Pais e filhos
Quer ajudar seu filho a ir melhor na escola? Estimule-o a brincar e praticar esportes
O incentivo ao movimento dos pequenos faz com que diferentes habilidades sejam desenvolvidas, impactando inclusive no desempenho escolar
Você já pensou que incentivar seu filho a movimentar-se desde bebê pode torná-lo um adulto com melhor capacidade de pensar e agir em sociedade? Pesquisas mostram que as habilidades motoras desenvolvidas desde bem cedo são fundamentais para que desafios mais complexos – como a leitura e a matemática – sejam alcançados. E, com cada vez mais celulares nas mãos das crianças, é preciso redobrar a atenção: o desperdício dessas oportunidades pode limitar o potencial de uma pessoa, conforme o professor Rodrigo Flores Sartori, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS. Ele é também doutor em Ciências do Movimento Humano e um dos pesquisadores que trabalha com esse tema no Rio Grande do Sul.
Sartori explica que a importância do movimento no desenvolvimento infantil reside no fato de que a capacidade de aprender ocorre a partir da forma como o bebê se move e se relaciona com o mundo, utilizando-se do movimento. É a maneira como ele experimenta a sensação de frio ao manipular uma pedra de gelo, por exemplo, que vai condicioná-lo a entender aquela sensação e definir até que ponto aquilo faz bem ou não para ele, se é bom ou ruim. É sendo desafiado a engatinhar em uma superfície inclinada ou com degraus que vai percebendo que existem diferenças de esforço a serem aplicados, conforme o local onde ele está, e criando as suas estratégias para superar os desafios.
– Recentemente, produzimos um estudo que apontou que essa interação impacta nos processos de aprendizagem e em uma série de aspectos do desenvolvimento infantil. Especificamente, percebemos que existe uma relação entre o desempenho das habilidades motoras e funções cognitivas (de aquisição de conhecimento) importantes para o sucesso dos alunos na escola – comenta o professor.
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Assim, torna-se crucial estimular os pequenos a se mexerem – especialmente diante dos desafios impostos pelo avanço da tecnologia. É cada vez mais comum encontrarmos crianças hipnotizadas pelos seus celulares e tablets, o que acaba influenciando, junto a fatores como a falta de segurança nas ruas e a rotina corrida dos pais, na redução de atividade física e no sedentarismo dessa faixa etária. A preocupação é tão grande que, no ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou uma orientação restringindo o uso recreativo de telas (celulares, tablets e afins) para crianças menores de um ano de idade: elas não devem ser expostas a nenhuma tela, nessa idade. Para a Sociedade Brasileira de Pediatria, a recomendação é a mesma, porém, para crianças até dois anos de idade.
Em casa, em vez de deixar o bebê mexer no celular, que tal oferecer para ele uma bola ou um móbile? Ou brincar de mímica? O estímulo ao movimento em uma brincadeira ou jogo incentiva a criança a tomar decisões e planejar estratégias para aprender movimentos, por exemplo. Isso, explica Sartori, vai criando nela um potencial para aplicar formas de raciocínio parecidas em outras áreas, como a matemática. Ele complementa:
– Habilidades motoras finas, como recortar, brincar de bolinha de gude ou com massinhas de modelar, estão relacionadas positivamente com a escrita do nome, com as formas de expressão escrita e com a matemática. Tais atividades motoras podem fornecer às crianças oportunidade de praticar o mapeamento daquilo que veem para utilizar em ações como desenhar letras com marcadores, adaptar os movimentos ao giz de cera ou lápis, desenvolver a capacidade de contar objetos ou mesmo na habilidade de selecionar objetos em um conjunto.
Em um próximo passo, a partir do crescimento da criança, o incentivo a que ela pratique esportes também segue beneficiando sua capacidade de pensar – além, obviamente, de melhorar suas aptidões físicas.
– Da mesma forma como ocorre em determinadas brincadeiras, no esporte, podemos ser desafiados com situações de tomada de decisão a partir da imprevisibilidade do jogo. Existe a necessidade, ainda, de um controle adaptativo para atender às novas demandas das diferentes situações que vivemos em cada situação de jogo. Nesse sentido, as características presentes no futebol, no tênis e no basquete, por exemplo, exigem que “descubramos o que fazer” por conta própria. Precisamos criar uma resposta diferente e tomar uma decisão diferente a cada momento do jogo. Essa capacidade leva à autonomia – define Sartori.
Outra área bastante influenciada pela prática de esportes é a das relações entre colegas. Aprende-se a lidar com o outro, a trabalhar em equipe, a respeitar os limites alheios. E, para a criança, se o incentivo vier de casa, maiores são as chances de ela se beneficiar de todas os aspectos envolvidos nessa aprendizagem.
– O papel da família e dos educadores é proporcionar um ambiente favorável a que a crianças se relacionem com outras crianças e com adultos e possam explorar materiais e atividades significativas para elas. E é preciso que o processo seja contínuo, e não ocasional. As crianças devem ser percebidas como os verdadeiros protagonistas da sua aprendizagem, na vivência ativa com outras pessoas e materiais, possibilitando, através do movimento, um mundo de descobertas pessoais – finaliza o professor.