Notícias



Seu Problema é Nosso

No Estado, 740 bebês estão sem receber fórmula de leite especial

O produto é utilizado na alimentação das crianças com Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV)  e, em farmácias particulares, custa de R$ 170 a R$ 240

13/12/2018 - 10h10min


Tadeu Vilani / Agencia RBS
Mães se reuniram em frente ao Palácio Piratini, na Praça Marechal Deodoro, no Centro de Porto Alegre

Na manhã de ontem, mães e responsáveis por crianças com Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) se reuniram na frente do Palácio Piratini, na Praça Marechal Deodoro, no Centro de Porto Alegre. O grupo protestava devido à falta da fórmula Neocate LCP, que não está sendo entregue nas farmácias do Estado. O produto é utilizado na alimentação das crianças com APLV e, em farmácias particulares, custa de R$ 170 a R$ 240. 

 Leia mais     
Em Alvorada, obra parada incomoda na Praça Central
Educandário São João Batista faz campanha para não fechar as portas, na zona sul de Porto Alegre
Falta de leite especial assusta famílias de crianças alérgicas à proteína do leite de vaca, no Rio Grande do Sul

A mobilização foi organizada em redes sociais, principalmente pelo grupo APLV Porto Alegre e Região Metropolitana, no Facebook. Maria Margarete Rezende, 57 anos, administradora do grupo e técnica em enfermagem, está com esperança, após a manhã de ontem:

— Batemos latas, tocamos cornetas, fizemos de tudo um pouco. Acho que vamos ter um bom resultado com isso.

No Rio Grande do Sul, 740 pacientes estão cadastrados para receber a fórmula de aminoácidos livres (LCP), com um consumo mensal de 10.200 latas. No total, o Estado investe R$ 1,3 milhão na compra do leite destinado para crianças menores de um ano.

Além de procurar o Diário Gaúcho, as mães de crianças com APLV buscaram também a deputada estadual Luciana Genro (PSOL), que se reuniu com a primeira-dama Maria Helena Sartori, na terça-feira. A deputada federal eleita e vereadora de Porto Alegre Fernanda Melchionna (PSOL) também participou do encontro. 

Além dos parlamentares, cinco mães estavam na reunião. De acordo com a assessoria de comunicação de Luciana, Maria Helena acionou o secretário de Saúde do Estado, Francisco Paz, e a coordenadora adjunta da Coordenação de Política da Assistência Farmacêutica, Simone Pacheco do Amaral, que afirmaram que a compra deve ser concluída nos próximos dias e o leite especial Neocate deve estar nas farmácias do Estado na próxima segunda-feira. Por e-mail, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) confirmou para o Diário Gaúcho a informação. Na manhã de ontem, a SES informou que o problema estará resolvido na próxima semana.

Conheça o caso

Na segunda-feira passada, o Diário Gaúcho mostrou a história de três famílias que estão assustadas com a possibilidade de não receber os leites, comercializados com os nomes Neo Advance 400g, Neocate LCP 400g e Pregomin Pepti 400g. Na data da publicação, a SES informou que só se manifestaria durante o dia. O órgão afirmou que há uma nova compra do Neocate LCP e está em tramitação, enquanto os outros leites estão sendo atendidos de forma regular no Estado. Em março deste ano, o Diário Gaúcho acompanhou a história de bebês que sofriam com a falta do Neo Advance 400g, quando o governo gaúcho deixou de entregar o leite especial e prejudicou 375 crianças.

Mães têm usado leite especial vencido

No grupo APLV Porto Alegre e Região Metropolitana, no Facebook, mães relatam o uso de fórmulas que já passaram do prazo de validade, como alternativa diante da falta da entrega nas farmácias do Estado.

Falta desde outubro

Arquivo Pessoal / Leitor DG

A funcionária pública Claudiani Jaskulski, 34 anos, tem alimentado o filho Mateus, 11 meses, apenas com doações e compra do Neocate LCP. Entre as latas ganhas pela moradora de Camaquã, estão algumas fora da validade, que não são descartadas:

— Eu ganhei, então preciso aproveitar e dar para ele.

Até os cinco meses do filho, Claudiani seguiu uma dieta restrita (sem ingerir leite de vaca e derivados), quando precisou retornar ao trabalho e se alimentar fora de casa. Com dificuldade, resolveu desmamar o bebê, que começou a tomar o leite Pregomin Pepti. Ainda com reações, a mãe foi ao médico com o filho, em outubro, quando recebeu a receita para o Neocate LCP, com a quantia de 11 latas.

— Meu pedido para receber pelo Estado foi deferido em outubro. Mas, até hoje, o leite está em falta aqui e nunca recebi. A gente sobrevive com doações ou comprando — relata a mãe.

"Me doía ver minha filha daquele jeito"

Arquivo Pessoal / Leitor DG

Suelen Mozena, 28 anos, chegou a tratar a alergia da filha Alice Mozena da Silva, cinco meses, com o leite especial vencido. A doméstica largou o emprego para cuidar das filhas _ além da pequena, Luiza, três anos, e Maria Eduarda, 14 anos. Ela conta que, quando Alice tinha três meses, não conseguiu o leite junto à prefeitura de Alvorada e, sem novas doações, recorreu a latas vencidas que tinha em casa:

— Eu não tinha escolha. Me doía ver minha filha daquele jeito, chorando, mas é muito caro (o leite especial). Até descobrir o que era, passei pelos piores dias da minha vida. Ela sofria muito.

Na manhã de ontem, Suelen foi à Farmácia de Alvorada buscar o produto e retirou 12 latas.

— Quando peguei o leite, o pessoal da secretaria falou que irá faltar em breve, que talvez só em março a gente consiga retirar de novo — conta a mãe.

"Vencido é vencido"

A gastroenterologista pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre Cintia Steinhaus afirma que produtos vencidos não podem ser usados. Segundo ela, os elementos da fórmula podem causar reações:

— O leite deixa de ter seu aspecto normal. Não se sabe se as propriedades da fórmula irão cumprir o seu papel, então pode ser maléfico para o pequeno paciente.

Como exemplo, a médica cita iogurte, alimento comumente ingerido após a validade:

— As pessoas comem, mas morrendo de medo. Não pode. Vencido é vencido, não importa se foi ontem ou se já faz um ano, não interessa a data. Não tem como ter controle do que pode causar.

Alergias no Estado

/// No Rio Grande do Sul, estão cadastrados cerca de 3,8 mil pacientes que recebem fórmulas para intolerância e alergias alimentares. 

/// Mensalmente, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) investe R$ 3,2 milhões para aquisição desses produtos.

Produção: Eduarda Endler

 Leia outras notícias da seção Seu Problema é Nosso   



MAIS SOBRE

Últimas Notícias