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Passageiros e motoristas de linhas que podem ser suspensas afirmam que ônibus circulam lotados em Porto Alegre

Associação dos Transportadores de Passageiros alega redução no número de passageiros para diminuir oferta

26/05/2020 - 22h16min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Tiago Boff / Agencia RBS
Veículos precisam circular com capacidade reduzida em razão de decreto para prevenir a disseminação do coronavírus

A reportagem foi às ruas de Porto Alegre nesta terça-feira (26) e ouviu motoristas e usuários de linhas de ônibus que devem ser atingidas por medida da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) nos próximos dias. Alegando que o número de clientes diminuiu muito por causa da pandemia de coronavírus, caindo de 900 mil por dia para cerca de 250 mil, a entidade pretende suspender ou integrar algumas linhas. Para quem precisa se deslocar, contudo, a oferta de veículos não tem dado conta da demanda. Mesma impressão que têm os profissionais da área.

Na região da Vila Mapa, na Lomba do Pinheiro, por exemplo, o popular sinal que os motoristas fazem com os dedos para indicar a quem está nas paradas que o ônibus está lotado e não pode receber mais passageiros se tornou ainda mais habitual após a publicação do decreto que limita o número de pessoas nos coletivos. Ao menos em duas linhas que devem ser atingidas pela medida da ATP (289 Rincão / Via Oscar Pereira e 284.3 Belém Velho (S. Francisco) / Rincão / Betão até Azenha), motoristas e usuários garantem que a procura segue alta – e a lotação dos veículos a partir da nova determinação tem causado transtornos.

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– Várias vezes o ônibus não parou por ter muitos em pé. Estou esperando pelo outro, que também tem o risco de não parar - afirma a secretária Cíntia Lopes, 36 anos, trabalhadora do Hospital Divina Providência, um dos pontos atendidos pelo coletivo que pode ser retirado das ruas.

As duas linhas citadas integram a lista de 12 que podem ser suspensas por dois meses, caso o pedido da ATP se concretize. As empresas alegam prejuízo na operação.

No início da manhã desta terça, na entrada da Vila Mapa, de onde são pegos os primeiros passageiros, 10 pessoas aguardavam os veículos para a arrancada do dia.

– A gente pega os passageiros na Vila, mas quando chega na Oscar Pereira já estamos com o limite dos que vão em pé, e eu preciso fazer o sinal de que está cheio - conta um condutor, em relato confirmado pelo colega na roleta. Eles pediram para não ter os nomes divulgados.

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Na saída do terminal, o motorista de outro ônibus disse que, diariamente, tem de deixar de recolher passageiros nas paradas. Ele reconhece que houve queda no volume de passagens transportados, porém sugere um equilíbrio para não deixar ninguém desassistido.

– Nunca vi tão pouca gente, mas no início e fim da manhã, todo dia, eu deixo vários que não posso pegar. Eles não podem ficar sem a linha - comenta.

O decreto municipal de 22 de abril definiu limite de 10 passageiros em pé nos veículos comuns e 15 nos articulados. De acordo com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), em dias úteis, as linhas que deverão deixar de circular transportam mais de 15 mil passageiros, representando 6% da demanda atual do sistema. Com a suspensão, seriam 526 viagens a menos por dia durante a semana e 390 viagens a menos aos sábados.

A suspensão deveria valer desde segunda-feira (25), mas após reunião com a prefeitura no sábado (23), a ATP recuou com a justificativa de que os passageiros terão de ser melhor informados sobre a eventual mudança.

Tiago Boff / Agencia RBS
Se a linha que usa for suspensa, Lisiane Lago terá que pegar três ônibus para ir ao trabalho

A assistente social Lisiane Lago, 40 anos, sai todos os dias da Lomba do Pinheiro em direção à clínica particular em que atua, no bairro Glória. Caso o processo de retirada da 289 Rincão seja levado a cabo, ela precisará pegar três ônibus para fazer o mesmo trajeto.

– Vou pegar três ônibus. Além de acordar mais cedo, corro o risco de não pegar outro por estar lotado - teme.

Na sexta-feira passada (22), o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, chegou a declarar que poderia pedir o apoio do Exército para dar continuidade às linhas. Para ele, a atitude das empresas seria um descumprimento de contrato. Já a ATP respondeu dizendo que o descumprimento do contrato estaria partindo da prefeitura.

— No contrato diz que devemos levar até 80 passageiros por ônibus, e não 60% da capacidade, como está ocorrendo agora. O prefeito, estranhamente, está ameaçando com uma intervenção. É bom lembrar que a última intervenção ocorreu em 1989 e quem pagou a conta foi o contribuinte — declarou o gerente de transporte da ATP, Antônio Augusto Lovato.

Confira as linhas afetadas

  • 361 Cefer
  • 255 Caldre Fião
  • 718 Ilha da Pintada
  • 705 2 Aeroporto / Ceasa
  • B09 Aeroporto / Indústrias / Iguatemi
  • 654 Educandário Petrópolis
  • 473 Jardim Carvalho / Jardim do Salso
  • 525 Rio Branco / Anita / Iguatemi
  • 282 Cruzeiro do Sul
  • 282 1 Pereira Passos
  • 289 Rincão / Via Oscar Pereira
  • 2843 B.Velho (S.Francisco) / Rincão/ Betão até Azenha

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