Notícias



EXPLICA AÍ

O Diário Gaúcho te ajuda a entender a onda de protestos no Chile

O colunista de assuntos internacionais de ZH, Rodrigo Lopes, explica os protestos que vêm ocorrendo no Chile

30/10/2019 - 05h00min


Rodrigo Lopes
Rodrigo Lopes
Enviar E-mail
JAVIER TORRES / AFP
Multidão tem ido às ruas em busca de melhores condições de vida

O que está acontecendo no Chile?
Desde o dia 18, o Chile vive uma onda de protestos nas ruas, com saques a lojas e supermercados, incêndios de prédios e confrontos entre manifestantes e polícia. Para tentar controlar os distúrbios, o governo do presidente Sebastián Piñera decretou estado de emergência e impôs toque de recolher – isso faz com que as pessoas tenham de cumprir algumas regras que não existem em tempos normais, como deixar de circular pelas ruas em determinados horários à noite. Pelo menos 18 pessoas morreram desde o início dos distúrbios e mais de 2 mil foram presas.

Leia mais
Diário Gaúcho te ajuda a entender a tensão na Venezuela
O DG te ajuda a entender por que a alface ficou mais barata
O Diário Gaúcho te ajuda a entender a Campanha da Legalidade 

Por que os manifestantes estão protestando?
Os protestos começaram por causa do aumento de 3,75% no preço da tarifa do metrô da capital do país, Santiago. Mas, a exemplo dos protestos de 2013 no Brasil, não é só por causa do aumento, equivalente a R$ 0,20. O reajuste foi apenas a gota d’água para uma série de insatisfações da população. O Chile é um país bastante rico: o Produto Interno Bruto (PIB), indicador da riqueza de um país, cresceu 4% em 2018. Para se ter uma ideia, nesse período, o Brasil cresceu apenas 1,1%. O problema é que lá praticamente todos os serviços são privatizados – ou seja, para estudar na faculdade, é preciso pagar. Não há universidade pública. O mesmo ocorre com a saúde. Não há algo como o Sistema Único de Saúde (SUS). As pessoas dependem em grande parte de planos privados. Outra reclamação é com o baixo valor das aposentadorias. Também é diferente do Brasil: lá, a pessoa deposita, ao longo da vida, um percentual do salário em uma conta no banco, como uma poupança. Quando se aposenta, recebe esse valor reajustado. O problema é que a pensão não é suficiente para pagar todas as contas e despesas, como remédios e tratamento médico.

PABLO VERA / AFP
Políticos foram pegos de surpresa com as manifestações

Quem organiza os protestos?
Não há um grupo ou partido político liderando os protestos. Os políticos, tanto do governo quanto da oposição, foram pegos de surpresa. Isso ocorreu porque, ao olharem os índices de desenvolvimento do país, parecia que o país estava indo bem. Porém, grande parte da população estava descontente com o excesso de gastos. Além de saúde e educação, no Chile até o sistema de abastecimento de água é privatizado. O Chile é um país rico comparado ao resto da América Latina, mas essa riqueza não se reflete no bolso da maioria da população. Há uma grande desigualdade social – ou seja, pouquíssimos ricos e muitos pobres.

O que o governo fez após os protestos?
Piñera, que é aliado do presidente Jair Bolsonaro, cancelou o aumento da tarifa do metrô e da conta de luz. Mesmo assim, os protestos continuaram. O governo, então, anunciou um pacote de medidas mais profundas. A principal delas é o reajuste imediato de 20% nas pensões de aposentadorias. Ele também criou um seguro para famílias que enfrentam doenças graves. As despesas que ultrapassarem determinado valor serão pagas pelo Estado. Anunciou ainda criação de um piso equivalente a R$ 1.945 para a renda dos trabalhadores com jornada completa. Dessa forma, quem ganha menos do que esse valor terá a renda complementada pelo governo. O presidente também pediu que seus ministros se demitissem. Apesar de todas essas medidas, as manifestações continuam. Há quem exija a renúncia de Piñera e que o país faça uma nova Constituição.

Os protestos têm a ver com o que está ocorrendo em outros países do continente?
Além da Venezuela, que já passa por uma crise há meses, Equador, Peru e Bolívia passaram por revoltas nas ruas ou presidentes enfrentaram problemas nas últimas semanas. Mas não há uma ligação direta entre as crises. Cada país teve uma causa diferente para as revoltas. Porém, pode-se perceber, como pano de fundo, uma indignação generalizada com a desigualdade social e com partidos políticos tradicionais, muitos deles envolvidos em escândalos de corrupção.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias