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Rainha Plus na Acadêmicos da Orgia, chef de cozinha e técnica de futebol: conheça a história de Lisiane

Trajetória como foliã iniciou ainda na infância. Em 2020, ela retornou à Avenida

13/08/2020 - 05h00min


Liliane Pereira
Liliane Pereira
Arquivo Pessoal / Divulgação
Lisiane como Rainha Plus, ao lado da filha Khyara Luiza

Quando a gente conta o caso de uma pessoa, muitas vezes, contamos também a história de várias outras, pela identificação. Há três semanas, quando falei sobre a ala Plusamba Sul, uma leitora me procurou dizendo que a história dela traçava caminhos parecidos. Nossa conversa foi tão interessante, que resolvi dividir com vocês.

Lisiane Silva de Souza tem 39 anos, é moradora do bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, chef de cozinha, sócia do restaurante Amor de Mãe, na Zona Norte, e mãe de cinco filhos. Dar conta de uma vida normal como todas nós já não é fácil, mas Lisiane não sonha baixo. Além de tudo isso, ela ainda é Rainha Plus da Acadêmicos da Orgia e técnica de um time de futebol do qual ela é uma das fundadoras, o Real Família Futebol Sete.

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Com experiência de 20 anos na área gastronômica, ela conta que não foi fácil começar. Em um ambiente bastante masculino, ela precisou ser firme para se fazer respeitar.

De alguma forma, talvez, a vida a estivesse preparando para uma tarefa em um ambiente dominado pelos homens e que seria ainda mais hostil: a de técnica de futebol.

Arquivo Pessoal / Divulgação
No papel de técnica

— O time existe há quatro anos, eu sou treinadora há três. Sou amante do esporte e torcedora do Colorado. Tudo começou porque meu marido jogava e eu ficava torcendo. Então, veio a ideia de fundar uma equipe. No início, eu era só a presidente, depois, me tornei técnica. Sofri bastante preconceito por ser a única mulher no campeonato da Federação Gaúcha de Futebol Sete (FGF7), logo que comecei. Mas cheguei com meu grupo até a série prata como única a mulher a comandar um time masculino. Busquei meu espaço, e hoje sou respeitada. Em 2018, ganhei o prêmio técnico destaque. Hoje, juntei meu time com outro e estamos na série ouro, o Rayo Vallecano/Real Família — conta Lisiane, cheia de orgulho.

Preconceito

Ao longo do tempo, ela foi fazendo cursos e se especializando sobre técnicas de futebol. Atualmente, ela trabalha para a FGF7 na organização dos campeonatos. No Carnaval, Lisiane também buscou seu espaço, mas não sem enfrentar desafios. Ela começou a desfilar aos cinco anos, na Figueira. Sua última função antes de se afastar da folia por 15 anos, depois de descobrir que estava grávida, foi de musa da Real Academia de Samba. Neste ano, convidada pela presidente Jussara, ela voltou triunfante como Rainha Plus da Acadêmicos da Orgia.

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— Sou Rainha Plus num mundo em que existe um grande preconceito por eu não ter mais um corpo escultural. Mesmo assim, não tenho vergonha de representar minha escola. Também fui coroada como Soberana dos Pampas Plus do Rio Grande do Sul. E estou muito feliz em representar meu Estado. Além disso, participo de um grupo de conversa sobre pessoas que sofrem preconceito, no Carnaval como na vida. É o Papo de Majestade, no qual buscamos a inclusão das pessoas nos seguimentos do Carnaval — relata.

Logo que recebeu o convite da Acadêmicos da Orgia, Lisiane conta que ficou em dúvida se aceitaria. Mas foi justamente o preconceito que a motivou. Foi quando ela presenciou um grupo de pessoas rindo e falando de uma rainha plus de outra escola em um evento que ela percebeu que erradas eram aquelas pessoas por serem tão desrespeitosas.

— Queremos apenas respeito, pois essa festa é pra todos, não importa a cor, o gênero, o corpo ou qualquer outra coisa. A gente tem que ser o que deseja, sem medo de qualquer tipo de piada ou de comentários maldosos. Precisamos entender que não podemos ser felizes de verdade quando somos obrigadas a viver rotuladas por padrões estéticos. Nós somos livres. E precisamos derrubar juntas estes conceitos e rótulos que carregamos sobre o nosso corpo e a nossa conduta. Eu incluo conduta porque estamos, ainda que inconscientemente, hipnotizadas por anos de lavagem cerebral sobre o que significa ser perfeita. O corpo perfeito é o que a gente tem. Sem nenhuma comparação, sem certo ou errado: teu corpo é lindo do jeito que é — destaca Lisiane.


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