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Operação Copa Livre

Após afastamento de prefeito, Justiça repassa gestão do HPS de Canoas para o governo do Estado

Contrato da prefeitura com a entidade privada é um dos negócios que, segundo o MP, teria envolvido corrupção e organização criminosa

07/04/2022 - 22h00min


Gabriel Jacobsen
Gabriel Jacobsen
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Jefferson Botega / Agencia RBS
Hospital de Pronto Socorro de Canoas passará a ser gerido pelo governo do Estado, após operação que apura envolvimento de gestor privado em esquema de corrupção

Em mais um desdobramento da operação que investiga contratos suspeitos da prefeitura de Canoas, a Justiça atendeu ao pedido do promotor Marcelo Dossena Lopes dos Santos e determinou uma intervenção no Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC). O contrato da prefeitura com a entidade privada que faz a gestão do hospital é um dos negócios que, segundo o MP, teria envolvido corrupção e organização criminosa.

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Na decisão, proferida na noite de quarta-feira (6), a juíza Adriana Rosa Morozini, da Comarca da Canoas, determinou que se afastem da administração do hospital os gestores privados do Instituto de Atenção à Saúde e Educação (Aceni). A decisão também repassa a gestão do HPSC para o governo do Estado. A intervenção estadual vai durar ao menos 120 dias, podendo ser ampliada.

Na decisão, a juíza destaca as descobertas feitas ao longo da investigação conduzida pelo Ministério Público (MP), com quebra de sigilo de políticos e empresários: “Perfeitamente detectada, pelo conteúdo das conversas, a existência de conluio entre os agentes públicos e representantes da entidade vencedora do certame, mediante grave esquema de corrupção e desvio de verbas públicas. Perceptível, então, que o procedimento administrativo número 89.123/2021, efetivamente, foi direcionado de forma fraudulenta para ser ‘vencido’ pelo corréu Aceni, tendo havido, inclusive, dispensa de licitação”.

O contrato investigado entre a prefeitura e a Aceni previa o repasse semestral de R$ 49,4 milhões para a entidade privada. A Justiça também determinou que a prefeitura de Canoas deixe de repassar recursos públicos para a Aceni. Os valores devem ser direcionados para a conta judicial que será aberta para a gestão emergencial do hospital enquanto durar a intervenção.

As duas interventoras da Secretaria Estadual da Saúde que foram nomeadas pela Justiça para administrar emergencialmente o HPSC são Suelen da Silva Arduin, diretora do Departamento de Coordenação dos Hospitais Estaduais, e a médica Eleonora Gehlen Walcher. Segundo a assessoria de imprensa da pasta, a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, vai a Canoas nesta quinta-feira apresentar as interventoras e verificar a situação do HPSC.

Por meio de nota, a prefeitura de Canoas se manifestou, nesta quinta-feira (7), sobre a intervenção no HPSC, afirmando que ainda não foi intimada, mas que "assegura total colaboração à Comissão Interventora, bem como o aporte financeiro para o pagamento dos colaboradores, fornecedores e de todos os insumos hospitalares para garantir a assistência aos canoenses e aos pacientes das mais de 150 cidades para as quais o HPSC é referência" (veja abaixo a íntegra da nota).

Entenda o caso

No último dia 31, o MP deflagrou a Operação Copa Livre, com objetivo de desbaratar um suposto esquema de corrupção entre gestores da prefeitura de Canoas e empresários. Por decisão judicial, seis pessoas foram afastadas de seus cargos na prefeitura de Canoas: o prefeito, Jairo Jorge, um assessor direto do gabinete dele, o secretário de Planejamento e Gestão, o secretário de Saúde e dois servidores. 

Ao todo, foram cumpridas 81 medidas cautelares contra 24 pessoas físicas e 15 empresas. As medidas foram cumpridas em Canoas e Porto Alegre, nas cidades paulistas de São Paulo, São Bernardo do Campo, Barueri e Santana do Parnaíba, em Nova Iguaçu e Niterói, no Rio de Janeiro, e em Contagem, em Minas Gerais.

A investigação aponta supostas irregularidades sobre contratos da prefeitura, que somam R$ 66,7 milhões.

Contrapontos

O que disse o prefeito afastado Jairo Jorge

Não quis se manifestar. Em redes sociais, o prefeito afastado fez uma postagem na noite de quinta-feira (31):

"Fui surpreendido, na manhã desta quinta-feira, 31, por uma ação do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Estou perplexo com as graves acusações e ataques à minha honra, mas sigo acreditando na Justiça e tendo a convicção de que todos os fatos serão devidamente esclarecidos".

O que diz a prefeitura de Canoas

A prefeitura de Canoas se manifestou, nesta quinta-feira (7), sobre a intervenção no HPSC:

O Município tomou conhecimento, na noite desta quarta-feira,  06, da decisão liminar concedida pela Justiça, determinando intervenção do Governo do Estado na gestão do Hospital de Pronto Socorro dr. Marcos Ronchetti. Entretanto, ainda não foi intimado, o que deve ocorrer ao longo desta quinta-feira, 7 de abril.

A Prefeitura de Canoas assegura total colaboração à Comissão Interventora, bem como o aporte financeiro para o pagamento dos colaboradores, fornecedores e de todos os insumos hospitalares para garantir a assistência aos canoenses e aos pacientes das mais de 150 cidades para as quais o HPSC é referência. 

Da mesma forma, fará todos os movimentos necessários ao pleno funcionamento do Hospital de Pronto Socorro. Importante destacar que a liminar prevê a manutenção de todos os funcionários e contratos vigentes.

Assim, o Município confirma que o atendimento no HPSC segue ocorrendo normalmente.

O que diz o Instituto de Atenção à Saúde e Educação (Aceni)

A Aceni se manifestou, por meio de nota, nesta quinta-feira (7), sobre a decisão judicial envolvendo o HPSC. A Aceni, contudo, ainda não se manifestou sobre a operação deflagrada na última semana.

Nota à imprensa

A direção da ACENI está ciente da liminar judicial e já está totalmente à disposição das interventoras nomeadas, Sra. Eleonora Gehlen Walcher e a Sra. Suelen da Silva Arduin.

É importante frisar que não haverá nenhuma alteração na estrutura de recursos humanos e também dos fornecedores que são essenciais para a continuidade das operações no HPSC.

O fundamental nesse momento é manter com qualidade o atendimento para todos que buscarem o HPSC.

A direção

O que diz a GMS

GZH tentou contato com a empresa em dois telefones (em São Paulo e Porto Alegre) e não obteve retorno.


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