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Fé e literatura

"Eu sabia que o Senhor tinha um plano pra mim", diz o Padre Marcelo Rossi, sobre novo livro

Obra do religioso foi escrita após ele ser empurrado do palco, durante uma missa, em 2019

08/11/2020 - 14h43min

Atualizada em: 09/11/2020 - 11h04min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
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Divulgação / Divulgação
Religioso escreveu a obra após ser empurrado do palco, em 2019

Um dos padres mais populares do país, com mais de 30 milhões de discos e livros vendidos, Marcelo Rossi tem passado por algumas provações em sua vida. Em 2013, assumiu publicamente que sofria de depressão e levantou a discussão sobre o tema, já que é uma das vozes religiosas mais ouvidas no país. Seis anos depois, em 2019, foi empurrado do palco, de uma altura de dois metros, enquanto celebrava uma missa no interior de São Paulo. 

Se a depressão fez o padre lançar discos e novas músicas ao longo dos anos, desta vez, não seria diferente. Após o acidente, resiliente, ele sentiu necessidade de escrever sobre perdão e lança, agora, seu novo livro, Batismo de Fogo (Editora Planeta, R$ 25, preço médio). Na obra, ele apresenta reflexões sobre o que define como o momento mais difícil de sua vida, se propõe a ajudar o leitor a superar desafios do dia a dia e reflete sobre os tempos de distanciamento social. 

Nesta entrevista exclusiva, o religioso fala sobre todos esses temas e ainda dá uma aula sobre o ato de perdoar. 

Momentos de tensão e dor

A dor que sentia naquele momento era a mais forte que já havia tido em toda a minha vida. Tão forte que não conseguia pensar racionalmente em mais nada. Segundos antes, eu estava no palco, celebrando a missa para mais de cem mil jovens e, agora, no chão, tudo o que ocupava a minha mente era a dor. Terrível a ponto de eu não conseguir sequer determinar de onde ela partia em meu corpo. Já tinha passado por sensação de morte iminente, mas esse não era o caso”.

É com esse relato que o padre Marcelo Rossi, 53 anos, começa seu novo livro, Batismo de Fogo, lançado em setembro. Nele, o religioso conta suas histórias de superação pela fé e abre uma espécie de baú da infância e adolescência, com fotos e algumas histórias. O gatilho para a escrita da nova narrativa foi o acidente ocorrido em julho do 2019, quando foi empurrado do palco por uma mulher quando celebrava uma missa especial em Cachoeira Paulista, cidade do interior de São Paulo.

Em um dos capítulos do novo livro, batizado de O Mal Está à Espreita, o religioso fala sobre a pandemia de covid-19. Ele alerta que esse é um momento de reflexão. Em entrevista ao portal G1, em outubro, ele afirmou:

Divulgação / Editora Planeta

- É um novo nascimento para todos nós. A pandemia é o nosso batismo de fogo. 

No mesmo capítulo, o sacerdote retoma um assunto que chamou a atenção do país em 2013: a depressão, mal de que admitiu sofrer. Na época, ele ainda teve anorexia (distúrbio alimentar). Segundo o padre, os problemas foram decorrentes da fama. 

- Foi minha pior fase. De 80 e poucos quilos, cheguei a uns 130. Depois, comecei a perder peso. Fiz uma dieta maluca, comendo alface e hambúrguer. Aí, tomei um susto. Fui ficando a cada dia mais magro. Mas não me via assim - relembra. 


Superação

Na época, como agora, afirmava que, para superar a depressão - que ele chama de “mal do milênio” -, amparou-se na música, nas orações e nos exercícios físicos. Hoje, se mostra até surpreso com tudo o que enfrentou em sete anos:

- Nossa, como voa o tempo. Quando falei pela primeira vez que estava com depressão, ouvi muitas pessoas falando: “Como pode um padre, um homem de fé, cair numa depressão assim?”. Eu respondo: foi, justamente, a fé que me salvou. Foi uma experiência linda. Expor minha fraqueza ajudou as pessoas a chegarem até mim. Todos somos humanos, cada um sabe de onde vem a sua força. 

