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Avanço da imunização

539 mil gaúchos acima dos 40 anos ainda não se vacinaram contra a covid-19

Problemas de comunicação, dificuldades de acesso e rejeição a laboratórios ajudam a explicar lacunas na imunização

19/07/2021 - 19h49min


Marcel Hartmann
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Marcelo Gonzatto
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
RS figura entre Estados com melhor andamento no ritmo da vacinação no país, mas ainda há pessoas sem vacina

Registros oficiais indicam que mais de meio milhão de pessoas acima de 40 anos, integrantes de faixas etárias já contempladas pela campanha de vacinação contra a covid-19, ainda não tomaram nenhuma dose de imunizante para se proteger e barrar a circulação do vírus no Rio Grande do Sul.

Até esta segunda-feira (19), 539,2 mil gaúchos com 40 anos ou mais poderiam ter se vacinado com pelo menos uma dose contra o coronavírus, mas ainda não o fizeram, mostra uma análise de GZH com base em estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde (SES) e do DataSus. Isso corresponde a 10,5% das pessoas nesse intervalo de idade – é como se um a cada 10 moradores do Estado nessa faixa etária tivesse desistido de buscar uma unidade de saúde. 

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–  Se não houver problemas de registro, é um dado preocupante porque indica que muitas pessoas estão deixando de se proteger, o que mais tarde vai impactar também na aplicação da segunda dose que garante a imunização completa – observa o membro da Comissão de Epidemiologia da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), José Cássio de Moraes.

Eventual demora nas notificações encaminhadas pelas prefeituras podem interferir nesses dados, mas uma comparação com cifras nacionais não sugere um problema específico entre os gaúchos nesse quesito. Reportagem publicada na quinta-feira (15) pelo portal UOL encontrou um índice ainda pior na média nacional: 20% dos brasileiros acima dos 40 anos não haviam recebido qualquer imunizante até aquele momento. Isso facilita que a campanha contra o vírus migre mais rapidamente para candidatos cada vez mais jovens, mas deixa um passivo de pessoas mais velhas desprotegidas para trás. 

Com base nas informações públicas disponíveis, que dependem da qualidade e dos prazos de registro, a maior ausência até o momento no Estado envolve a população entre 40 e 49 anos, com 17,6% de pessoas sem qualquer aplicação. Pelo calendário oficial do Piratini, esse grupo teria até o final de julho para se imunizar. Mas, na prática, a maioria dos municípios já contemplou esse público e avançou para a faixa dos 30 anos ou inferiores – Porto Alegre, por exemplo, até esta segunda-feira (19) já estendeu a campanha para os habitantes com pelo menos 34 anos.

– Com as doses disponíveis, nossa nova meta até o final de julho é atender as pessoas acima de 35 anos. Grande parte dos municípios já está vacinando abaixo dos 40 – explica o presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Estado (Cosems/RS) e titular da pasta em Canoas, Maicon Lemos. 

Assim, mesmo que parte da abstenção dos quarentões ainda possa cair até o final do mês em razão do progresso na imunização nas cidades eventualmente mais atrasadas, o número atual de 267 mil faltantes nesta categoria é significativo. Em seguida, a segunda menor adesão é a dos gaúchos entre 50 e 59 anos e, em terceiro lugar, dos idosos acima de 80 anos (veja gráfico mais abaixo) – justamente os mais vulneráveis a complicações de saúde. Os dados considerados por GZH levam em conta também as aplicações da Janssen, de dose única.

 – A proporção de idosos acima de 80 anos que não tomaram nenhuma vacina pode estar relacionada com maiores dificuldades de mobilidade. Por isso, é importante adotar estratégias de busca ativa e atendimento domiciliar – analisa o epidemiologista do Hospital de Clínicas Ricardo Kuchenbecker. 

No contexto nacional, o Rio Grande do Sul é o segundo Estado que mais aplica a primeira dose, segundo dados do Portal Covid-19 no Brasil. O equivalente a 51,7% dos habitantes recebeu uma aplicação, e 22,4%, duas, conforme estatísticas do Estado. 

