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Falta de recursos

Crise econômica causada pelo coronavírus atinge instituições de caridade de Porto Alegre

Fundações como O Pão dos Pobres e Associações beneficentes pedem ajuda para continuar ajudando quem precisa durante a pandemia

01/06/2020 - 22h05min


Liliane Pereira
Liliane Pereira
Mateus Bruxel / Agencia RBS
Pão dos Pobres sofre com a escassez de recursos de doações

A crise financeira que se instalou em função do coronavírus tem atingido diversos setores da economia. Uma das áreas que também tem sofrido com a escassez de recursos são as instituições de caridade.

Na Fundação O Pão dos Pobres Santo Antônio, que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade em Porto Alegre há 125 anos, esse problema tem resultado na diminuição de doações para manter crianças e jovens vítimas de violência que moram na instituição, e na dispensa de duas centenas de adolescentes que haviam sido contratados como jovens aprendizes, e que, agora estão perdendo as vagas porque muitas empresas precisaram cortar gastos.

Conforme João Rocha, gerente da fundação, O Pão dos Pobres tem parceria com diversas empresas. O modelo mais conhecido é o jovem aprendiz, que proporciona cursos profissionalizantes com duração de um ano no qual as empresas pagam a alunos de 14 a 24 anos meio salário mínimo por mês.

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Nessa parceria, a instituição fica encarregada das aulas, fornece atendimento e acompanhamento psicossocial e o material pedagógico. Depois, a empresa recebe o aluno para que ele viva a parte prática, além de pagar a ele meio salário mínimo. O problema é que, com a pandemia, muitas empresas têm deixado de contribuir. Dos 884 alunos de cursos profissionalizantes, 220 já tiveram os salários suspensos.

— Jovens com uma estrutura familiar organizada tendem a permanecer no curso. Os jovens que o Pão dos Pobres atende geralmente, são aqueles com situação muito frágil, que precisam de atendimento psicológico, de assistente social, e o Pão fornece. Sem isso, o jovem que leva um ano para terminar o curso e mais um tempo para se inserir no mercado de trabalho é facilmente seduzido pelo tráfico de drogas, por exemplo, que promete um retorno financeiro mais rápido, mas cobra como preço a vida daquele jovem. A rapidez no retorno que o tráfico oferece é a mesma rapidez da morte. Então, a gente tem que fazer com esse jovem um planejamento de vida pra que ele entenda que o curso não vai dar um retorno financeiro imediato, mas vai dar a ele um projeto de vida a longo prazo e a possibilidade de viver com o próprio trabalho —  pondera Rocha.

Anelise Oliveira, de 17 anos, faz um curso na área comercial, e acredita que, sem esse conhecimento, não teria tantas oportunidades de crescer. Ela está quase terminando o período de um ano, mas, agora, com as aulas suspensas, não sabe quando vai finalizar. Porém, sabe o quanto a aprendizagem já significa pra ela.

— Primeiramente eu aprendi a trabalhar em equipe e respeitar a opinião do outro. Foi incrível entrar em uma empresa e praticar lá dentro. Eu fiquei na parte financeira e pude acompanhar a área contábil. Agora, sei que tenho muitas possibilidades na vida — diz Anelise.

O gerente do Pão dos Pobres ressalta que essa perda de vagas no projeto de jovens aprendizes é muito danosa para os jovens e para a sociedade, já que os cursos são realizados para tentar dar aos jovens em situação de vulnerabilidade uma oportunidade de se profissionalizar e ser inserido no mercado de trabalho.

— São jovens das comunidades mais empobrecidas, alguns já sofreram violência, outros já cumpriram medida socioeducativa na Fase, e outros, ainda, não teriam condições de fazer um curso para entrar no mercado de trabalho. O curso de gastronomia, por exemplo, possibilita que quase 100% dos alunos consigam emprego. Claro, não agora, durante a pandemia — explica Rocha.

