 27 representantes de Estado para discutir o plano. O governador José Ivo Sartori confirmou presença. O Rio Grande do Sul já criou um comitê de combate ao mosquito, mas ainda não divulgou quando as ações devem se iniciar.

Em 2015, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o RS somou mais de 1.039 casos de dengue autóctones e dois de chikungunya importados.Em Porto Alegre, um caso de zika, também importado, está sendo investigado. Em Santa Catarina, que já contabiliza sete casos confirmados de zika, a Secretaria de Saúde organiza para hoje um encontro com prefeitos e secretários municipais para discutir ações de combate ao mosquito. Em agosto, o governo do estado vizinho divulgou o repasse de R$ 1,7 milhão para 57 municípios em alerta para a presença do transmissor.

Na reunião de hoje, em Brasília, a presidente deve anunciar o início do projeto para habilitar mais 27 laboratórios estaduais para realizar o exame de identificação de zika, agilizando o processo de diagnóstico, que hoje é feito apenas pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará. Outra aposta das autoridades é na criação de uma rede de atendimento para gestantes cujos bebês foram diagnosticados com a má-formação.
Pesquisas para desenvolvimento de tecnologias voltadas para diagnóstico do vírus e de combate ao Aedes aegypti formam o último braço da campanha nacional.

O governo quer investir nos estudos sobre o zika e a microcefalia. Hoje, há vacinas em fase de teste para proteger da dengue, mas ainda não há registro de estudos sobre medicamentos que possam prevenir a chikungunya e o zika.

Casos de microcefalia cresceram de 150 por ano para mais de 1,2 em 11 meses

A guerra declarada contra o Aedes aegypti no país não tem como estopim apenas a dengue, a chikungunya e o zika. A comprovação de que a última doença estava associada com a microcefalia, no final de novembro, deu mais importância à batalha para eliminação do mosquito. No último boletim do governo federal, divulgado no final de novembro, só em 2015, o país registrou 1.248 casos suspeitos de microcefalia associada ao zika em 14 Estados. Em geral, por ano, cerca de om150 crianças são diagnosticadas com o problema em todo o Brasil. A descoberta da associação foi "uma situação inédita na pesquisa científica mundial", conforme o Instituto Evandro Chagas.

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A microcefalia é uma má-formação que pode afetar o desenvolvimento neurológico, psíquico e motor das crianças. Até então, era associada à ingestão de substâncias químicas, toxoplasmose e rubéola durante a gravidez. A condição faz com que o perímetro encefálico de um bebê meça 32 centímetros ou menos, o que significa que o cérebro não se desenvolveu corretamente.

- O vírus ultrapassa a barreira da placenta, principalmente no primeiro trimestre, e infecta o bebê. Isso influencia no tamanho da cabeça, e o cérebro não se desenvolve como deveria - explica Marilina Bercini, diretora do Centro de Vigilância em Saúde no RS.

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As sequelas da microcefalia variam de criança para criança,  assim como a expectativa de vida, conforme Marilina. Ela exemplifica que algumas podem ter deficiências cognitivas, e, outras, dificuldades para caminhar.

- O estímulo é muito importante no desenvolvimento, por isso a importância do diagnóstico precoce - completa a diretora.

Devido à associação do zika com a microcefalia, a prevenção ao vírus passou a ser essencial às mulheres em idade fértil ou gestantes. O cuidado é importante porque não há forma de impedir a microcefalia caso a grávida já tenha se infectado.

Mães criaram grupo para apoiar outras famílias

Depois do aumento significativo do número de crianças com microcefalia, um grupo de mães resolveu criar a campanha "Eu Amo Alguém com Microcefalia" no Facebook. Segundo Lucélia Freitas, mãe de Crystian, de 13 anos, que tem microcefalia, "as pessoas passaram a falar como se fosse contagiosa, de forma depreciativa, sem saber do que se trata, e isso magoa". Por isso, a ideia é divulgar informações sobre a máformação e dar apoio às famílias. Sem falar ou caminhar, o laço de Crystian com a família é feito de expressões corporais, o suficiente para ser compreendido:

- Ele, o seu sorriso, a alegria, me dão força para continuar. Ele só gosta de música boa, curte Marisa Monte, Caetano Veloso, e se sente confortável ouvindo o que gosta - disse Lucélia, que mora no Distrito Federal.

Com agências


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