Conquista inédita
Time gaúcho vence campeonato nacional de futebol para deficientes visuais
Equipe da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul na modalidade alcançou, pela primeira vez, o título de campeã na competição
Amadurecimento, suporte, união e vontade de levar o título para casa. Esse foi o "segredo" que garantiu o primeiro lugar do time da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs), entidade com sede em Porto Alegre, no campeonato Taça Brasil de Futebol B2/B3, voltado a pessoas com baixa visão. A disputa ocorreu em Campo Largo, no Paraná, no início de dezembro. Na sexta-feira (17), a equipe foi homenageada pelo feito na Câmara de Vereadores da Capital.
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Participaram da Taça Brasil outros quatro times: um do Rio de Janeiro, dois do Paraná e outro do Rio Grande do Sul. Diretor de Esportes da Acergs, Glailton Winckler da Silva explica que a competição serviu como uma forma de substituir a Copa Brasil de Futebol B2/B3, que é organizada pela Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), mas que não ocorreu em 2020 nem em 2021.
— Embora esse campeonato não tenha sido feito lá no CT Paraolímpico em São Paulo (como é o caso da Copa Brasil), ele é considerado um campeonato nacional, porque são todas as mesmas equipes e, enfim, foi para nós uma conquista inédita na história da instituição — destaca.
Pequenas diferenças
No nome da modalidade, o "B" junto ao número se refere à graduação do quanto a pessoa enxerga. O B2 é considerado um nível intermediário, em que a claridade é vista, mas não detalhes, e o B3 é o que mais se aproxima da visão considerada normal, conforme descreve Glailton.
Nos jogos voltados a essas classificações, de acordo com a CBDV, é sugerido que a cor da bola contraste em relação à do piso para que ela fique o mais visível possível. E não é necessário utilizar vendas para cobrir os olhos. Quanto às equipes, é obrigatório que tenham, no mínimo, dois atletas da categoria B2 em quadra. Para diferenciar, os jogadores costumam usar uma identificação no braço de acordo com sua categoria. O goleiro, por sua vez, tem visão considerada normal — e completa o time de cinco atletas.
Em três dias, na disputa de todos contra todos, o time da Acergs ganhou todas as quatro partidas. O resultado é fruto de uma história iniciada em 2015, quando a ideia de formar um grupo de pessoas com baixa visão para jogar futebol passou a ganhar força na associação gaúcha. De 2016 em diante, a Acergs participou das Copas Brasil da modalidade, mas sem conquistar o primeiro lugar.
Para a disputa de 2021, os treinos ocorreram aos sábados, envolvendo trabalhos táticos, técnicos, físicos e individuais, considerando as especificidades de cada atleta, esclarece o voluntário Renan Lino Gonçalves, treinador do time. Com a proximidade da data da Taça Brasil, a equipe também chegou a praticar no meio da semana.
Ao acompanhar a trajetória e ver o que o time alcançou neste ano, o diretor de Esportes afirma que é "um trabalho de sucesso".
— A evolução foi bem notada, começamos bem mal e, aos poucos, fomos melhorando. Foram fazendo partidas melhores, melhorando os resultados até que chegasse agora no título. Então para mim é algo bem feito, um objetivo cumprido — define Glailton.
Paixão de longa data
Quem também participou de boa parte desse processo foi o porto-alegrense Carlos Eduardo da Silva, mais conhecido como Dudu. Integrando a equipe há cinco anos, ele se tornou capitão do time em 2021. Hoje aos 29 anos, conta que o gosto pelo futebol vem desde criança.
— Sempre foi minha paixão, então eu sempre dei um jeito de jogar.
Até os 15, jogava com colegas por lazer. Depois, o grupo se afastou e, em 2016, um dos integrantes procurou Dudu e falou sobre o trabalho da Acergs. Atualmente, o atleta se encaixa na classificação de visão B2. Ele entende a vitória desse ano como "um sonho realizado".
— Fizemos bastante esforço para ir e acabou sendo a nossa melhor competição.
Manter a posição
Para o diretor de Esportes da Acergs, seguir com a primeira colocação é o desafio ainda maior que se coloca agora.
— A ideia é o pessoal participar (da competição em 2022) e manter o título, isso eu senti ali neles e claro que, sentindo isso, vamos tentar dar a estrutura que precisa, só que esbarramos muitas vezes na falta de apoio, que é uma modalidade que ainda é pouco conhecida — pondera.
Glailton ressalta que, além do apoio financeiro, a associação também precisa de parceiros para ceder espaço para treino e transporte, por exemplo — além, é claro, de pessoas para fazer parte do time, que vai mudando com a entrada e a saída de atletas. O contato com a Acergs pode ser feito por telefone (51 3225-3816), e-mail (acergs@acergs.org.br/esporte@acergs.org.br) e, no caso da área esportiva, também por WhatsApp (51 98528-3270).
*Produção: Isadora Garcia