Traumas da infidelidade
Cresce a quantidade de mulheres que traem, diz especialista
Estudioso do tema, Donald Baucom participou de seminário na Capital
Terapeutas consideram a infidelidade conjugal um dos assuntos mais difíceis de tratar quando o tema é relacionamento. Imersas na nebulosidade de apreciações negativas, morais e religiosas, relações extraconjugais ocorrem com frequência e podem despertar traumas psicológicos.
Especialista e estudioso do tema da infidelidade, o psicólogo americano Donald Baucom esteve recentemente em Porto Alegre para participar de seminário sobre psicoterapia familiar, organizado pelo Instituto da Família de Porto Alegre e pelo Centro de Terapias Cognitivas do Rio Grande do Sul. Em estudos, ele revela o aspecto traumático da traição, cujo desvelamento abala as bases emocionais do parceiro.
Coautor de dois livros recentes sobre o tema, Baucom conduziu junto a colegas uma das poucas investigações empíricas de tratamento para a infidelidade. Com isso e pelas contribuições no campo da pesquisa, ganhou prêmios de ensino e passou a ocupar lugar de honra na Universidade da Carolina do Norte (EUA).
Em entrevista a Zero Hora, por telefone, ele apontou dados dos Estados Unidos, onde cerca de 20% dos homens têm relação extraconjugal, enquanto de 10% a 12 % das mulheres fazem o mesmo - embora elas estejam traindo cada vez mais, e eles, menos. Ele explicou que a traição representa uma das maiores fontes de trauma em um relacionamento, mas ressaltou que há outra questão que também costuma ser muito traumática - e comparada a uma traição: quando um dos dois joga fora o dinheiro do casal.
Baucom também falou sobre o perdão e relatou que muitos se equivocam no sentido da palavra.
- Dizem que perdoam, mas na verdade não conseguem esquecer. A ideia de perdão deveria considerar que a pessoa esqueça. Mas acho que perdoar, em um caso real, significa inspirar-se no que aconteceu e pensar em como mudar a relação e não continuar a punição - pondera.
Na entrevista concedida a ZH, o estudioso também falou sobre as motivações e consequências da traição. Confira nesta página trechos da conversa.
ENTREVISTA: Donald Baucom Psicólogo
Zero Hora - Por que os homens têm mais necessidade de trair do que as mulheres?
Baucom - É parte de uma questão cultural. Mas as diferenças estão se tornando menores. Há um fato novo e uma questão importante: os homens estão deixando de fazer isso e é crescente a quantidade de mulheres que está adotando o comportamento de traição. Uma das razões para isso é que elas estão trabalhando fora, e o convívio com outros homens proporciona mais oportunidades à mulher.
ZH - A internet e as redes sociais facilitam essa conduta?
Baucom - Sim, com a internet, está mais fácil para as pessoas terem relações extraconjugais. Nesses casos as pessoas se expõem de forma artificial. Quando as relações pessoais não vão muito bem, elas buscam outras relações artificias. Às vezes, a traição fica só na rede.
ZH - Por que a infidelidade conjugal é considerada pelos terapeutas um dos assuntos mais difíceis de tratar?
Baucom - A razão principal é o alto nível de emoções em uma situação como esta. Raiva, hostilidade, frustação, os sentimentos e os comportamentos se alteram muito, e o casal costuma fazer uma série de coisas um contra o outro. No caso de continuar junto, nem sempre a terapia funciona bem.