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Solidariedade

Lições de vida e de empreendedorismo saem do forno na Vila Timbaúva, zona norte de Porto Alegre

Professora voluntária monta projeto no qual mães produzem e vendem pães para ajudar a sustentar suas famílias. 

28/07/2020 - 05h00min

Atualizada em: 28/07/2020 - 05h00min


Elana Mazon
Elana Mazon
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Isadora Neumann / Agencia RBS
Grupo de mulheres com uma nova fornada, pronta para a venda

Milca Lopes Souza, 40 anos, moradora do bairro Mario Quintana, na Capital, não é do tipo que cruza os braços diante de uma situação desfavorável. Pelo contrário. Vendo as consequências da pandemia na Vila Timbaúva, onde ela desenvolve trabalho voluntário, decidiu ajudar como pode. 

Da arrecadação e distribuição semanal de doações, a ação cresceu para oferecer opções de renda para mulheres da comunidade. E, para um futuro próximo, ela projeta a abertura de uma ONG.

Há pelo menos 10 anos, Milca, professora que dá aulas em uma escola privada de Viamão, faz trabalhos voluntários em projetos ligados à igreja Adventista, que ela frequenta. Desde 2017, ela coordena os clubes Aventureiros Tesourinhos da Terra (voltado para crianças de seis a nove anos) e Desbravadores Timbaúva (10 a 15 anos), também ligados aos adventistas, na Vila Timbaúva, bairro Rubem Berta, em Porto Alegre. 

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Nestes grupos, as crianças e jovens reúnem-se para desenvolver talentos, valorizar a natureza, prestar serviços para a comunidade e aprender sobre a religião – apesar de o grupo aceitar membros de qualquer fé. É um trabalho semelhante ao dos escoteiros, por exemplo.

Com a pandemia, as reuniões dos clubes, que ocorriam sempre aos sábados, na sede da igreja, tiveram de parar. Persistente, Milca decidiu continuar com as atividades por meio do WhatsApp.

– Acontece que muitos pais não têm acesso à internet, não possuem celular ou não estão em casa durante o dia para passar para os filhos. Assim, uma moradora da Timbaúva se propôs a receber as atividades que eu mando e repassar  – conta Milca.

A mediadora é Marilei de Souza Menes, 26 anos, cuidadora que perdeu o emprego logo no início da pandemia de coronavírus. Ela é mãe de duas meninas que fazem parte dos clubes.

Isadora Neumann / Agencia RBS
Milca (à frente) e o grupo de empreendedoras

Milca continua indo à Timbaúva quase todos os dias. Mas, agora, seu foco são as ações solidárias para ajudar as famílias, que, em sua maioria, vivem algum tipo de vulnerabilidade. Semanalmente, os pais dos membros do clube recebem cestas com alimentos. Roupas, cobertores e o que mais for arrecadado também é distribuído. Ela está envolvida, ainda, na mobilização para construir uma casa nova para uma família que seria despejada por não pagar o aluguel. 

Mas a preocupação da professora com a manutenção destas doações a longo prazo a motivou a criar outra iniciativa, desta vez, independente dos clubes: o Pão dos Sonhos. Milca reuniu mães interessadas em produzir pães e mulheres interessadas em vendê-los:

– Meu objetivo é sempre evitar que as crianças passem necessidades, o que pode fazer com que elas acabem na sinaleira ou nas drogas. Duas mães sabiam fazer pão e toparam iniciar a produção. Montamos juntas um plano de negócios, que prevê ganhos de R$ 30 por dia para cada uma das envolvidas. Se a iniciativa vingar, vão ganhar, em média, R$ 600 por mês, o mesmo valor do auxílio emergencial.

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A professora reuniu doações para a primeira leva da produção – o que não conseguiu, comprou com o próprio dinheiro – e ajudou, também, com as vendas:

– A iniciativa começou na semana passada, e elas venderam todos os 25 pães produzidos. Os ingredientes para a segunda leva, elas mesmas compraram. Além do dinheiro, isso ajuda muito na questão da autoestima destas pessoas, que conseguem renda com algo que elas mesmas fizeram. 

Uma das envolvidas na produção dos pães é justamente Marilei, a voluntária que distribui as atividades para as crianças em sua casa. 

A segunda empreendedora é Josi Amorim da Silva, 40 anos. Outras mulheres da comunidade ajudam embalando os pães e divulgando o projeto. Ontem, a dupla produziu outros 25 pães – quase todos já encomendados.

– Desde que perdi o emprego, não procurei outro, pois não quero colocar minhas filhas em risco e levar essa doença (coronavírus) pra casa. Com os pães, posso ficar em casa, manter a minha rotina, e ainda assim ganhar alguma coisa – conta Marilei.

Por enquanto, a Pão dos Sonhos envolve poucas pessoas. Mas a ideia de Milca é tornar a iniciativa uma ONG. O nome já está decidido: Fábrica de Sonhos.

– Sempre tive vontade de oferecer capacitação na Timbaúva. Seja reforço escolar, oficinas profissionalizantes. Vamos atrás de um local onde possamos construir uma sede – projeta Milca, cheia de esperança.

Quer ajudar?

- A iniciativa de Milca aceita doações de alimentos, roupas de inverno, calçados e material para as famílias da Vila Timbaúva.

- Para ajudar na produção do projeto Pão dos Sonhos, é possível doar farinha, fermento, óleo, ovos e açúcar. Fôrmas e um forno elétrico também ajudariam a aumentar a produção.

- Entre em contato pela página do projeto no Facebook  ou pelo telefone (51) 98129-0491 (Milca).



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