Resolvido
Após reportagem, costureira vítima de furto ganha quatro máquinas
Em março, Paula teve sua casa invadida e seus equipamentos de trabalho foram levados
Paula Aparecida Ternos, 37 anos, costureira de Novo Hamburgo, encheu-se de ânimo com a quantidade de pessoas que a procuraram nas últimas semanas. É que, no dia 26 de abril, o Diário Gaúcho contou a história de Paula, que teve suas máquinas de costura furtadas quando a casa onde morava com a mãe foi invadida por ladrões. Sem a principal ferramenta de trabalho, ela enfrentou dificuldades financeiras e emocionais. Mas, após a reportagem, recebeu doações e mensagens de afeto.
A costureira, que é deficiente visual, deixou de enxergar com o olho esquerdo ainda bem nova. Com 17 anos, começou a perder a visão. Já o olho direito está prejudicado devido a um deslocamento de retina, que ocorreu em 2018.
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Ela explica que, antes de se dedicar à costura, sua mãe, Maria de Lourdes de Azevedo, 60 anos, era ambulante. Vendia lingeries e joias de porta em porta. A filha decidiu ajudá-la, divulgando os produtos na internet. O empreendimento deu certo, impulsionou as vendas, e, em 2015, inauguraram uma empresa. Mas, quando Paula precisou realizar a cirurgia do olho direito, elas não conseguiram mais sustentar o negócio. A empresa faliu, e a saída que encontraram para se manter foi investir na confecção.
Arrombamentos
Em março deste ano, a casa onde as costureiras moravam foi invadida, e as duas máquinas que tinham, levadas. Elas contam, porém, que não foi a primeira vez que sofreram com um arrombamento. Paula tem um cão de guarda, que comprou justamente para ter mais segurança. Mas o animal sofreu uma série de atos violentos, como pedras arremessadas em sua direção e até uma tentativa de envenenamento.
Os casos estão todos documentados nos boletins de ocorrência que Paula registrou na Polícia Civil. Ela acredita que um dos motivos de tentarem ferir o cão era terem acesso à casa.
Sem os equipamentos para trabalhar, mãe e filha tiveram a renda completamente prejudicada. As costuras passaram a ser feitas à mão, apenas por Maria, pois Paula não enxerga o suficiente para esse tipo de atividade. Como resultado, atrasaram suas contas, tiveram a linha telefônica cortada, e os pedidos de confecções acumulados. A costureira havia perdido sua independência.
Doações inesperadas
Na matéria publicada pelo DG, elas pediam a doação de apenas uma máquina de costura para voltarem a trabalhar. Porém, o retorno foi ainda maior. Entre mensagens e ligações, foram mais de 60 contatos que elas receberam. Pessoas de diferentes regiões do estado, do interior ao litoral, quiseram ajudar.
– Para ser sincera, eu nem esperava tanto retorno. Pessoas me doaram tecidos, linhas, elásticos. Pessoas que se preocuparam com minha saúde, antes de qualquer coisa. Incentiva ver que tem pessoas com calor humano, que não há só maldade no mundo – comenta Paula.
Não apenas uma, elas receberam quatro máquinas de costura – fora as outras tantas que cordialmente recusaram. Pessoas doaram cesta básica, ofereceram-se para ajudar na compra de seus medicamentos e até no pagamento das contas em atraso. Com alguns, criou uma relação de amizade que continua até agora.
Rede
Uma das máquinas foi doada pela aposentada Maria Eli de Barros Beck, de 69 anos. Ela, que acompanha o Diário desde sua primeira edição, conta que sempre tenta prestar ajuda a quem pede.
– E é uma máquina antiga, estava aqui guardada. Era da minha filha. Eu leio o jornal todo dia. Aí, vi a matéria e liguei para Paula no mesmo momento – conta a aposentada.
Maria Eli é de Porto Alegre, e a distância foi um impedimento para Paula. Porém, uma das pessoas que ligou interessado em saber como poderia ajudá-la, foi um empresário de Novo Hamburgo que mora na Capital. Conversando, ele se ofereceu para buscar o equipamento.
De casa nova
Depois de ter recebido as doações, o cachorro foi mais uma vez agredido, o que gerou em Paula crises de ansiedade. Ela acredita que a nova tentativa de machucá-lo está relacionada às novas máquinas que recebeu. Com medo de que conseguissem matar seu cão e, consequentemente, os equipamentos fossem novamente furtados, ela e sua mãe mudaram-se.
E, mais uma vez, contaram com a solidariedade dos leitores que a procuraram. Outro empresário de Novo Hamburgo, que preferiu não ser identificado, não apenas as ajudou a encontrar uma nova moradia na cidade como pagou parte das despesas que tiveram com a mudança para a nova casa.
“Sorriso voltou”
Maria de Lourdes fala que estão recebendo mais pedidos de trabalho, a ponto de quase não darem conta. Empresas a procuraram para encomendar máscaras, aventais e outros serviços. Até ofertas de emprego chegaram.
– Minha mãe dizia, quando eu era pequena, que quem agrada nossos filhos adoça nossa boca. Para mim, foi tão maravilhoso ver que, depois de tudo isso que minha filha passou, recebeu tanto carinho. O sorriso dela voltou, a alegria dela voltou. Melhor que as máquinas e as doações foi o sorriso que esse pessoal botou no rosto da Paula – completa Maria de Lourdes.
Produção: Émerson Santos