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Como as locadoras de vídeo tentam se reinventar para sobreviver

Há dois anos, não são solicitadas novas licenças para estabelecimentos que alugam filmes na Capital. O setor vive crise por vários motivos. Um deles é a pirataria

18/05/2015 - 07h03min

Atualizada em: 18/05/2015 - 07h03min


Rosângela Monteiro
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Luiz Armando Vaz / Agencia RBS
João Jacob Bettani ainda gosta de frequentar videolocadoras

Sucesso nas décadas de 1990 e 2000, as videolocadoras estão cada vez mais escassas. Um levantamento da Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) comprova a crise no setor: nenhuma nova licença para videolocadora é fornecida em Porto Alegre desde 2013.

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Os 102 estabelecimentos que estão abertos - o número deve ser bem menor, pois há locais que não exercem mais a atividade, mas que não informaram à Smic - apostam em filmes diferenciados, como produções europeias, e em outros serviços agregados.

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Como a loja da Sônia Barros, 44 anos, a Companhia Vídeo, na Região Central da Capital há quase 20 anos. Ela diminuiu o espaço dos filmes e montou um café no lugar. Sônia conta que, de cinco anos para cá, o número de locação de cópias de DVDs caiu 60%. Dos quatro funcionários que chegou a ter nos bons tempos, só sobraram dois.

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- É uma queda livre, mas ainda não estou à beira do abismo. Porém, sei que vai chegar este momento. Por enquanto, vou investindo no café, vendendo filmes também, fazendo promoções de locação e alugando jogos para o (videogame) Play 3 - explica Sônia.

Ela conta que outras duas videolocadoras nas proximidades da sua vão fechar as portas em breve, mas ela planeja manter as suas abertas por um bom tempo:

- Para compensar o que tenho perdido com as locações e, futuramente, se a videolocadora tiver que fechar, já tenho este outro negócio em andamento, o café. A locadora ainda se mantém, mas nem se compara há dois anos...

Bugigangas

Tesoureiro da Associação Gaúcha de Videolocadoras (Agavideo), a única associação que reúne os donos de videolocadoras no Rio Grande do Sul, Régis Reginato Russkowiski tem a VideoCenter, em Santo Ângelo, na Região das Missões. É outro que reclama da falta de interesse no aluguel de DVDs:

- Alugava 600 filmes num sábado. Hoje, são cem. A cada ano, cai o movimento de 20% a 30%. Então, eu vou apelando, vendendo capinha de celular, pilhas, caneta, mouse. Dá um resultado, mas é pouco.

Conforme a percepção dele e dos outros associados, a queda na procura deve-se a vários fatores.

- Muita gente tem gato da tevê a cabo, Netflix ou baixa os filmes direto na internet mesmo - comenta Régis.

Os motivos para a decadência das videolocadoras são muitos. As pessoas ouvidas pela reportagem do Diário apontam a pirataria, o baixamento de filmes direto na internet, serviços como Netflix e de locação direto nas tevês a cabo, além da própria programação da tevê paga, que tem vários canais de filmes.

Prestes a fechar as portas

O perfil de quem ainda busca filmes para alugar é variado: gente que não sabe baixar na internet, não gosta de pirataria, curte uma dica sobre as novidades cinematográficas ou quer o título que estava em cartaz há pouco no cinema porque ele demora um pouco para chegar na tevê a cabo.

Apaixonado por histórias de aventura e dono de uma coleção com mais de 200 títulos, o engenheiro João Jacob Bettani é um destes casos. Ele gosta de frequentar videolocadoras para pegar dicas e estava fazendo a festa na Vivi Vídeo, na Avenida Goethe, na tarde em que a reportagem esteve lá:

- Vim aproveitar. Vou levar dez filmes!

O local é um dos que não resistiu à baixa procura e, depois de 29 anos, vai fechar as portas em agosto. A Vivi Vídeo tinha um acervo de 24 mil DVDs e VHS. Ainda restam mais de 22 mil para a venda.

- O movimento diminuiu muito nos últimos cinco anos. A loja está negativa há tempos e não tem mais como manter - justifica Leonardo Severo, 55 anos, um dos dois funcionários da locadora que, na década de 1990, auge do VHS, chegou a ter 12 trabalhadores dando dicas sobre filmes e auxiliando os clientes.

- Vem um monte de gente na locadora e diz: "Vi este filme para alugar na tevê" - comenta Leonardo, que trabalha há 20 anos na Vivi e vê com tristeza o fim do lugar.

A maioria do acervo à venda é de VHS, aquela fitinha que tinha que rebobinar para entregar na locadora, lembra? Se não fizesse, ainda tinha multa! Leonardo conta que elas viraram peças de colecionadores, mais ou menos, como ocorreu no interesse do pessoal por discos em vinil no lugar do moderno CD.

Tendência nacional

- Segundo a UBV (União Brasileira de Vídeo), havia quase 14 mil locadoras no Brasil entre 2003 e 2005. Em 2009, esse número caiu para 6 mil. Atualmente, são menos de 4 mil locadoras em todo o país. 
- Vale lembrar que baixar filmes da internet é crime. E a lei 10.695/03 (artigos 184 e 186) do Código Penal estabelece que a reprodução ou distribuição ilegal de músicas, vídeos, livros, obras de arte ou programas de computador, inclusive por meio da internet, para ter lucro, prevê pena de dois a quatro anos além de multa.

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