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Combate ao coronavírus

Empresa testa drones para desinfecção de ruas em Porto Alegre

Prefeitura avalia a possibilidade do uso da aeronave, adaptada a partir de um veículo utilizado em áreas agrícolas

27/03/2020 - 20h26min


Bibiana Dihl
Bibiana Dihl
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Ele voa baixo, a cerca de três metros do chão, mas pode desinfectar um hectare (10 mil metros quadrados) em um período de oito a 10 minutos. O drone Pelicano 2020, da porto-alegrense SkyDrones, é uma das iniciativas pensadas por voluntários e empresas para ajudar a Capital no combate ao coronavírus.

A aeronave não tripulada entrou em ação em um teste feito no Parque Harmonia e na orla do Guaíba na última terça-feira (24).

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O drone é visto como uma alternativa eficiente para a desinfecção de ambientes abertos: pode carregar 10 quilos de produtos químicos, não envolve a exposição de pessoas e pode agir sobre até 25 hectares em um único dia, incluindo áreas de difícil acesso. A aeronave em questão foi adaptada a partir de um veículo agrícola que pulveriza produtos sobre grandes áreas plantadas.

– Nós já usamos esse pulverizador para combater o zika vírus, o que foi chamado de “zika killer”. Somos a empresa mais antiga do Brasil no desenvolvimento de não tripulados. Nos oferecemos para ajudar neste momento atípico – conta o diretor fundador da empresa, Ulf Bogdawa.

Daniel Estima Bandeira / Divulgação SkyDrones
Drone Pelicano 2020 pode carregar 10 quilos de produtos químicos para desinfecção de ruas

Com parceiros na China, a SkyDrones solicitou protocolos de desinfecção para saber sobre os produtos aplicados. A partir disso, as substâncias foram dosadas, com apoio do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Os drones foram utilizados em diferentes lugares do mundo durante a pandemia de coronavírus. Além da China, França e Bélgica, entre outros países, também usaram as aeronaves para pulverizar produtos e também informar sobre as medidas de enfrentamento. 

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Viabilidade

Como a empresa tem equipamentos de teste disponíveis, colocou-se à disposição, sem custos, para ajudar a prefeitura de Porto Alegre na desinfecção de ambientes públicos.

– É mais uma tecnologia que a gente produz para um fim, mas que também pode utilizar para outro – comemora Bogdawa.

Agora, cabe ao Executivo a palavra final e a definição de necessidade sobre o assunto. Para o secretário de Saúde de Porto Alegre, Pablo Stürmer, a ideia vem para ajudar:

Daniel Estima Bandeira / Divulgação SkyDrones
Teste foi feito no Parque Harmonia e na orla

- Achei muito interessante a proposta. É uma maneira muito prática de disseminar produtos químicos. Solicitei testes de eficácia, para saber o quanto o produto realmente fica aplicado na superfície, para pensarmos em aplicar em larga escala. Está em fase de estudos – afirma.

Já o secretário de Serviços Urbanos, Ramiro Rosário, ressalta que ações de limpeza e desinfecção já estão sendo tomadas na Capital. Foi feita a aquisição de insumos, e o número de equipes aumentou. O trabalho é feito em áreas abertas e fechadas, como sanitários públicos, onde foi disponibilizado sabonete líquido. A iniciativa, no entanto, é vista com bons olhos:

- Se a gente conseguir mecanizar ações com outros tipos de equipamentos eficientes, é ótimo. Além dos pontos positivos já ressaltados, o drone é bom para superfícies irregulares e lugares muito amplos. Foi um primeiro teste, e ainda precisamos ter a eficácia comprovada para utilizar como recurso para a cidade.

Por enquanto, não há uma data prevista para o próximo teste.

Custo baixo

Como o equipamento já foi disponibilizado pela empresa, o custo não é alto para manter este procedimento em larga escala. Segundo a empresa, cada voo gasta em torno de R$ 150.

Os custos envolvem as baterias necessárias para os drones e também os produtos químicos. A ideia é que seja feita uma parceria para doações por outras empresas ou instituições.

A pesquisadora do Instituto de Química da UFRGS Nadya Pesce da Silveira ressalta que os produtos químicos pulverizados são semelhantes aos usados em casa, a base de cloro. A diferença é que ele é dispersado com partículas pequenas que carregam o produto.

Daniel Estima Bandeira / Divulgação SkyDrones
Pulverização já é usada na área agrícola

- O tipo de desinfecção se torna eficiente porque distribui um pequeno volume de produto em área grande, então fica mais efetivo. Ele é mais concentrado. A prefeitura poderia lavar a área, mas leva mais tempo, envolve pessoas expostas e gasta bem mais produto – explica.

As substâncias não podem ser aplicadas quando há pessoas no local. No entanto, a composição faz com que, em menos de dois minutos, o ambiente já possa ser frequentado novamente.

Apesar de não terem sido feitos testes após a pulverização, a pesquisadora acredita na eficiência:

- Como é um produto bastante solúvel em água, vai ter um comportamento parecido com o daqueles usados em lavouras. Provavelmente terá a mesma performance.

Pacto Alegre

A iniciativa está dentro do Pacto Alegre, que une instituições de ensino, governo, iniciativa privada e sociedade civil para estimular o empreendedorismo colaborativo. A SkyDrones conta com parceria da CapTable, plataforma de investimentos em startups. O projeto “Start.Health: Startup Vs Covid” seleciona projetos startups para ajudar no enfrentamento da covid-19.

- Fomos buscar quem pudesse ter soluções para a crise. O pacto olha quem tem soluções possíveis. É algo muito coletivo e pouco individual – comemora o coordenador do Pacto Alegre e diretor da Escola de Engenharia da UFRGS, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho.

Pontos positivos, segundo a SkyDrones

  • Alta eficiência: um drone substitui 10 pulverizadores costais
  • Rapidez: a desinfecção de um hectare é feita em um período de oito a dez minutos
  • Controle de área de aplicação
  • Histórico digital de aplicação
  • Segurança: há menos contato humano durante a operação
  • Uso de menor quantidade de produto

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