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Resistência

Coletivo Ksa Rosa, em Porto Alegre, luta pelos direitos de pessoas em situação de vulnerabilidade social

Projeto foi criado com o objetivo de promover a política da redução de danos

19/02/2022 - 05h00min


Alexandre Rodrigues
Alexandre Rodrigues
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Marco Favero / Agencia RBS
Prédio que abriga as atividades fica na Rua Voluntários da Pátria

Uma fachada colorida, formada pelo mosaico de pequenas pedras, chama atenção em meio ao emblemático cenário dos arredores da rodoviária de Porto Alegre. Os mais desavisados podem não perceber, mas o nome do local é facilmente descoberto quando os olhos se deparam com sete letras dispostas abaixo das janelas. Trata-se da Ksa Rosa, um centro de educação popular e resistência cultural. 

O espaço é multiuso: funciona como ambiente de acolhimento para catadores e moradores de rua da Capital (principalmente das proximidades), serve de local de passagem a imigrantes, além de ser usado por artistas que buscam promover a mensagem da integração social. Para que tudo funcione, a principal fonte de renda chega por meio da coleta de materiais recicláveis. Outras atividades, como a fabricação de sabão artesanal e a venda de souvenires, também auxiliam nas despesas. Entretanto, a maior engrenagem é a força de vontade humana. 

Transformação

Foi Maristoni Moura, 49 anos, quem idealizou o coletivo Ksa Rosa para promover a política da redução de danos, cujo objetivo consiste em minimizar possíveis consequências adversas do uso de drogas. Despejada de uma antiga ocupação, ela se deparou em pouco tempo com o sobrado localizado na Rua Voluntários da Pátria, 1.039. A construção de dois andares já havia sido comércio, abrigo de menores e delegacia de polícia, mas estava abandonada.

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— A casa pegou fogo e o tráfico tomou conta. Depois, a polícia expulsou todo mundo. Pensei que, por conta dessa origem, poderíamos transformar em um local de conselhos, de organização comunitária — relembra a coordenadora. — A gente ganhou em 2016 o direito para desenvolver, ali, nossas ações — completa.

A principal regra para os interessados em receber ajuda do projeto é não utilizar drogas, bem como estar disposto a aceitar o tratamento adequado para abandonar o vício. Eliandro Lima, 37 anos, tornou-se um exemplo. Frequentador há mais de cinco anos e companheiro de Maristoni, ele se livrou da dependência e hoje multiplica o conhecimento adquirido. 

— Eu puxo carrinho, também ajudo na limpeza daqui. A gente traz o material recolhido, coloca na mesa, classificamos e acumulamos para, depois de um tempo, conseguir um preço justo — comenta, orgulhoso sobre o trabalho que mudou sua vida. 

Marco Favero / Agencia RBS
Eliandro Lima encontrou da coleta de recicláveis uma forma para mudar de vida

Parceria com curso de Arquitetura rendeu frutos

A iniciativa conta com aliados importantes que auxiliam em diversos aspectos. Motivado pela necessidade de apresentar diferentes realidades, o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) criou em 2017 a disciplina de Projeto Arquitetônico II, na qual os alunos podem colocar em prática o que aprenderam na sala de aula. 

— Tipo um casamento — afirma a fundadora da Ksa Rosa em relação à parceria, que é renovada a cada seis meses e já rendeu a reforma da biblioteca, a adequação dos banheiros, a criação de uma sala de alfabetização, o embelezamento da fachada, entre outras modificações. 

Novidades estão a caminho. Um documentário sobre a história do coletivo será divulgado nos próximos dias. O trabalho é fruto da participação de Maristoni no Câmera Causa 2019, uma oficina dentro do festival Cine Esquema Novo voltado para grupos em vulnerabilidade social, escolas públicas e demais projetos sociais que queiram ganhar mais visibilidade. Nela, os alunos aprendem a realizar curtas-metragens com seus próprios celulares. Outro grande desejo é a publicação de um livro sobre boas práticas na reciclagem. 

— Queremos acessibilizar a cultura. O objetivo é fazer com que os trabalhadores de rua possam assistir um filme, uma sessão de teatro, um sarau, que são as atividades promovidas por nós — ressalta a líder. 

Para saber mais sobre a Ksa Rosa

/// Instagram - @ksarosaoficial
/// Facebook - Ksa Rosa Centro Educação Popular e Resistência Cultural
/// E-mail - coletivoksarosa@gmail.com
/// Telefone - (51) 98644-4363



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