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Grupo de empreendedoras da Restinga se une para criar estratégias e enfrentar a crise

Mulheres de diferentes segmentos dividem experiências para manter seus negócios abertos e gerar empregos

13/06/2020 - 05h00min


Liliane Pereira
Liliane Pereira

Com as dificuldades para enfrentar a pandemia, a união e a ajuda mútua têm sido a grande arma do grupo Empreendedoras Restinga. Juntas, elas trocam ideias, planejam ações de marketing e fortalecem, além dos negócios, o lado emocional de cada uma delas. Conheça quatro histórias de empresárias que fazem parte desse grupo e tiram dele a força para passar por esse momento de pandemia. E confira dicas que também podem valer para o seu pequeno negócio. 

Ajuda para superar momento difícil

Há pouco mais de um ano, cerca de 80 mulheres empreendedoras deram início a um movimento que mudou suas vidas, com a criação do grupo Empreendedoras Restinga. Cada uma com seu tipo de negócio, o que as aproximou foi a vontade de ter mais visibilidade e conhecimento para expandir as vendas. E deu certo. Hoje, elas são 246.

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Para tentar conquistar mais benefícios para o bairro, o grupo criou a associação, da qual a protética Roberta Capitão Coimbra, 43 anos, é presidente. Ela atribui esse crescimento à união e ao apoio que elas dão umas às outras.

– Esse período de um ano foi de muito crescimento. Enquanto no Centro víamos lojas fechadas, na Restinga, estávamos no movimento inverso. Os comerciantes estavam reformando as lojas, expandindo e contratando. Gerar empregos é nosso maior foco – diz Roberta.           

Isadora Neumann / Agencia RBS
Com a ajuda do grupo, Roberta contorna as dificuldades e mantém negócio de pé

O principal objetivo do grupo é fomentar o negócio local, gerar empregos, aumentar as relações entre as empreendedoras, o empoderamento feminino e, principalmente, mudar a visão que as pessoas têm de que a Restinga é um bairro violento. Fazer elas passarem a ver a região como uma área de empreendedorismo.

Conversa e orientação

Mas, como tem sido para muita gente, as dificuldades também chegaram com a pandemia. Mesmo assim, elas seguem firmes nos seus propósitos e mostram a diferença que faz a ajuda mútua.

A própria Roberta, que possui duas clínicas odontológicas, passou por dificuldades nesse período de pandemia. Para manter as contas, precisou demitir um funcionário e suspender o contrato de outro por dois meses.

– Meu rendimento caiu, pois tivemos que espaçar os atendimentos para que as pessoas não se encontrassem na sala de espera. Outra coisa bem importante que afetou o ramo foi o aumento de cerca de 2.000% no valor dos insumos. Luvas e máscaras sempre foram nossos materiais de consumo, e agora está impossível conseguir. Uma caixa de máscaras custava R$ 5, agora, custa R$ 150 – explica a protética.

Ela não tem receio de dizer que precisou de ajuda médica para enfrentar a situação, pois seu emocional ficou muito abalado. Por isso, o auxílio entre as integrantes do grupo se torna tão essencial. Ele acontece por meio de muita conversa e orientação.

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– Tivemos muitas dificuldades, principalmente relacionadas ao emocional. Muitas empreendedoras entraram em depressão e nós tivemos que estar atentas para resgatar essas mulheres – conta Roberta.

Troca e motivação

Para se manterem conectadas, as empreendedoras têm um grupo no Telegram, além das lives em horários inesperados para conversar, chamar umas às outras e manterem a motivação. Elas conversam muito sobre saúde emocional e o quanto é importante admitir que é normal ficar afetada com a situação pela qual estamos passando: o importante é se ajudar.

E é justamente sobre ajuda que a psicóloga Jaqueline de Souza Fraga, 38 anos, trata. Uma das integrantes do Empreendedoras Restinga, ela viu o número de atendimentos subir muito depois do isolamento social.

Jaqueline está em isolamento desde o dia 21 de março por ser do grupo de risco. No início, trabalhar em casa não foi fácil, já que o atendimento psicológico costuma ser feito pessoalmente e foi necessário que os pacientes aderissem e se acostumassem com a nova modalidade. Mesmo assim, a procura aumentou.

Isadora Neumann / Agencia RBS
Jaqueline viu a demanda por seu trabalho aumentar, mas precisou fazer adaptações

– Esse aumento nos atendimentos é bom e, ao mesmo tempo, ruim. As pessoas que me procuram, geralmente, estão com algum tipo de problema como ansiedade ou pânico. O medo nesse momento cresceu significativamente, e isso fez as pessoas procurarem atendimento online ou presencial com a psicologia. Elas necessitam de um momento para ir falando sobre as suas emoções, sentimentos, e tudo isso que está acontecendo na pandemia – relata Jaqueline.

