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Porto Alegre não terá mais Ensino Médio e Técnicos na rede municipal

As duas escolas municipais de Porto Alegre que oferecem as modalidades não aceitarão mais matrículas a partir do ano que vem

21/05/2019 - 16h34min

Atualizada em: 22/05/2019 - 05h00min


Jéssica Britto
jessica.britto@diariogaucho.com.br
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Liberato tem 600 alunos matriculados no Ensino Médio

A partir do ano que vem, a Escola Municipal Dr. Liberato Salzano Vieira Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, na Capital, não receberá novas matrículas para o Ensino Médio e cursos técnicos. A decisão foi comunicada pela prefeitura neste mês.

Os alunos matriculados não serão prejudicados, pois têm garantia e direito à conclusão do curso, conforme a prefeitura. Porém, novos alunos não serão aceitos. 

Por semestre, a Liberato recebia mais de cem novas matrículas. Atualmente, a escola tem aproximadamente 600 alunos no Ensino Médio, no turno da noite. A escola chegou a oferecer, por algum tempo, cursos técnicos em Contabilidade e em Informática. Atualmente, disponibiliza apenas o de Administração.

— Interromper o vínculo, significa um impacto desastroso para toda comunidade. Nós temos responsabilidade, precisamos sensibilizar o poder público, pois precisamos manter esse jovem perto, especialmente em uma região de vulnerabilidade — explicou uma funcionária que não quis se identificar.

A Secretaria Municipal de Educação (Smed) informou aos pais, professores e alunos de que não haverá alterações na Educação Infantil, Ensino Fundamental, EJA e Magistério. E que, inclusive, a ideia é ampliar o número de vagas do magistério e EJA para 2020.

Após tomarem conhecimento das restrições para o próximo ano, moradores dos arredores da instituição estão mobilizados. Na sexta-passada, uma reunião com autoridades e a comunidade escolar foi realizada. Hoje, às 13h30min, em ato simbólico, eles darão um abraço na escola.

Preocupação

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Mães esperavam que filhos continuassem estudos na escola

Sabrina Boff Wickbold, 35 anos, tem as filhas Margeori e Maynah Arancibia, de 16 e 13 anos, matriculadas na escola. Maynah está no nono ano do Ensino Fundamental e não conseguirá dar sequência aos estudos na Liberato. Margeori também terá de abrir mão do curso técnico que pretendia fazer. 

— Sempre foi uma referência para nós, uma ótima escola. Agora, a mais próxima será a Costa e Silva (também no Sarandi), o problema é que lá não oferecem médio à noite, e minha filha queria esse turno para poder trabalhar ou estagiar durante o dia. Eu, inclusive, tinha interesse em fazer o Técnico em Administração — lamenta Sabrina.

A dona de casa Gisele Machado, 37 anos, vive situação semelhante. O filho Davi Cardoso Machado, oito anos, está no terceiro ano e, apesar de ainda ter um longo caminho até o Ensino Médio, possivelmente não terá a chance de concluir os estudos na mesma escola. 

— Sem o Ensino Médio da escola vai ficar difícil, pois era uma referência para gente. Eu mesma estudei a vida inteira ali — conclui.

Atualmente, a Liberato tem três turmas de 9º ano, totalizando 78 alunos, além de outros sete alunos de uma turma de progressão (alunos com distorção idade-série e com dificuldade de aprendizagem).

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Emílio Meyer fechou técnico em 2018

Na Escola Municipal de Ensino Médio Emílio Meyer, no bairro Medianeira, a situação é semelhante. Há alguns anos já existe a orientação para não abrir novas turmas. A diferença é que a escola matricula os alunos, semestralmente, por disciplina. Então, sempre precisa disponibilizar vagas para os estudantes que reprovam e necessitam refazer alguma matéria. Com isso, segue mantendo o Ensino Médio, mesmo sem abrir novas turmas. 

Até o ano passado, a instituição oferecia curso Técnico em Hospedagem, mas ele também foi encerrado. Assim como ocorre no bairro Sarandi, a escola tem muita procura por vagas. A instituição mais próxima é o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o Julinho, no Santana. A Emílio Meyer recebe alunos de bairros como Restinga, Partenon e Cruzeiro, entre outros. 

Responsabilidade é do Estado, diz secretaria

Procurada, a Smed informou que a decisão de não ofertar Ensino Médio e técnico nas duas escolas se deu pois a oferta desta etapa da educação básica é atribuição constitucional do governo do Estado. Além disso, o objetivo da mudança é a melhor organização administrativa e pedagógica.

A Smed informa, também, que irá manter a oferta do curso de Magistério (que forma professores) na Liberato Salzano Vieira da Cunha e na Emílio Meyer. Das 99 escolas da rede municipal de ensino, essas são as duas únicas a ofertar a modalidade.

O Ensino Médio regular será mantido até a conclusão das turmas em andamento em ambas as escolas. A última turma deve se formar em 2021. A Secretaria destaca que é grande a oferta de ensino médio em Porto Alegre. "Nas proximidades da Liberato, há pelo menos cinco escolas públicas que o ofertam, e a região do bairro Medianeira conta com outras quatro", detalhou em nota.

Gestão compartilhada

Na segunda-feira, uma reunião na Câmara de Vereadores de Porto Alegre debateu o assunto. Parlamentares e equipe da prefeitura decidiram propor ao Estado uma gestão compartilhada, na tentativa de manter o Ensino Médio nas Escolas. Desta forma, o município seguiria oferecendo a estrutura física e o governo estadual ficaria responsável pela contratação dos professores. A proposta ainda será encaminhada.

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