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Efeitos do coronavírus

Comerciantes que fecharam as portas por causa da pandemia tentam se reinventar

Mudar o ramo de atuação ou  a maneira de atingir o público estão entre saídas encontradas pelos trabalhadores, que compartilham os desafios da nova jornada

13/07/2020 - 06h00min

Atualizada em: 13/07/2020 - 13h01min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Jefferson Botega / Agencia RBS
Chris (E) e Clair mantinham loja de aluguel de roupas na Restinga há 16 anos

Com o distanciamento social imposto pelo coronavírus, muitos comércios tiveram de interromper os trabalhos, principalmente, aqueles não essenciais. Logo que os primeiros decretos ordenaram o fechamento de lojas, comerciantes tentaram manter o negócio até a provável reabertura. Porém, com o passar dos meses a incerteza quanto ao retorno das atividades, foi preciso tomar uma decisão definitiva.

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Em Porto Alegre, por exemplo, desde março até o final de junho, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) já registrou baixa de 4.797 alvarás — o maior número foi em março, quando 2.305 baixas foram efetuadas. Pelo outro lado, também foram emitidas 4.109 liberações. O número é menor do que o de baixas, mas cresceu em maio e junho.

E para quem ficou sem o seu ganha-pão de uma hora para outra, foi preciso correr atrás de alguma opção. Essa realidade caiu no colo de Clair, 60 anos, e Chris Siqueira, 40 anos, mãe e filha. Há 16 anos, elas mantinham uma loja de aluguel de roupas para festas e eventos. O setor foi atingido em cheio com a suspensão das reuniões desse tipo. A loja de 79m², no bairro Restinga, precisou fechar no dia 19 de março. Por dois meses, mãe e filha tentaram manter a estrutura, mas no final de junho, devolveram o espaço e levaram todo o material para casa.

Saída

Jefferson Botega / Agencia RBS
Produção de pijamas foi saída encontrada por Clair e Chris após terem de entregar na Restinga

Mesmo com o estoque em casa, alugar roupas ainda é muito difícil na pandemia. Por isso, a dupla começou a pensar em outras opções. Além de trabalhar com o aluguel de roupas, Clair é costureira há 35 anos. Mesmo com a loja, ela sempre seguiu fazendo pequenos trabalhos na máquina. E foi nesse ponto que mãe e filha viram a saída.

— No inverno passado, minha mãe fez alguns pijamas. Uma das pessoas voltou nesse ano para pedir de novo, e aí tivemos um estalo: está aí uma saída — recorda Chris.

Os pijamas produzidos são de um tecido conhecido como soft. Conforme Chris, com muito mais gente em casa, principalmente, as crianças, a roupa, por ser quente, fácil de lavar e de secagem rápida, é uma opção muito procurada pelos pais. A confecção dos trajes começou há cerca de um mês e meio. Nesse período, segundo Chris, foram mais de 110 peças confeccionadas e entregues. A demanda é tanta que a dupla teve de começar a dar prazos para a entrega.

— Estamos pedindo ao menos 12 dias úteis para ter tempo de confeccionar e entregar tudo — comemora Chris.

O sonho de mãe e filha ainda é retomar a loja assim que for possível. Enquanto isso, seguirão se desdobrando de casa, mesmo.

Jefferson Botega / Agencia RBS
Roupas que eram alugadas estão em casa, esperando a chance de um dia voltar as vitrines

Casa virou local de trabalho

Para Kelly Soares dos Santos, 38 anos, a pandemia também fez abrir mão da sede física de seu comércio. Com outras mulheres, ela mantinha o Feirão das Gurias, um espaço que reunia várias iniciativas, como brechó, bazar, artesanato e venda de lanches. Com o fechamento do espaço, também no bairro Restinga, o grupo tentou manter a sede até uma possível reabertura. Mas, quando não foi mais possível seguir, tiveram de se desfazer de freezers, expositores, geladeiras, mesas e cadeiras, que foram vendidas. O espaço foi entregue aos donos.

Para tentar manter alguma renda, Kelly começou a trabalhar com vendas online. Ele tem feito sucos e sopas detox, além de açaí. A maioria dos pedidos são entregues pela própria Kelly, mas alguns clientes fazem a retirada na casa dela.

— O movimento, com certeza, é bem menor do que uma loja física. Mas, os produtos foram bem aceitos, tem altos e baixos — explica ela.

Reciclagem

Em Cachoeirinha, o comerciante Uilson Droppa, 35 anos, também viu a pandemia abater o movimento em sua atividade principal, uma pequena padaria no bairro Jardim do Bosque. Conhecido por ações de revitalização de pontos esquecidos do bairro. Nessas ações, o uso de pneus velhos sempre foi um destaque. Agora, Uilson conseguiu converter a habilidade com os pneus reciclados em conseguir alguma renda. Desde vasos de flores, poltronas, lixeiras e até casinhas para cachorro, tudo é confeccionado com pneus velhos.

— Comecei para fazer os brinquedos para os locais do bairro. Agora, na pandemia, recebi alguns pedidos e comecei a vender alguns itens. Está sendo uma ajuda muito bem-vinda — comemora ele.

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