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Seu Problema é Nosso

Sem patrocínio, campeão de Taekwondo pede ajuda em sinaleira para participar de campeonato

Paulo César Ferreira, 46 anos, foi classificado para representar o Estado na Copa do Brasil de Taekwondo, em Natal, no Rio Grande do Norte

29/10/2019 - 07h00min


Robinson Estrásulas / Agência RBS
Paulo está no sinal todos os sábados, das 7h às 12h

Foi aos 11 anos que teve início a história de Paulo César Ferreira, 46 anos, morador do bairro Rondônia, em Novo Hamburgo, com o taekwondo, uma arte marcial de origem coreana. Multicampeão, a luta do atleta não se restringe apenas aos tatames: sem recursos, ele conta com a solidariedade para participar de um campeonato de projeção nacional. 

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Ao longo das mais de três décadas praticando o esporte, Paulo já conquistou cerca de 7 mil medalhas e é tetracampeão brasileiro na categoria Master, que compreende atletas com mais de 40 anos. Porém, mesmo com tantas conquistas, nunca recebeu qualquer patrocínio durante a carreira. 

— Tenho diversos recortes de jornais com matérias que já foram feitas comigo, mas, em todas elas, estou indo atrás de dinheiro para conseguir participar dos campeonatos. Isso me deixa triste, porque o esporte é algo muito importante, foi o que me fez virar gente, me tornar um pai de família. Mas, mesmo assim, não tem incentivo — desabafa Paulo, que tem duas filhas e trabalha como vigilante para garantir o sustento da família.

Agora, classificado para representar o Estado na Copa do Brasil de Taekwondo, todos os sábados, o lutador vai até a sinaleira do cruzamento entre as ruas Marcílio Dias e Bento Gonçalves, no centro de Novo Hamburgo, para pedir dinheiro a quem passa pelo local. O intuito é conseguir arrecadar a quantia necessária para participar da competição

Robinson Estrásulas / Agência RBS
Na calçada, o atleta expõem alguns de seus troféus, a fim de motivar os doadores

Persistência

A Copa, que será entre os dias 20 e 24 de novembro, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, é um evento oficial da Confederação Brasileira de Taekwondo. Incluindo todas as despesas do campeonato – inscrição, viagem, hospedagem, alimentação e materiais necessários para competir –, o valor gira em torno de R$ 5 mil, que precisam ser obtidos até o dia 15 de novembro. Porém, o atleta conseguiu arrecadar apenas R$ 1,2 mil.

— Tudo foi conquistado na sinaleira. Todos os sábados, eu estou lá, faça chuva ou faça sol. Coloco meus troféus na calçada, para que as pessoas vejam tudo o que já conquistei e se motivem a ajudar — conta Paulo, que também deu início a uma rifa para levantar a quantia.

Contudo, a experiência de pedir doações no sinal já foi motivo de tristeza para o atleta:

— Na minha cidade, é muito forte a questão do racismo. Já aconteceu de eu me aproximar dos carros e as pessoas me olharem como se eu fosse roubá-las, ou me mandarem ir trabalhar, chamarem de vagabundo. Isso me deixa triste. Mas, mesmo assim, nunca desisti, porque tem muita gente que acredita no meu trabalho e me incentiva a continuar. Aí, eu me ergo de novo e toco ficha. 

Robinson Estrásulas / Agência RBS
Sem patrocínio, Paulo conta com a solidariedade dos motoristas

Falta patrocínio, sobra solidariedade

Mesmo com a intensa rotina de trabalho como vigilante e as dificuldades enfrentadas para se manter no esporte, Paulo ainda encontrou uma forma de ajudar o próximo. Há quatro anos, ele decidiu usar os seus conhecimentos na arte marcial para formar novos atletas.

Assim nasceu a Academia Spider, que atende 30 alunos, de três a 50 anos de idade. Destes, 15 contribuem com um valor simbólico de R$ 60 ao mês, enquanto a outra metade treina gratuitamente, pois não tem condições de pagar pelas aulas. Entretanto, o atleta garante que não há lucro com a atividade, realizada apenas por amor. No final das contas, o valor de R$ 900, oriundo das mensalidades dos 15 alunos pagantes, é utilizado para quitar o aluguel do espaço que abriga a academia. 

Gratos, agora, os estudantes acompanham o mestre nas campanhas de arrecadação na sinaleira e auxiliam na venda de rifas, torcendo para que o professor consiga participar da competição em Natal. 

— Eles querem me ajudar, porque os ajudo. Me emociono, pois me faz lembrar de tudo o que já passei para poder seguir no esporte — completa Paulo.

COMO CONTRIBUIR

/// Para doar quantias em dinheiro ou adquirir números da rifa organizada por Paulo, entre em contato pelo WhatsApp (51) 99960-8414. A rifa custa R$ 2 e conta com quatro prêmios: uma cama infantil, um kit de produtos de beleza, um kit de higienização para estofados e uma cesta básica.

/// Se preferir contribuir pessoalmente, você pode encontrar o atleta todos os sábados, das 7h às 12h, na sinaleira das ruas Marcílio Dias e Bento Gonçalves, no centro de Novo Hamburgo.

Produção: Camila Bengo

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