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Eu Sou do Samba

Liliane Pereira: "Precisamos, também, falar daquilo que não funcionou"

Após os desfiles de 2020, colunista destaca o que ainda precisa melhorar no Carnaval de Porto Alegre

12/03/2020 - 05h00min

Atualizada em: 12/03/2020 - 11h02min


Liliane Pereira
Liliane Pereira
Isadora Neumann / Agencia RBS
Apenas um guindaste estava disponível para levar os destaques até seus postos

Não retiro uma palavra do que eu disse a respeito de as escolas terem feito, dentro das condições financeiras escassas, belos desfiles. Mas é justamente porque o Carnaval de Porto Alegre está trilhando um caminho de recomeço que precisamos, também, falar daquilo que não funcionou.

Com a entrada da produtora Bah! Entretenimento na organização do evento, uma das promessas era uma estrutura melhor. Infelizmente, não foi bem assim. Frisas e camarotes, que foram vendidos para 10 pessoas, contavam com apenas oito cadeiras. Não havia portas nos camarotes. Os banheiros também pareceram estar em menor número. Além da acessibilidade para pessoas com dificuldade de locomoção, que não era apropriada. 

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Fora do percurso da Avenida que as escolas percorreram, o Porto Seco estava um breu. Todo o entorno da área dos barracões, concentração e dispersão estava quase na completa escuridão. A sensação de insegurança só não imperava porque havia policiamento e também pela presença de food trucks. E isso não era responsabilidade só da organização do evento, era da prefeitura de Porto Alegre também.

Intervalo

Na Avenida, a presença de apenas um carro de som influenciou em todo o desfile. O tempo estabelecido de intervalo entre uma escola e outra era de 10 minutos. Entretanto, o carro de som levava em torno desse mesmo tempo para fazer o percurso de volta, para que a próxima escola pudesse equalizar microfones e instrumentos. 

Nas quadras, essa passagem de som leva cerca de 30 minutos. No Porto Seco, os grupos fizeram um verdadeiro milagre para que isso ocorresse em menos tempo.

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Claro que o tempo que cada escola tem para se organizar só passa a valer quando o carro de som chega na concentração. Mas fica óbvio que esses 10 minutos entre uma escola e outra nunca serão cumpridos com apenas um equipamento disponível. 

Divergências sobre questão que gerou rebaixamento de escola 

Outro problema foi que o guincho que colocava os destaques no carros era fixo: os carros alegóricos tinham de ir até o equipamento, quando deveria ser o contrário. Dá pra imaginar a dificuldade de manobrar um carro alegórico? 

Nesse caso, vale ressaltar que, com relação ao ano passado, isso melhorou, pois as escolas que desfilaram na primeira noite de Carnaval em 2019 nem puderam contar com esse equipamento. Em 2020, pelo menos, foi igual para todas. Mas a logística foi problemática.

Isadora Neumann / Agencia RBS

Já percebendo que haveria demora nesse processo, as escolas utilizaram escadas e procuraram agilizar a colocação dos destaques nas alegorias. A União da Vila do IAPI, porém, foi a que mais teve problemas com isso e acabou rebaixada para o Grupo Prata. Conforme decisão divulgada no dia da apuração, ela foi penalizada com a perda de 2,6 pontos pelo atraso – um décimo por minuto.

Atraso

Entretanto, a escola está contestando esse resultado. Conforme a agremiação, “a demora para colocar seus destaques nos carros se deu porque o equipamento fornecido pela organização era ineficiente”. A direção diz que, mesmo assim, concluiu o desfile em 56 minutos e 51 segundos, e que esse é o tempo que consta na planilha do fiscal de pista. No documento, que recebi da direção da escola, não consta que houve atraso.

Eu estava na concentração no momento em que tudo estava acontecendo. A escola realmente não entrou na hora prevista. Porém, o cronômetro não começou a rodar até que a Vila estivesse pronta.

Conversei com o presidente da escola, Sílvio Marcial, e ele alega que o desconto foi injusto. Segundo ele, a escola foi autorizada pelos dois vice-presidentes da União das Escolas de Samba de Porto Alegre (Uespa) a concluir a colocação dos destaques nos carros para, só então, iniciar a apresentação.

– A Uespa autorizou a espera na hora, e depois voltou atrás. Ou a entidade não está querendo admitir que cometeu um erro, ou não quer assumir que autorizou tal conduta – afirma Marcial.

As opiniões entre os presidentes das escolas de todos os grupos não são unânimes. Um deles, com quem conversei, alega que, se todas as escolas conseguiram se organizar dentro do tempo, a IAPI deveria ter conseguido também. Outro, porém, cita que, se as escolas que utilizaram outros meios para colocar seus destaques nos carros tivessem esperado apenas pelo equipamento fornecido para tal, também teriam demorado, e a organização do evento precisaria validar a espera. Até a publicação da coluna, a Uespa e a Bah! Entretenimento não haviam se manifestado.


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