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Ensino público

Escola funciona no porão de paróquia em Capela de Santana, no Vale do Caí

Única instituição pública para alunos de Ensino Médio não tem quadra para Educação Física, biblioteca, refeitório nem laboratórios

27/09/2022 - 21h40min

Atualizada em: 28/09/2022 - 09h35min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Camila Hermes / Agencia RBS

Os 503 alunos do Ensino Fundamental e Médio do Instituto Estadual Manoel Almeida Ramos, em Capela de Santana, município de 12 mil habitantes do Vale do Caí, estudam em um local improvável: no porão da paróquia, alugado da congregação católica local pelo governo do Estado. 

Na única escola pública para estudantes de Ensino Médio da cidade, não há biblioteca, laboratório, sala de informática, refeitório nem pátio. Paredes de tijolo aparente foram pintadas de branco, mas em muitas o mofo atravessa a tintura. 

Sem espaço para exercícios, as aulas de Educação Física acontecem dentro da sala de aula ou na entrada da escola, com jogos de tabuleiro, pebolim (popularmente chamado de Fla-Flu) e vôlei com as mesas dos estudantes.

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Alunos já se acostumaram à estrutura precária, mas não deixam de expressar certa insatisfação. Aluna do 8º ano, Kauany da Rosa, 15 anos, sente falta de um espaço diferente para se alimentar. 

— Na minha outra escola, a gente comia em refeitório. Aqui, é na sala de aula — conta a jovem, vestida de prenda para o mês de setembro.

O aluguel do salão paroquial é pago pela Secretaria Estadual da Educação do Rio Grande do Sul (Seduc) – conforme a escola, são R$ 6,8 mil mensais. O espaço é usado há sete anos, mas há quase uma década a comunidade teve o prédio original condenado após um incêndio e aguarda um local próprio para chamar de seu. A instituição existe há 83 anos.

Alunos já usaram salas emprestadas de uma escola agrícola, e as aulas já foram no ginásio da paróquia – sem qualquer divisória entre turmas. Pais se mostram insatisfeitos, mas precisam levar os filhos ao local, uma vez que escolas estaduais para Ensino Médio mais próximas ficam em outros municípios.

— Não é o que eu gostaria nem o que nenhuma mãe gostaria. A gente gostaria que os filhos estudassem em uma escola como qualquer outra. Aqui tem ar-condicionado, tem alguma estrutura, mas não deixa de ser uma escola em um porão. No inverno é muito frio e no verão é muito quente. Minha filha fica com a rinite atacada — afirma Ana Lúcia Ramos, professora de História e mãe de uma aluna. 

Como uma casa alugada que não pode ser alterada demais, divisórias provisórias de MDF no saguão tentam conceder privacidade à sala de orientação, dos professores e da diretoria. A “biblioteca” é apenas uma estante com livros, à frente da qual há mesas com dezenas de livros didáticos empilhados e um depósito com cadeiras, mesas e outros objetos amontoados. Não há onde sentar para ler ou estudar. 

Professoras reclamam dos empecilhos de dar aula em um porão: falta luz do sol, as paredes mofadas vertem cheiro de umidade em dias chuvosos e os ambientes têm pouco isolamento térmico. 

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Denise Cappelari é professora de História e Sociologia na Almeida Ramos e também em uma escola privada no município de Campo Bom. Ela destaca a diferença de estrutura para alunos da rede estadual e particular:

— Na escola privada, tenho um mapa grande na parede. Aqui, tenho mapa, mas não tenho onde montar. São dois mundos completamente diferentes, mas as crianças têm o mesmo potencial. O porão de um lugar não é espaço para ter aula.

O diretor da Almeida Ramos, Laércio Lancellotti, articula formas de melhorar o dia a dia dos estudantes: comprou mesas e cadeiras novas, jogos de tabuleiro e mesas de Fla-Flu, expõe cartazes com trabalhos escolares nas paredes. Mas sente que chegou ao limite do possível para investir em um prédio alugado.

— Agora tem o novo Ensino Médio, mas a gente está na idade da pedra em infraestrutura. Temos móveis novos, a internet é boa, mas nossa realidade é: estamos num porão. Guardamos a placa da antiga escola. É algo simbólico, nossa esperança é levar para o novo prédio, quando chegar — diz o diretor. 

O que diz o governo do Estado

A provisoriedade da escola abrigada no porão de uma paróquia deve perdurar por mais alguns anos. A Seduc informou que o contrato de aluguel do Salão Paroquial, onde são as aulas, foi renovado por mais cinco anos – se o atual aluguel de R$ 6,8 mil não for reajustado, serão R$ 408 mil desembolsados. 

O governo do Estado afirma que deu um primeiro passo para construir um prédio próprio para os alunos. “Neste momento, o processo para construção de um prédio novo para abrigar a instituição de ensino encontra-se em fase de preparação de documentação para licitação da contratação de projetos técnicos”, disse, em nota. 


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