Nova rotina

A profissional, assim como grande parte das pessoas, também precisou adaptar sua rotina. Com o aumento na demanda de trabalho ela se viu mais atribulada para dar conta da rotina de cuidar da casa, do filho e dar conta de todas as tarefas. E, claro, nesse aspecto, ter o grupo para se apoiar muda tudo nesse momento.

— O grupo é muito motivador. A gente tem um grupo no Telegram com mais de 240 mulheres. É bem importante essa troca. Conseguimos dividir experiências, trocar informações, e isso é motivador. Tudo isso nos motiva e nos faz querer sempre mostrar mais sobre o nosso trabalho e trazer conteúdos de qualidade. A conversa e a troca de experiências faz muita diferença — conta Jaqueline.

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A psicóloga faz parte do grupo desde o primeiro encontro. E, assim como as outras empreendedoras, já tinha seu negócio e nutria a intenção de contaminar as pessoas com informações de qualidade e espalhar a ideia de que a Restinga tem boas profissionais.

— Entrar para o grupo foi um presente. Eu não movimentava muitos as minhas redes sociais e as pessoas não me conheciam. Com o projeto, fomos muito incentivadas a divulgar nosso trabalho. Com isso, acabamos conhecendo empreendedoras que eram vizinhas nossas e que a gente nem sabia que existiam. Todas com trabalhos muito legais aqui dentro — diz Jaqueline.

"Motivamos umas às outras"

O aumento na procura vivido pela psicóloga Jaqueline não foi o mesmo no negócio de Sheila Brambila, 29 anos, proprietária do Mercado do Baixinho. O nome é em homenagem ao pai dela, que também teve um comércio com o mesmo nome. Para a comerciante, o momento da pandemia tem sido desafiador. Mesmo assim, ela encontra no grupo motivação para enfrentar a situação.

Isadora Neumann / Agencia RBS
Clientela diminuiu, mas Sheila foi à luta para dar a volta por cima

— Nossas lojas ficam abertas até a meia-noite. Então, os clientes que tínhamos eram principalmente os que retornavam para o bairro após o dia de trabalho. Na pandemia, o número reduziu muito devido ao confinamento. O cliente que trabalhava como autônomo, ou aquele que recebe por dia, não estava mais indo trabalhar e parou de gastar — relata Sheila, que complementa:  

— Além disso, no pavor, muitas pessoas foram para os grandes mercados fazer ranchos e se abastecer para não sair de casa, e deixaram de comprar no mercado de bairro. Isso nos abalou. Mas a troca de experiências no grupo das empreendedoras teve um papel fundamental nisso. Nós compartilhamos aflições e, principalmente, motivamos umas às outras. Sabe como: é brasileiro nunca desiste, e, sendo mulher, a garra é ainda maior — relata Sheila, com bom humor.

Ela acrescenta que antes de o grupo ganhar visibilidade na mídia, sentia uma certa rejeição ao dizer que tinha um comércio no bairro Restinga. E, depois que o grupo apareceu no Diário Gaúcho pela primeira vez, novos fornecedores passaram a procurar o mercado.

Um cheirinho de flor

Na ferragem da qual Vanessa da Silva, 34 anos, é dona, o medo da crise enfrentada pela pandemia foi grande. Mas a ajuda da campanha #euentrego, de incentivo às telentregas, feita pelas empreendedoras nas redes sociais, ajudou muito a enfrentar a situação.

Conhecida no bairro por ter uma ferragem com a fachada cor de rosa e pelo uso do capacete da mesma cor, Vanessa fechou o negócio por alguns dias logo que foi anunciada a pandemia.

— No início, foi bem complicado. Me apavorei, entrei em desespero total. As contas foram acumulando, as mercadorias ficaram paradas, eu não sabia o que fazer. Agora que podemos abrir, não liberei a entrada dos clientes. Atendo na porta com dois balaios isolando a entrada. O cliente solicita o produto e alcançamos pra ele. Usamos máscaras e, a cada atendimento ou ao pegar o dinheiro, usamos álcool gel — conta.

Isadora Neumann / Agencia RBS
Com as entregas, Vanessa segue vendendo e ainda ajuda outras pessoas a conseguirem trabalho

Com a divulgação da campanha de entrega, os pedidos começaram a ser feitos. E um dos objetivos do grupo se concretizou, mais uma vez.

— Com todas essas demissões, um cliente foi demitido e veio perguntar se eu gostaria que ele fizesse as entregas. Aceitei na hora. Fiquei feliz de poder ajudá-lo e também de poder entregar meus produtos na casa do cliente — relata Vanessa.

Para personalizar ainda mais a entrega, ao mandar a mercadoria para o cliente, ela coloca na sacola uma flor tulipa feita por uma artesã do bairro.

— Coloco um cheirinho na flor. O aroma eu também compro de outra empreendedora do bairro que trabalha com aromatizadores. Então, me reinventei em fazer as entregas e dar uma flor simbolizando meu carinho e gratidão por o cliente consumir de uma pequena empresa do bairro, pois estamos fazendo o possível para nos manter de portas abertas — explica, emocionada a proprietária da ferragem.



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