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Hospital Centenário, em São Leopoldo, suspende atendimentos eletivos por 90 dias

A partir desta segunda-feira, apenas casos de urgência e emergências são atendidos no local

06/05/2019 - 18h24min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Júlio Cordeiro / Agencia RBS
78% das despesas da instituição são custeadas pela prefeitura

Nesta segunda-feira (6), pacientes depararam com a porta de entrada para atendimentos eletivos do Hospital Centenário, em São Leopoldo, fechada. Apenas a emergência seguia aberta. E, mesmo assim, nem todos os casos eram atendidos. 

O cenário que se formou na instituição é resultado de uma decisão da prefeitura. Depois de tentar aumentar os valores repassados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) e levar uma negativa do Estado, a administração municipal "precisou limitar o atendimento", conforme explica o secretário municipal da Saúde, Ricardo Brasil Charão. 

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– O Centenário não era 100% SUS e não se adequou, em 2013, para contar com a orçamentação do Estado. Mas, no ano passado, por meio de decreto, integralizamos o atendimento via SUS. Agora, estamos pedindo à SES-RS que aceite esta adequação e ajuste os repasses – explica Ricardo.

A prefeitura de São Leopoldo custeia 78% das despesas da instituição, que, atualmente, são de R$ 9 milhões mensais. O Hospital Centenário recebe cerca de R$ 250 mil do Estado e R$ 2,3 milhões da União. Segundo a prefeitura, a casa de saúde é referência para mais de 1 milhão de pessoas nos vales do Sinos, do Caí e na Região Metropolitana.

Mudanças

Com a decisão da prefeitura, não serão mais agendados procedimentos eletivos pelos próximos 90 dias. Caso as negociações com o Estado não avancem, o prazo pode ser prolongado. A orientação aos pacientes é que procurem atendimento na UPA Zona Norte, no bairro Scharlau, ou o Centro de Saúde do bairro Feitoria. Se a situação não for resolvida nestes locais, os pacientes serão encaminhados ao Centenário. 

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Também serão fechados quatro dos 10 leitos da UTI adulto – por não serem habilitados, ou seja, para os quais a instituição não recebe recursos do Estado – e o fechamento de dois dos 10 leitos da UTI Neonatal, pelo mesmo motivo. Na emergência do hospital serão atendidos apenas casos graves e pessoas trazidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O atendimento às gestantes e às crianças não tem alteração, os plantões permanecem funcionando normalmente na instituição.

– As cirurgias e consultas já marcadas serão atendidas. Mas, a partir de hoje (esta segunda), não se marca mais nenhum procedimento eletivo – explica o secretário.

Incerteza e reclamações na portaria

Ainda sem conhecimento da mudança, alguns pacientes deixavam o hospital na manhã de ontem confusos ou insatisfeitos. O soldador aposentado Ivo da Silva, 69 anos, foi até o local saber se a sua esposa poderia consultar hoje. Em tratamento de problemas renais, a costureira de calçados aposentada Lígia da Silva, 69 anos, tinha consulta marcada com especialista. Como a portaria de atendimentos eletivos estava fechada, Ivo precisou rodar por alguns locais até obter resposta.

– Na emergência, mandaram ir até outro ponto onde dariam certeza. Mas, ao que tudo indica, ela conseguirá ser atendida – torcia ele.

Júlio Cordeiro / Agencia RBS
Ivo foi em busca de informações sobre uma consulta para a esposa

No caso da aposentada por invalidez Julieta Jaime, 60 anos, a reclamação era pela dificuldade em ser atendida. Ela conta que a instituição não queria receber seu marido, Clóvis Jaime, 68 anos, na emergência. A orientação era levá-lo para outro local. O idoso usa bolsa de urostomia para recolher a urina. Porém, o equipamento havia estragado e precisava de substituição.

– Ele está sofrendo muito. Reclamaram da gente vir aqui. Acham que a gente gosta de ter que vir no hospital, é sempre o último lugar onde eu gostaria de estar. E não atendem isso em posto de saúde, tem que ser no hospital, onde ele sempre fez tratamento – reclama Julieta. 

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Estado não dispõe de recursos novos

A Secretaria Estadual da Saúde, por meio de nota, informou que a titular da pasta, Arita Bergmann, "recebeu por mais de uma vez o prefeito de São Leopoldo e gestores da saúde local para tratar das questões do município. Nas reuniões, a secretária foi muito objetiva e transparente ao informar que o Estado não dispõe de recursos novos para os hospitais".

Segundo a SES-RS, "a orçamentação foi uma medida tomada em 2013, no governo Tarso Genro, que definiu por critérios da época destinar valores complementares para alguns hospitais no RS. Por isso São Leopoldo recebe, desde aquela época, valor menor do que outros serviços".

A nota informa ainda que "o Estado não tem pendências financeiras com o Hospital Centenário, estando em dia com seus compromissos, visto que os valores são sequestrados dos cofres do Estado, mediante medida judicial".

São Leopoldo é um município de Gestão Plena na saúde e recebe repasses do governo federal referentes ao teto MAC (Média e Alta Complexidade). O governo do Estado já se colocou à disposição para buscar, em Brasília, junto com o gestor local, o aumento do teto MAC para o município. 





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