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Crise no transporte pode fazer EPTC mudar licitação dos ônibus da Capital

Queda no número de usuários está levando sistema ao colapso

06/05/2020 - 05h01min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Félix Zucco / Agencia RBS
Passageiros atualmente convivem com diminuição nos horários

Desde a segunda quinzena de março, quando o isolamento social chegou em Porto Alegre, o sistema de transporte público acompanhou a queda no movimento das ruas. Linhas interrompidas e horários reduzidos foram as medidas tomadas para que os ônibus continuassem rodando pela Capital. Agora, a circulação dos coletivos corresponde a cerca de 40% do que se tinha em dias úteis pré-pandemia. 

Porém, do outro lado da roleta, a queda na demanda chega aos 70%. Ou seja, a redução na oferta é menor do que a queda de público. E isso está trazendo prejuízos que não estavam na planilha nem nos piores cenários –  de março até o final deste mês, as empresas preveem prejuízo na casa dos R$ 46 milhões. 

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Desde 2016, quando o sistema de transporte foi licitado em Porto Alegre, a demanda vinha caindo anualmente. Entre os responsáveis, os aplicativos de transporte eram os mais condenados pelos empresários. Porém, a queda no número de passageiros causada pela pandemia é muito mais acentuada do que antes. Por essa razão, tanto os empresários, representados pela Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), quanto a EPTC, pensam em alternativas para o futuro. E entre essas ações, está a possibilidade de alterar as cláusulas contratuais firmadas há quatro anos. 

Alterações

Conforme o diretor-presidente da EPTC, Fabio Berwanger Juliano, mexer no contrato de licitação exige envolvimento de várias esferas do poder público. Desde prefeito, passando pela Procuradoria-Geral do Município (PGM), a pasta de Mobilidade Urbana e até a própria EPTC já discutem o que pode ser feito para que o contrato siga válido. Mas, Fábio garante, será preciso alterar a licitação:

– A gente está trabalhando para tomar novas medidas junto ao contrato. É uma questão bem mais complexa, pois são cláusulas contratuais. Mas não é possível deixarmos como está, pois o sistema não voltará aos patamares de antes da crise. O objetivo será manter o sistema vivo.

O diretor-presidente da EPTC explica que as mudanças possíveis ainda estão sendo estudadas. Estão sendo apenas recolhidas manifestações e se avaliando medidas para manter o sistema de transporte público viável, mesmo que alguns itens tenham de ser sacrificados.

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 Apesar de o responsável pela EPTC não especificar itens que podem ser alterados, é possível traçar possibilidades. A renovação da frota e a disponibilidade de ar-condicionado em 100% dos veículos podem ser pontos afetados. A licitação tem validade de 

20 anos, e estes dois itens deveriam ser atendidos na primeira década, até 2026. Entretanto, mesmo antes da crise, a taxa de renovação anual já não vinha sendo cumprida, como mostrou o DG em fevereiro deste ano. 

Um terceiro ponto afetado pode ser a vida útil dos veículos. Decretos municipais já deram mais tempo para os ônibus circularem, para que as empresas se readequassem aos índices de renovação da frota.  

O objetivo é pensar um dia de cada vez, explica Fábio. Segundo ele, as conversas entre o município e a ATP são diárias, gerando readequações constantes no sistema. A recomendação aos usuários é que façam uso do aplicativo do TRI, que disponibiliza a localização dos ônibus via GPS. Esta é a maneira mais confiável de saber quando a linha utilizada pelo passageiro vai passar, se passar.

Espera e compreensão dos usuários

Nesta terça-feira (5), circulando pelo Centro Histórico,  a reportagem viu que a reabertura de alguns pontos, aliada ao uso obrigatório de máscaras nos ônibus, fez com que as pessoas andassem mais protegidas. Poucos rostos descobertos foram vistos. No Terminal da Rua Uruguai, onde várias pessoas esperavam por coletivo, a demora era sentida, mas havia compreensão dos usuários. A vendedora de doces Clarisse Medina, 18 anos, diz que tem conseguido chegar ao Centro sem atrasos, tendo problemas na hora de voltar para casa.

– As linhas que vêm por avenidas estão com mais horários. Quando preciso pegar até o bairro, para voltar para casa, demora mais, normalmente, uns 40 minutos – afirma Clarisse.

Conforme a ATP, o foco realmente está nas linhas que vêm de regiões mais afastadas e, por consequência, atendem mais usuários, passando por mais bairros e avenidas. No mesmo terminal, o pintor Wagner Paixão, 40 anos, aguardava há mais de uma hora por um ônibus. Ontem era o segundo dia de trabalho dele após a paralisação das atividades da construção civil:

– Estava usando o T4 (Carris) para chegar na Zona Sul. Tentei mudar hoje, para descer mais perto do trabalho, mas acho que a linha não está passando, vou procurar uma alternativa.

Para a pensionista Dulce Helena Ferreira, 66 anos, os ônibus estão atendendo suas necessidades neste momento.

– Temos que ficar em casa. Eu saio só para fazer compras essenciais. E quando preciso fazer isso, os ônibus que pego estão passando normalmente – diz Dulce, que tem três linhas à disposição para chegar em casa.

Curva do transporte achatada

Um termo que ficou conhecido com o aumento no número de casos do coronavírus foi o achatamento da curva de contágio. Conforme o engenheiro de transporte da ATP, Antônio Augusto Lovatto, essa é uma iniciativa que também pode ser feita no transporte público.  

Um exemplo disso é a retomada das atividades no comércio de rua da Capital. A orientação é que os locais só possam abrir depois das 9h. Conforme Antônio, isso é essencial para não sobrecarregar ainda mais o sistema nas primeiras horas da manhã. 

Herança

Para o engenheiro, essa é uma das heranças que o coronavírus pode deixar. Isso porque uma melhor distribuição de horários para os setores da sociedade ajuda a equilibrar a demanda por transporte, exigindo menos ônibus nos horários de pico, mas também não deixando os carros circularem vazios ou com pequenas quantidades de passageiros fora do pico.

– A gente espera que a prefeitura entenda que é muito importante para a sobrevivência do sistema e da população, que se tenha um escalonamento de horários. Talvez, depois da crise, até seja possível transportar o mesmo número de pessoas, mas certamente teremos menos ônibus nos horários de pico –  projeta o engenheiro de transportes da ATP. 


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