Apesar disso, a cobertura vacinal abaixo do esperado em alguns grupos preocupa especialistas e autoridades. Kuchenbecker lembra que uma abstenção elevada reduz a proteção individual contra a covid e dificulta o atingimento da imunidade coletiva – patamar de 70% a 75% da população com esquema vacinal completo capaz de frear as contaminações e permitir o retorno a uma maior normalidade.

– A convivência entre pessoas sem vacina com outras parcialmente imunizadas e outras com esquema completo cria um cenário favorável para o surgimento de variantes do vírus com maior infectividade – observa Kuchenbecker.

Nessa situação, a vacinação de adolescentes ganha relevância como forma de obter mais pessoas imunizadas. Em quase todas as faixas etárias, são os homens que menos buscaram uma vacina contra a covid-19 no Rio Grande do Sul. Na média geral entre quem tem mais de 40 anos, 11,5% do público masculino e 9,6% do feminino não procuraram se imunizar até o momento.

Prefeituras pretendem aprimorar comunicação 

Uma das estratégias para reduzir a abstenção da vacina entre os gaúchos é aprimorar a comunicação feita pelas prefeituras com a população, além de outras iniciativa já colocadas em prática em alguns locais, como a busca ativa de candidatos à imunização com auxílio de equipes de saúde da família. 

– Já orientamos municípios a fazerem repescagem e uma comunicação mais clara sobre a vacinação por faixa etária. Quando abre um novo grupo de idade, os anteriores continuam podendo se vacinar, por exemplo. Mas nem todos sabem disso – exemplifica o presidente do Cosems/RS, Maicon Lemos. 

Também há relatos de pessoas que deixaram de se vacinar por desejarem escolher o produto de qual laboratório receberão. Lemos lembra que essa atitude deve ser evitada porque aumenta o impacto da pandemia sobre a saúde individual e a rede de atendimento, o risco de surgirem novas variantes, e porque todos os imunizantes em uso no país foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com eficácia comprovada contra o vírus. 

O Cosems pretende, ainda, se reunir com a Secretaria Estadual da Saúde (SES) nos próximos dias para rediscutir a distribuição de doses entre as prefeituras: 

– Temos cidades vacinando na faixa dos 40 anos, e outras já atendendo jovens de 18 anos. Nossa intenção é equalizar melhor isso e, talvez, as cidades que já conseguiram avançar bem mais possam receber menos doses em comparação às outras que ainda estão imunizando pessoas mais velhas – revela Lemos. 

O Cosems também destaca a importância de levar as injeções até a casa de quem tenha alguma dificuldade em se deslocar até as unidades de aplicação. 


Registros indicam 126 mil pessoas sem vacina na Capital

Em Porto Alegre, ao menos 126 mil pessoas acima dos 40 anos não se vacinaram, apesar de terem a possibilidade, de acordo com as notificações oficiais disponíveis. Isso corresponde a 17% da população enquadrada nessa faixa etária pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

O grupo etário com maior ausência é outro em comparação ao cenário estadual: 50 a 54 anos, dos quais 36% ainda não teriam se vacinado, segundo dados da SES cruzados com os da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) de 2019. Em seguida, aparecem os idosos acima dos 80 anos, com 34,1% sem registro de qualquer aplicação de imunizante.

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) avalia que o número real de abstenções deve ser inferior em razão de eventuais atrasos ao longo da cadeia de notificação. Por nota, a SMS observou ainda que “é preciso considerar as pessoas que têm duas residências e tomaram a vacina em outras cidades”. 

De qualquer forma, a Secretaria sustenta que a prefeitura “tem feito campanhas de conscientização sobre a importância da imunização, reforçado as informações sobre os locais e horários de aplicação nos canais de comunicação, bem como tentado esclarecer a respeito das chances raras de efeitos adversos da vacina contra a covid-19". 

Profissionais das unidades de saúde também vêm incentivando, segundo a SMS, comunidades e usuários das unidades de saúde a se imunizar. Além disso, “as equipes tem feito busca ativa de pessoas que já tomaram a primeira dose e não apareceram para tomar a segunda”.


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