Porto Alegre
Com emergências pediátricas superlotadas, prefeitura pede que crianças com quadros leves sejam levadas a postos de saúde
Todas as unidades ouvidas pela reportagem nesta segunda-feira (11) trabalhavam acima da capacidade
O grande número de crianças com sintomas respiratórios levou à superlotação de emergências pediátricas de Porto Alegre, situação agravada pela baixa oferta de leitos. Todas as unidades ouvidas pela reportagem nesta segunda-feira (11) trabalhavam acima da capacidade (ver abaixo), sendo que a maioria dos pacientes apresentava problemas como bronquiolite, asma e pneumonia. Por isso, a prefeitura pede que as famílias encaminhem as crianças com quadros leves a postos de saúde.
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Ao mesmo tempo, emergências que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foram orientadas a não restringirem atendimentos, conforme pedido da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Após reunião com representantes das pediatrias na sexta-feira (8), foi acertado que a pasta vai concentrar as decisões e que hospitais não devem adotar medidas isoladas.
— Informamos a todos os hospitais que têm emergências pediátricas que não pode haver restrições. Quem irá restringir somos nós — diz o diretor adjunto de Atenção Hospitalar e Urgências da SMS, Francisco Isaias.
O Hospital da Criança Conceição tem 12 leitos de observação, sendo que havia 20 crianças atendidas nesta segunda. No fim da tarde, a diretoria decidiu restringir os atendimentos, mas horas depois houve negociação com a SMS e a decisão do hospital foi revogada, segundo a prefeitura.
— Estamos no limite, e a previsão é de que, à medida que aumente o frio, a situação piore — afirmou o médico José Roberto Saraiva, chefe da emergência pediátrica do Hospital da Criança Conceição.
Segundo a médica Patrícia Lago, chefe do Serviço de Emergência e Medicina Intensiva Pediátrica do Hospital de Clínicas, “os sintomas respiratórios estão superlotando as emergências pediátricas”.
Motivos para a falta de leitos
Segundo médicos e a SMS, o cenário é resultado de três fatores: a chegada do outono, que costuma deixar mais crianças com problemas respiratórios, somado ao retorno das aulas presenciais após cerca de dois anos, e, por fim, a baixa oferta de leitos pediátricos na Capital, que enfrentou redução de vagas nos últimos dois anos.
Em 2019, havia 511 vagas em leitos pediátricos na Capital, entre leitos de observação, de enfermaria e de UTI. A oferta caiu para as atuais 386 vagas. A redução foi causada, principalmente, pelo fechamento do setor materno-infantil do Hospital São Lucas da PUCRS e pelas restrições no Hospital da Criança Santo Antônio, da Santa Casa de Misericórdia, que atua de “portas fechadas” – apenas casos graves chegam para internação, conforme solicitação feita pela prefeitura. Neste local, houve redução de 84 leitos pediátricos para os atuais 41. Segundo Isaias, a SMS negocia com a Santa Casa a reabertura dos 43 leitos fechados.
Por volta das 21h15min, o Santo Antônio emitiu nota informando que a emergência do Hospital da Criança "segue funcionando com restrição em virtude da escassez de disponibilidade de profissionais médicos pediatras no mercado. A expectativa é de que a situação seja resolvida ainda essa semana, com a normalização dos atendimentos"
Sobre o fechamento do setor materno-infantil, a PUCRS já havia informado anteriormente que “desde o ano de 2020, transferiu todas as suas atividades e atendimentos da linha materno-infantil para o Hospital Municipal Presidente Vargas (HMPV), através do convênio de cooperação assinado junto a Secretária Municipal de Saúde de Porto Alegre”. Segundo a PUCRS, “a ação teve como objetivo: unir expertises, qualificar e ampliar os atendimentos conforme a sazonalidade, proporcionando também o aumento da oferta de leitos e de melhorias na estrutura física e tecnológica do HMPV”.
Outra solução estudada é a abertura de novos leitos em hospitais administrados pela prefeitura, como o Hospital da Restinga e o Materno Infantil Presidente Vargas. Também há a intenção de abrir leitos no Hospital Vila Nova. Ao mesmo tempo, a Secretaria Municipal de Saúde e os próprios pediatras à frente das principais emergências pedem que as famílias também procurem as unidades básicas de saúde que funcionam até as 22h. É uma forma de desafogar a situação dos hospitais, já que boa parte das crianças que chegam para atendimento apresenta quadro leve de saúde.
Outro pedido é para garantir as vacinas para os pequenos, frisa a pediatra Maristela Filippi de Oliveira, chefe do Setor de Pediatria do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas:
— Vacinem as crianças contra gripe e covid-19. A prevenção é a melhor arma que temos, é a melhor ajuda que a população pode dar, além de não trazer as crianças com quadros leves. Essas, devem ir para as unidades básicas de saúde.
A situação dos hospitais
/// O Hospital da Criança Conceição tem 12 leitos de observação, sendo que havia 20 crianças atendidas nesta segunda. Dessas, nove apresentavam quadro mais delicado e aguardavam por leitos de enfermaria. No fim da tarde, a diretoria decidiu restringir os atendimentos, mas horas depois houve negociação com a SMS e a decisão do hospital foi revogada, segundo a prefeitura.
/// A emergência pediátrica do Hospital de Clínicas tem nove leitos, sendo que havia 22 crianças internadas
/// A emergência pediátrica do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, que tem 38 leitos pediátricos, registrava 50 crianças internadas
/// No Hospital da Restinga e Extremo Sul, cuja emergência pediátrica tem seis leitos disponíveis, havia 12 crianças internadas