Transporte público
Em 12 meses, seis linhas de ônibus são desativadas em Porto Alegre
Consórcios atribuem medidas à queda no número de passageiros
Dados obtidos com exclusividade pelo Diário Gaúcho junto à Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) mostram que, entre setembro de 2019 e setembro de 2018, seis linhas de ônibus da Capital foram excluídas.
Em números totais, eram 775 linhas cadastradas pela EPTC em setembro de 2018. No mesmo mês deste ano, o número encolheu para 767.
Conforme os dados, em dias úteis, por exemplo, três linhas foram desativadas. Aos sábados, a mudança atingiu duas linhas. Os domingos e feriados foram os dias mais atingidos pela retirada de itinerários: quatro a menos. Entretanto, o gerente de Planejamento de Transportes da EPTC, Flávio Tumelero, explica que os números não representam que todas as linhas foram desativadas. Segundo ele, alguns dos trajetos de dia útil também circulam aos sábados, domingos e feriados, o que duplica a conta. Flávio confirma a extinção de seis itinerários – sendo que dois foram unificados em uma nova linha.
— Tivemos ajustes na região dos bairros Herdeiros e Agronomia, onde linhas haviam sido criadas por questões de segurança. Um cenário que já foi normalizado. Além disso, houve junção no atendimento de dois itinerários da Zona Sul — recorda Flávio.
Domingos
Os domingos e feriados também foram os dias mais prejudicados pela redução de viagens e de quilômetros rodados por dia, noticiada pelo Diário no dia 16 de outubro. Entre setembro de 2018 e setembro deste ano, estas datas tiveram redução de 5% nos horários de ônibus – eram 9.173 viagens, caíram para 8.757.
A principal explicação para as mudanças no sistema é a redução da demanda. Entre setembro de 2018 e setembro de 2019, conforme os dados da EPTC, houve redução de 7,9% no número de passes diários nos ônibus da Capital – contando quem paga a tarifa e também isentos, que representam cerca de 30% dos usuários. De 1,5 milhão por dia, a média de passes caiu para 1,3 milhão. Olhando apenas para os dias úteis, a queda foi de 7,7% – de 911 mil passes médios por dia para 840 mil.
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Os pedidos de alteração de horários, itinerários ou extinção de linhas podem ser gerados por usuários ou a pedido da própria EPTC. Porém, conforme a prefeitura, a grande maioria das solicitações é encaminhada pelas próprias operadoras do sistema, que são os consórcios privados – Mob, Mais, Via Leste e Viva Sul – e pela Carris, que é pública.
As alterações devem respeitar os critérios da licitação do transporte público, assinada em 2016. Caso aprovada, a mudança, antes de entrar em prática, precisa ser divulgada aos usuários. No caso da extinção de linhas, o pedido precisa ser aprovado pelo Conselho Municipal de Transportes Urbanos.
Unir itinerários e otimizar a oferta
Representante das empresas de ônibus da Capital, a Associação de Transportadores de Passageiros (ATP) defende que as alterações solicitadas à EPTC pelas concessionárias são uma maneira de tentar manter o sistema funcionando. Ainda assim, essa redução dos serviços é menor do que a queda de usuários, garante o diretor-executivo da ATP, Gustavo Simionovschi.
— Esse desequilíbrio gera prejuízo na operação. Se não nos readequarmos, esse custo gerado será revertido em tarifa. Ônibus rodando sem passageiro só aumenta a passagem — afirma.
A EPTC, por sua vez, garante que linhas de ônibus não são extintas sem que haja uma compensação. Isso é feito por meio da unificação de linhas – onde um terceiro trajeto unifica os itinerários e a tabela horária é elaborada de forma a atender a todos os passageiros. Tem ocorrido, principalmente, aos finais de semana, com a criação de linhas que atendem a vários bairros. Porém, as unificações também já começaram a ser aplicadas em dias úteis.
— A curto prazo, é a solução que conseguimos para otimizar a oferta (unir linhas). Atende-se mais regiões e com mais horários de viagens. O passageiro pode até circular mais, mas espera menos tempo na parada — diz o gerente de Planejamento de Transportes da EPTC, Flávio Tumelero.
Mudanças alteram costumes
Para aqueles que seguem tendo o ônibus como principal meio de transporte, as remodelações do sistema alteraram costumes. O servidor público Gustavo Almeida, 38 anos, por exemplo, diz que “não dá chance ao azar”.
— Saio pelo menos 40 minutos antes do horário para garantir que vou pegar um ônibus e não me atrasar para o trabalho. Faço isso porque é comum alguns horários da tabela não serem cumpridos — relata o passageiro da linha 397/Bonsucesso.
O técnico em radiologia Gilmar Tanger, 55 anos, observa que a sobreposição de linhas é um problema para a cidade:
— Eu embarco na Lomba do Pinheiro para voltar para casa. Passam várias linhas aqui, que fazem boa parte do trajeto igual. E para ajudar, tem vezes que chegam vários ônibus juntos na parada. Aí, vai um na frente com passageiros e o resto vazio. Falta planejamento.
Para se locomover pela cidade, Gilmar acompanha as tabelas horárias dos ônibus pelo celular.
Confira as alterações
/// Exclusão da linha C4/Balada Segura (Carris) – já autorizada pelo Comtu, mas aguardando conclusão do processo pela EPTC
/// Exclusão da linha 375.2/Agronomia/UFRGS (Via Leste)
/// Exclusão da linha 376.3/Herdeiros via Dolores Duran/Antônio de Carvalho (Via Leste)
/// Exclusão da linha TR32/Troncal Antônio de Carvalho (Via Leste)
/// Exclusão das linhas 270/Grutinha e 271/Amapá (ambas Viva Sul) aos sábados, domingos e feriados
/// Estes dois trajetos foram integrados na linha 270.1/Grutinha via Amapá aos sábados, domingos e feriados
/// Além disso, durante a semana, após às 20h, a linha circula para substituir a 270 e a 271