Saúde
Cirurgia do SUS com maior tempo de espera em Porto Alegre demora mais de 670 dias
Rede pública da Capital tem gargalos em áreas como a cirurgia de redução do estômago. Em outras, demanda está zerada.
Uma cirurgia de obesidade mórbida exige até 676 dias de paciência para quem procura o Sistema Único de Saúde (SUS), em Porto Alegre. Já uma consulta na área de cardiologia é obtida em pouco mais de uma semana. Mensalmente, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) divulga os gargalos de consultas e operações de 156 especialidades médicas. O Diário Gaúcho teve acesso aos dados de novembro, último mês em que os número foram publicados. No total, 80.288 solicitações aguardavam o chamado para atendimento.
Esse número, no início de 2018, era maior, com 90.380 solicitações. A prefeitura comemora a redução de cerca de 12% em uma fila que ninguém vê, mas que causa angustia para milhares de pacientes.
O processo começa quando o morador procura o posto de saúde. É feita a consulta com clínico-geral e, quando necessário, se requisita o encaminhamento para um especialista. O caminho aparenta ser simples. Mas não é. O grande número de encaminhamentos, aliado ao quadro insuficiente de médicos, incha a fila.
Um exemplo é a cirurgia geral para adultos, especialidade com mais gente aguardando – são 7.852 pessoas. Para se ter ideia, em novembro, foram ofertadas 638 consultas para esta área, mas também entraram mais 545 pessoas na fila. Entre as operações que entram na cirurgia geral estão a retirada da vesícula e de hérnias.
Espera
No ranking do tempo de espera por atendimento, a especialidade campeã é a cirurgia da obesidade mórbida – a redução do estômago. Para o secretário adjunto da SMS, Natan Katz, a demora se deve à complexidade do procedimento.
– Essa operação exige um atendimento do paciente antes e depois da operação, por um longo tempo. É complexo. A oferta é pequena. Na contramão disso, as solicitações só aumentam – aponta Natan.
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Em novembro, foram ofertadas 14 primeiras consultas para cirurgia da obesidade mórbida. Mas 84 novos pacientes entraram na fila.
Quem espera pelo procedimento precisa de esperança. Em setembro de 2017, a recepcionista Bruna Guterres, 31 anos, foi encaminhada para uma cirurgia de redução do estômago. Com 1m53cm de altura e 148 quilos, ela tem o Índice de Massa Corporal (IMC) de 63,2, o que configura obesidade mórbida de grau III. Atualmente, mais de 450 dias depois, não tem nem perspectiva de ser chamada para o procedimento.
– É muito difícil conseguir essa operação pelo SUS. Mas quem sabe um dia sai – projeta Bruna.
Oferta
Conforme o secretário adjunto da SMS, outro problema é a ortopedia, dividida em várias áreas no ranking da prefeitura, como mão, ombro e joelho. Unidas, as filas desta especialidade somam quase 12 mil pessoas. E este é o principal alvo do órgão nos próximos dois anos.
– De 2017 a 2018, reduzimos o total de pacientes da ortopedia de 26 mil para 12 mil. É um avanço, mas ainda tem muita gente esperando. O objetivo é aumentar a oferta, buscando readequar diariamente vagas que podem ser remanejadas e reforçando a utilização do teleatendimento na rede básica – explica o secretário.
Para este ano, o objetivo é “diminuir muito” as filas da ortopedia e da cirurgia geral. Os efeitos serão sentidos a médio e longo prazo, segundo Natan. No Hospital Independência, por exemplo, houve aumento de 600 consultas em ortopedia ao mês em 2018. No Hospital da Restinga (HR), foram 390 consultas para cirurgia geral disponibilizadas a partir de novembro. E desde outubro, o HR oferece mais 260 consultas mensais em ortopedia e 180 consultas por mês em urologia.
– Essa nova oferta terá efeitos na fila ao longo de 2019 e 2020 – projeta Natan.
O tempo ideal
A prefeitura considera ideal que o atendimento de casos urgentes seja feito em até 30 dias – exceto oncologia, que deve ter atendimento imediato. No geral, a média considerada boa é de 90 dias. Nas 156 especialidades disponibilizadas pela SMS, 70 não têm fila de espera. Quanto ao tempo, para casos gerais, 75 especialidades têm média de espera inferior a 31 dias. Nos casos urgentes, 94 especialidades têm média inferior aos 31 dias.
– Temos demandas importantes, como cardiologia, com filas zeradas – diz Natan.
É possível conferir a lista no site da prefeitura.
Dor de quem espera
Moradora do bairro Santo Agostinho, Vitória Maria Machado Bender, 18 anos, vive entre idas e vindas na emergência do Hospital Conceição. Há três anos, ela sofre com dores abdominais. Em agosto, buscou ajuda no posto de saúde do seu bairro. Lá, foi indicada a fazer uma ecografia que o SUS não cobria. Pagou o exame do próprio bolso e recebeu o diagnóstico: pedras na vesícula. No mesmo mês, entrou na fila para a cirurgia geral.
– No posto de saúde, dizem que não tem previsão. Está cada vez mais insuportável a dor.
Sogra de Vitória, a diarista Mara Beatriz Justo, 60 anos, aguardou por oito meses para conseguir uma cirurgia no joelho esquerdo.
– Nesse tempo que a gente fica esperando por consultas, os problemas vão só aumentando – acredita ela.
Ranking
Maior tempo de espera (casos gerais)
/// Cirurgia da obesidade mórbida: 676 dias
/// Ortopedia adulto: 559 dias
/// Ortopedia joelho: 553 dias
/// Pneumologia apneia do sono: 552 dias
/// Neurologia demência: 544 dias
/// Neurocirurgia coluna adulto: 541 dias
/// Cirurgia vascular adulto: 470 dias
/// Reabilitação auditiva adulto: 455 dias
/// Ortopedia mão adulto: 450 dias
/// Ortopedia ombro: 438 dias
Menor tempo de espera (casos gerais)
/// Cardiologia, avaliação pré-transplante pediátrico: 1 dia
/// Pneumologia, avaliação pré-transplante do doador: 1 dia
/// Avaliação pré-transplante de rim/pâncreas: 1 dias
/// Pneumologia, fibrose cística pediátrica: 3 dias
/// Cardiologia, avaliação pré-transplante: 3 dias
/// Hematologia, avaliação pré-transplante adulto: 3 dias
/// Nefrologia, avaliação pré-transplante do doador: 3 dias
/// Cardiologia pediátrica: 4 dias
/// Nefrologia, avaliação pré-transplante adulto: 4 dias
/// Gastroenterologia, avaliação pré-transplante hepático do doador: 5 dias