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Questionário com crianças no Facebook estimula diálogo, mas especialistas fazem ressalvas

Publicar informações sobre os filhos nas redes sociais pode colocar sua segurança em risco

05/07/2016 - 16h10min

Atualizada em: 27/10/2016 - 21h51min


"Pergunte ao seu filho estas perguntas e poste suas respostas – não trapaceie, poste exatamente o que eles dizem!"

Diversão para familiares babões, o questionário que desafia pais e mães a publicarem a resposta de seus filhos a perguntas como "O que o papai mais gosta de fazer" virou comum nos feeds de notícias do Facebook. As declarações fofas das crianças são irresistíveis e geram dezenas de curtidas instantâneas.

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Mas após o promotor Promotor da Infância de Criciúma Mauro Canto da Silva levantar a questão de que a segurança das crianças e da família podem ser comprometidas com a exposição de respostas íntimas da criança, a "brincadeira" passou a ser questionada por quem achou que era apenas algo inocente.

– Eu fiz com meus dois filhos e deletei. Inclusive, comecei a deletar mais fotos dos meus filhos das redes sociais – revela Luciana Bottona, de 37 anos, que está entre as mães que se arrependeram de aderir à corrente.

Nas redes sociais, alertam os especialistas, todo cuidado é pouco. Fotos, localização, informações pessoais: é preciso pensar duas, três ou até mil vezes antes de jogar tudo na internet quando o assunto são as crianças. O questionário pode parecer que não revela nada demais, mas, nas mãos de criminosos, essas respostas são valiosas.

– Temos de tomar cuidado para não fazer um alarde. O pânico não é saudável, nem para os pais nem para as crianças, mas não se pode menosprezar a vulnerabilidade que se abre com esse tipo de situação, quando os pais voluntariamente tornam públicas características de seus filhos – alerta Rodrigo Nejm, diretor de Prevenção da SaferNet.

O especialista explica que criminosos buscam exatamente essas informações reveladas pelas perguntas do questionário para se aproximar de crianças e tentar formar vínculos: "Ah, o seu pai também gosta de fazer isso?" ou então "Eu também gosto de assistir a esse programa".

Além disso, após publicado, perde-se o controle sobre quem visualiza o conteúdo, independentemente do quanto se acha que está em controle da sua privacidade.

– Alguns dizem: "Ah, mas não se tem informações sensíveis". Mas pegando o nome da criança, do pai, a idade, e o que elas gostam de fazer, já se tem muita coisa. E é exatamente isso que um criminoso sexual tenta descobrir para fazer aliciamento. O que parece bobo, na mão de criminosos é valioso. Ele pode usar essas informações como tentativas de aproximação para convencer a criança que eles são parecidos, pensam da mesma forma – explica.

Nejm também deixa a pergunta: será que o questionário foi feito com boas intenções? Com centenas de milhares de respostas publicadas, aumentam as chances de tirar vantagens dos desavisados. Mas, assim como alguns pais estão sugerindo nas redes sociais, o questionário pode ser feito com a criança como um momento de descontração, e não é preciso publicá-lo no Facebook.

Perguntar sobre o cotidiano e fazer a criança se expressar é sempre positivo, como revela Adriana Rocco, psicóloga clinica e autora do livro Dicionário Psicológico Para Crianças. Mas expor respostas íntimas e que o pequeno não sabe que estarão sendo publicadas pode implicar em problemas futuros, não só com criminosos.

– Os pais querem mostrar o quanto são amados e seus filhos são queridos com esse questionário, mas pode abrir vulnerabilidades. Um colega ou alguém que a criança não queira que veja pode ver e usar essas respostas depois em brincadeiras – avalia.

De acordo com Adriana, as perguntas propostas pelo questionário são boas oportunidades para ver o que a criança pensa e para ela externar seus pensamentos.

– Sou a favor de criança conversar e ser perguntada pelos pais. Não se deve reprimir o que elas respondem e, se algo fugir do padrão, como uma resposta muito agressiva, mesmo que a criança seja birrenta, deve-se averiguar, prestar atenção, mas sempre com conversa – diz.

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