Ele salienta ainda que entende que essa dispensa dos jovens tem sido uma escolha de empresários na hora de cortar custos, mas faz um apelo:

— Sabemos que o custo pode ser alto, mas esse é um investimento para uma situação que vai além do momento atual. Porque a gente entende que a pandemia vai passar, mas o dano de perder esses jovens para o crime pode ser muito mais prolongado do que a própria pandemia. O nosso pedido é que os empresários, por mais difícil que esteja a situação, na hora de decidirem onde cortar, não cortem o investimento na educação profissional. Os alunos dependem desse valor pago pelas empresas, e, muitas vezes, eles passam a ser a única pessoa da família com renda continuada que podem garantir alimentação, água e luz. Eles recebem meio salário mínimo. A gente entende que pra empresa pode se tornar um valor elevado, mas pra esse jovem é a única possibilidade de sobrevivência — diz Rocha.

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Sala de aula no Pão dos Pobres, desocupada devido à pandemia

Além do impacto nos projetos com cursos profissionalizantes, O Pão dos Pobres viu quadriplicar os custos com higiene e diminuir as doações de roupas e alimentos para manter as crianças e jovens acolhidos na instituição. Por isso, precisa de ajuda nesse aspecto também.

Doações podem ser feitas direto no local, na Rua da República, 801, Cidade Baixa, ou, pelo Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Funcriança), com dedução no Imposto de Renda.

Na Acelb, doações de cestas básicas rareiam

Outra instituição que também tem passado por uma situação difícil é a Associação de Cegos Louis Braille (Acelb), mantenedora da Casa Lar do Cego Idoso. A instituição de longa permanência abriga 45 idosos e precisa de cerca de 40 cestas básicas por mês para se manter. Antes da pandemia, esse número era alcançado mais facilmente com a realização de almoços beneficentes, ajuda da comunidade, de empresas e de doações do banco de alimentos. Agora, conforme o presidente da Acelb, Emir Roberto da Silva, as doações de cestas básicas não chegam a 12 por mês.

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— Estamos tentando uma parceria com a prefeitura, mas, por enquanto, eles ainda não conseguiram liberar um recurso emergencial. Para manter a instituição, os idosos que moram no lar contribuem com uma parte dos seus salários, mas esse valor corresponde a 30% do custo total de R$ 80 mil por mês. Precisamos de toda ajuda possível, pois os custos com higiene aumentaram muito — explica Silva.

Ele destaca que a instituição também precisa de doações de agasalhos e cobertores. E que roupas também são bem-vindas, pois, quando não servem para os moradores, elas são vendidas no brechó por R$ 2 para angariar fundos.

Para ajudar, doações são recebidas no local, mas a Acelb pode ir buscar. Para contribuições em dinheiro, depósitos podem ser feitos na Caixa. 

  • Agência: 3447
  • Operação: 003
  • Conta  859-5
  • Associação de Cegos Louis Braille
  • CNPJ: 88.173.968/0001-60

Na Amor ao Próximo, número de famílias que precisam de ajuda triplicou

A Associação Beneficente Amor ao Próximo prioriza a arrecadação de doações de cestas básicas e distribuição de comida para moradores de rua. Nesta entidade, a situação de dificuldade não é diferente. Antes da pandemia, Claudia Araújo, fundadora da associação, tinha um cadastro com cerca de 300 famílias que a procuravam para receber auxílio. Desde o início do surto de coronavírus, ela viu esse número crescer muito. Hoje, ela tem quase mil famílias cadastradas. As doações, porém, têm diminuído.

— Temos muitas pessoas que no início estavam ajudando e agora estão me procurando para serem ajudadas. Muita gente que está perdendo o emprego, ou que é autônomo e não está conseguindo trabalhar. Além disso, embora muito bem-vindas, grande parte das doações vem de pessoas que podem doar em menor quantidade do que uma empresa poderia, por exemplo. Seria muito importante se uma instituição maior nos ajudasse, pois sei de regiões vulneráveis em Porto Alegre onde a ajuda ainda não chegou — conta Cláudia.

Além das doações de alimentos, a Amor ao Próximo realiza ações que incluem ajudar pessoas com roupas, itens de higiene e até cadeira de rodas. Quem puder contribuir, basta entrar em contato pelo telefone 51 99966-1283.


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