Resistência
A história do professor que ajuda a manter viva a tradição das bandas marciais em Viamão
Éwerton Souza, 23 anos, comanda um grupo formado por alunos de diversas escolas públicas da cidade
Neste sábado (7), milhares de pessoas saem às ruas para celebrar a Independência do Brasil. Os desfiles cívicos, na imensa maioria, comandados por escolas, retratam os sentimentos de patriotismo e cidadania. Protagonistas dessas homenagens, as bandas marciais vivem tempos de resistência.
Tradicionais nos anos 1960, 1970 e 1980, talvez por falta de apoio ou incentivo, as bandas foram pouco a pouco encolhendo. As que ainda persistem tentam resguardar uma tradição que aguça a memória do mais velhos e chama tanta atenção dos mais novos. Especialista em música para Educação Infantil, o professor Éwerton Souza, 23 anos, lembra que Viamão, onde atua, chegou a ter 50 bandas marciais. Hoje, elas estão presentes em apenas cinco escolas municipais e seis estaduais. No ano passado, com os cortes nas verbas do Programa Mais Educação, muitas escolas passaram a encontrar dificuldades para manter os projetos e alguns correm risco de parar.
Perseverante, o professor, que integrou a banda de um dos Institutos Maristas dos 11 aos 17 anos, resolveu criar em 2016 uma banda marcial comunitária.
— O ensino da música na escola é de extrema importância para a formação do aluno. O legado que a banda marcial traz ao aluno é o do trabalho em equipe, ensinando também a ter disciplina, saber o momento de falar, o momento de se expressar e como se expressar — diz Éwerton.
O projeto
Criada em novembro de 2016, a Banda Comunitária de Viamão (BCV) atende 42 crianças e jovens dos sete aos 22 anos. Os participantes da BCV são alunos das escolas municipais Presidente João Goulart, Alberto Santos Dumont, Ricardo Faicker Nunes, Vereador Valneri Antunes e da Escola Jerônimo Porto e das escolas estaduais Setembrina, Farroupilha, Santa Isabel, Almirante Bacelar e Parobé. Desde a formação, participa de campeonatos e desfiles dentro e fora do município.
— Em Viamão, a tradição das bandas marciais vem diminuindo a cada ano, e o nosso propósito é não deixar isso acabar. Acreditamos na música e no patriotismo como uma ferramenta para o desenvolvimento da criança e da construção do caráter dos nossos jovens. A nossa corporação preza muito pela educação, comportamento e parte afetiva, mudando a realidade de cada um de nossos componentes. A nossa ideia é colaborar com a sociedade, formando grandes e bons cidadãos — destacou Éwerton.
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Ana Paula Evangelista, 32 anos, mãe da aluna da BCV Amanda Veríssimo, 10 anos, fala da diferença que a a iniciativa trouxe para filha.
— Ela entrou nesse ano e, desde então, melhorou muito nos estudos, acredito que é pelo incentivo que eles recebem — opina.
Desde a fundação, a banda comunitária já ganhou diversas premiações, entre elas, de vice-campeã estadual do campeonato de Bandas da Associação Gaúcha de Bandas (AGB) em 2016 e bicampeã interestadual infantil pela Agência de Bandas e Fanfarras do Litoral Norte do RS em 2019.
Apoio às escolas
A BCV não irá desfilar, mas, como grande parte das escolas não tem mais banda, estará dando suporte às que não possuem grupo próprio. Durante o ano, o grupo ministrou ensaios para os alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Setembrina, que ficou por dois anos com a banda desativada.
— Montamos um grupo com um aluno de cada instrumento e fizemos dois ensaios por semana. Tudo isso para não deixar a tradição acabar no município, onde muitas bandas já fizeram história em grandes campeonatos — completa.
No domingo, quando ocorre o desfile cívico de Viamão, na Rua Coronel Marcos de Andrade, no Centro, será dia de apresentar o trabalho realizado e colher os frutos de tanta dedicação. Enquanto uma escola encerra o desfile, Éwerton correrá para comandar a próxima banda, contando com o apoio dos alunos na tentativa de manter vivo o costume e o sentimento de patriotismo.
_ Apesar de muitos não terem essa coragem, eu tenho de demonstrar o orgulho que sinto pelo meu país _ enfatiza Vitor Mendes Gomes, 13 anos, aluno da Escola Municipal Ricardo Faicker Nunes e da BCV que irá desfilar por quatro escolas.