"Neste livro, eu abri meu coração"

Nesta entrevista exclusiva ao DG, Marcelo Rossi fala sobre o sentimento de lançar um novo livro durante a pandemia e relembra momentos marcantes.

Como foi a experiência de lançar Batismo de Fogo em meio à pandemia de coronavírus?

O livro estava pronto antes de tudo acontecer. Alterei pouca coisa para o lançamento. Queria ter lançado um ano depois do acidente (que ocorreu em julho de 2019). Decidimos esperar, foi uma providência divina, pois acho que o tema do livro tem tudo a ver com o que estamos passando. Neste livro, eu abri o meu coração, procurei ser o mais coração possível. 

O que passava pela sua cabeça enquanto escrevia o livro?

Eu sabia que o Senhor tinha um plano para mim. Tanto é que, depois do acidente, lancei canções, como Jesus Te Deu Uma Mãe e com o Gusttavo Lima (Maria Passa à Frente), entre outras, que integram meu EP (lançado em 2019). Depois, vi que tudo o que eu estava passando era um quebra-cabeças para tocar as pessoas sobre o que eu estava escrevendo. Sobre um tema que está sendo mais falado atualmente, por exemplo, o suicídio. Estamos vivendo uma realidade muito forte no mundo, temos visto um aumento nos casos de suicídios. E muitos casos são evitáveis, assim como a depressão. Podemos vencer a depressão e o suicídio. Se você parar para pensar, vai trabalhando tantos pensamentos negativos que eles acabam te atrapalhando. Somos chamados a fazer a diferença, vivemos no mundo da aparência. Se você começar a conversar com Deus, vai vencer tudo isso. Não fiz nada, sou apenas um instrumento de Deus. Quem faz a obra é o Senhor. Isso ajuda a te colocar em um bom lugar. 

Depois do acidente, o senhor voltou ao altar e rezou a missa. Muitas pessoas questionaram o fato de não ter registrado um boletim de ocorrência contra a mulher que o empurrou. Como vê isso?

Digo uma coisa para você: a boca fala o que o coração sente. Tenho isso de maneira muito forte. Quando eu levantei, a primeira força que tive foi a de enxergar a importância do perdão. Por tantas coisas bobas, vemos as pessoas brigando. Então, não penso mais se aquilo foi atentado ou não, virei a página. Mas, claro, confesso a você que tenho tido mais cuidado durante as missas. Mas Deus foi maravilhoso. 

Ainda lembra o que sentiu naquele momento? 

Nunca senti uma dor como naquele dia. Demorei 10 minutos para me levantar. As pessoas achavam que eu estava desmaiado. Em 53 anos de vida, nunca tive uma dor como essa. Já quebrei duas vezes a perna, então, eu já sei como é a dor de quebrar alguma coisa. Se você olhar com calma o vídeo, eu parecia um boneco. Eu fui lançado, não sabia, fui pego totalmente de surpresa. Uma coisa impressionante era a força que ela tinha. 

A tendência é seus ossos ficarem mais frágeis com o avanço da idade. De fato, Maria passou à frente e pisou na cabeça da serpente. Quando eu subi no altar, eu estava com a Bíblia na mão. Primeiro, nem sabia quem tinha sido, mas eu dei o perdão. Minha perna ralou inteira, mas eu voltei para o altar sorrindo como eu nunca tinha sorrido antes, o Senhor me disse para fazer isso. Coitado do músico que estava do meu lado, o Dunga. Eu o abraçava, mas, às vezes, vinham aqueles espasmos da dor, devo ter enforcado muito o Dunga (risos). 


O senhor já vendeu mais de 18 milhões de discos e mais de 16 milhões de livros. Que mensagem espera transmitir para as pessoas? 

Tento ser o mais eu possível. Quero falar com as pessoas, quero melhorar a cada dia, quero que as pessoas entendam que o cara é Deus. A fé é o caminho da superação, buscando melhorar o amanhã.http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2015/10/biografia-de-padre-marcelo-rossi-fala-de-namorada-antes-de-ordenacao-4865502.html


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