Cachoeirinha
Projeto transforma áreas próximas a torres de alta tensão em hortas
Ação, feita em parceria com a CEEE, transforma locais que, antes, eram ponto de descarte de lixo
Com as botas pretas de galocha, a pele marcada do sol e mãos habilidosas, a auxiliar de cozinha aposentada Eva de Lourdes Freitas, 60 anos, circula pela sua horta, no bairro Granja Esperança, para apanhar um pé de alface. Seria mais um cena comum para quem cultiva alimentos, não fosse o local do canteiro: embaixo de torres de alta tensão que cruzam o município de Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Os terrenos, que antes eram ponto de descarte de lixo, agora, são usados por moradores da cidade como fonte de alimentos saudáveis e até de renda. A ação faz parte do Projeto Semear, parceria entre a prefeitura da cidade e a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).
– Sou integrante há mais de 10 anos, desde o início. Plantamos de tudo aqui: aipim, banana, batata, cebola, feijão, o que a terra der – conta Eva.
As frutas, verduras, legumes e demais alimentos que brotam do Projeto Semear não utilizam agrotóxicos. Segundo o coordenador da ação, Sidnei Borges dos Santos, essa é a única regra estabelecida para as cerca de 160 famílias que usam as áreas.
– Qualquer morador pode adotar uma área para o plantio, basta entrar em contato com a prefeitura – explica Sidnei, afirmando que os espaços têm tamanhos variados.
Pioneiro
Também integrante do Semear, o vigilante Orvídeo Gustavo, 54 anos, aproveitou a cessão de um terreno para fazer um cultivo pioneiro na cidade, o de arroz sequeiro. A diferença deste para o cereal comum é o uso da água. Enquanto o arroz comum é cultivado em canteiros que parecem grande lagos, o sequeiro depende só da água da chuva, explica Orvídeo:
– Era comum plantar onde me criei, em Cachoeira do Sul, no Interior do Estado. Quando trouxe a ideia para cá, acharam que não ia dar certo. Para a próxima safra, já vamos dobrar a quantidade plantada, que atualmente é de meio hectare.
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Servido, o arroz sequeiro fica "bem mais soltinho" que o comum, destaca o pioneiro desta cultura no Projeto Semear. O sentimento passado pelos participantes é de que eles fazem jus ao nome de um dos bairros que fazem parte da ação: tiram do solo que não tinha uso o alimento e a renda, criando uma granja de esperança.
*Produção: Alberi Neto
Feira será organizada pelos moradores
Para coroar o sucesso do projeto, foi criada, recentemente, a Associação dos Produtores Agrícolas de Cachoeirinha Parceiros do Projeto Semear. A ideia do grupo é integrar as famílias participantes e organizar uma feira em Cachoeirinha. Conforme o coordenador do Semear, o plano é que a primeira edição do evento ocorra dentro de três meses.
– Com a feira, vamos mostrar o projeto para mais pessoas e assim fazer ele crescer. Hoje, são 160 famílias participantes. Nossa ideia é dobrar este número em até dois anos – projeta Sidnei.
Vice-presidente da associação criada pelos agricultores, o técnico agrícola aposentado Edijair José explica que, além do plantio em bairros onde passam as torres de alta tensão – como Moradas do Bosque, Jardim do Bosque, Granja Esperança e Bom Princípio –, áreas verdes do Jardim Betânia também começarão a fazer parte do Projeto Semear.
Como participar
Moradores de Cachoeirinha interessados em adotar áreas para o cultivo de alimentos podem fazer isso de duas maneiras:
/// Ir até a Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Trabalho e Desenvolvimento Econômico, que fica prefeitura de Cachoeirinha (Avenida General Flores da Cunha, 2.209, bairro São Vicente de Paula).
/// Procurar o coordenador do Projeto Semear, Sidnei Borges dos Santos, no telefone (51) 99841-1868.