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Seu problema é nosso

Impasse entre família e prefeitura complica educação de menino autista em Porto Alegre

Franciele, mãe de Bernardo, afirma que aguarda uma vaga. Secretaria Municipal de Educação garante que ele já está matriculado

13/07/2017 - 08h19min

Atualizada em: 13/07/2017 - 11h04min


Franciele e Bernardo

Observando o olhar tranquilo de Bernardo Melo Blanco, quatro anos, talvez você não imagine por quais dificuldades ele passa. Diagnosticado com autismo há dois anos, o menino não fala nem interage com outras pessoas, caminha na ponta dos pés e apresenta traços de agressividade. Para auxiliar no seu desenvolvimento, é essencial que frequente a escola e seja estimulado.

Desde o início deste ano, a mãe, a dona de casa Franciele Ramão Melo, 22 anos, afirma que tem solicitado junto ao setor de ajustamento de vagas da Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Porto Alegre uma vaga para Bernardo na educação infantil. Em uma das ocasiões, foi informada de que quatro escolas tinham uma vaga, cada. Entretanto, quando ligaram e explicaram o caso de Bernardo, garante que nenhuma das instituições o aceitou como aluno.

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A justificativa, de acordo com Franciele, é de que ele precisa de cuidados especiais, para os quais as creches não estão preparadas.

Bernardo faz acompanhamento uma vez por semana, na Escola Municipal Especial Professor Luiz Francisco Lucena Borges. Em período de adaptação, ele recebe atendimento individual de uma professora. Contudo, tanto a profissional quanto o Conselho Tutelar já reforçaram com Franciele a necessidade de ele frequentar a escola diariamente e conviver com coleguinhas.

– Ele já poderia ter avançado na questão da interação, de controlar a raiva e brincar, se estivesse indo todos os dias à escola, como as outras crianças na idade dele. Se as instituições não podem recebê-lo, a Secretaria da Educação precisa providenciar um local especial ou um monitor. O que o Bernardo não pode é ficar sem estudar – diz Franciele.

Ajuda

O autismo é uma doença neurológica grave que prejudica a capacidade de comunicação e interação. Não há cura, mas quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais cedo as terapias podem melhorar o desenvolvimento do paciente.

Segundo Franciele, Bernardo está em uma fase de se expressar de forma enérgica e até violenta. Sem a escola, ela não sabe mais como ajudá-lo:

– Ele passa o dia gritando, correndo e mordendo. Eu falo muito, tento entender os olhares, mas não sei como agir ao certo.

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Vaga em escola está garantida, diz Smed

De acordo com a assessoria de imprensa da Smed, Bernardo recebeu vaga na Obra Social Imaculado Coração de Maria (Osicom 4), instituição conveniada à prefeitura, em 7 de junho. A secretaria garante que a matrícula foi feita pela própria mãe, mas que Bernardo não compareceu às aulas.

Posteriormente, a coordenadora da Osicom 4 fez contatos por telefone com a família, informando que aguardava o ingresso da criança.

Ontem, depois do contato feito pelo Diário Gaúcho, a Smed garantiu que a escola ligou novamente para a família e que o avô do pequeno declarou que "achava a instituição longe". O mesmo avô, procurado pela reportagem ontem, afirmou que os familiares não sabiam da existência de uma vaga para Bernardo na escola citada. A coordenação da Osicom 4 explica que registrou todas as ligações para a família.



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