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Piquetchê do DG

Do ginásio do colégio ao palco principal do Enart: conheça a história do DTG Poncho Verde

Invernada artística de Panambi que venceu a principal modalidade nas Danças Tradicionais começou a partir de um projeto escolar 

04/12/2023 - 17h45min

Atualizada em: 04/12/2023 - 17h59min


Caroline Tidra
Caroline Tidra
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O final de semana foi de festa no Departamento de Tradições Gaúchas (DTG) Poncho Verde, em Panambi, no noroeste do Estado. Em comemoração ao título de campeão das Danças Tradicionais Força A, principal modalidade do Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart), os Taurianos – nome da invernada artística adulta – saíram pelas ruas da cidade em carreata no sábado. Em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros, integrantes festejaram ao som das músicas que foram apresentadas no tablado do evento. 

Não imaginávamos estar vivendo tudo isso – disse, emocionado, o coordenador do grupo, Acácio Ivan Penedo, 51 anos. 

Para levar o troféu pela primeira vez, o DTG fez referência na coreografia aos homens de preto, os tropeiros, que levavam os bois para o abate. E, além do prêmio principal, o Poncho Verde recebeu o troféu de destaque do ano e ficou em primeiro lugar na melhor coreografia de entrada e na de saída, melhor conjunto musical de invernada e levou o troféu de grupo de danças mais popular.

O grupo emocionou o público na arquibancada e ouviu o coro de “é campeão” horas antes do anúncio da vitória.

– Foi o momento que mais nos impactou, quando terminou a apresentação no domingo e o ginásio inteiro estava aplaudindo – recorda o coordenador.

No Enart, a categoria de Danças Tradicionais é dividida em Forças A e B – cada série conta com 40 grupos. Entre sexta-feira (24) e sábado (25), os 40 apresentaram, metade – ou seja, 20 grupos – passou para a finalíssima que ocorreu domingo (26). O grupo é novo se comparado com outras entidades tradicionalistas multicampeãs. O Poncho Verde foi fundado em abril de 2010.

– Em 1998, tinha um projeto de dança na Escola Estadual Poncho Verde, entre outros projetos, como xadrez, canto, esportes. Começou com dança em pares e foi desenvolvendo. Depois, a iniciativa foi enviada para a Coordenadoria Regional de Educação, com objetivos, e um professor foi destinado para ser responsável por esse projeto – explica Penedo, que chegou na escola em 2005 para ser professor de Matemática.

Em 2011, ele foi convidado para coordenar o projeto em andamento. À época, a atividade contava com mais de cem integrantes. 

– Tinha alunos na pré-mirim, mirim e juvenil. Com o tempo, esse pessoal começou a se formar e não podia mais dançar. Mas, iam nos ensaios e pediam para participar. Foi aí que surgiu a ideia da criação do DTG. Após a filiação ao MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho), pessoas de fora da escola puderam dançar – detalha o professor.

Trajetória até a vitória

Depois de conquistar o título na Força B, em 2015, o grupo pode se apresentar no palco da Força A. Mas, a primeira vez, em 2016, não foi bem sucedida e o grupo não dançou na finalíssima, que ocorre no domingo. Os anos seguintes contaram com esforço e planejamento.

– Em 2019, começamos a sair mais para eventos, investir mais em outras competições e fizemos um ótimo Enart. Porém, fomos desclassificados por causa de uma parte na apresentação. Isso foi um momento muito difícil, mas, ao mesmo tempo, fortaleceu o grupo. Ganhamos alguns eventos depois. No Sarau (Sarau de Artes Gaúchas do CTG M’Bororé, de Campo Bom), deste ano, ganhamos e pensamos que podíamos sonhar mais alto – conta o coordenador. 

Para ele essa vitória é resultado de uma soma de fatores, sendo o principal a continuidade de um trabalho: 

– Estamos com o mesmo professor desde 2015, quando fomos campeões da Força B. Temos vários integrantes que dançam desde 2008. Começamos a ter uma conexão por nos conhecermos. Temos pessoas de Ijuí, Júlio de Castilhos, Três Passos, Santa Maria. A organização também é um fator importante, como saímos de uma escola frisamos bastante a necessidade da disciplina e do planejamento.

Espaço para os ensaios

Entre as dificuldades enfrentadas pelo grupo estavam a questão de um espaço para ensaios e a disponibilidade dos integrantes que moram em outras cidades. 

– Nossos ensaios ocorrem nos finais de semana. E também não tínhamos sede, ensaiávamos no ginásio da escola, com restrições para som alto. Quando ficava tarde, o ensaio continuava sem música – conta Penedo.

Em outubro deste ano, o DTG inaugurou sua sede e, agora, tem um ponto de referência. Para o coreógrafo Alex Balaka, criador da apresentação do Poncho Verde, uma palavra que descreve o grupo é humildade

Trabalhar com eles é muito bom, a energia e atmosfera deles é alegre. Isso colabora para o crescimento do Poncho. Foi o primeiro ano que o grupo estreou na sua sede – disse Balaka, destacando que o DTG é o primeiro a vencer na Força A e na B e possuir os dois títulos. 

– Nós, do interior do Estado, um grupo novo, sem muito recurso, sem estrutura, não pensamos que iríamos competir de igual para igual com CTGs como Rancho da Saudade, Aldeia dos Anjos, Tiarayú, Piá do Sul. Estamos muito felizes com essa conquista – conclui Penedo.

Ouça a entrevista com Acácio Penedo na Rádio Gáucha:



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