Seu Problema É Nosso
Após um ano, morador da Capital reconstrói casa destruída por árvore
Vegetal caiu sobre a residência de Marcos Piter da Silva, no bairro Rubem Berta, em abril do ano passado; por meses, ele dormiu em um espaço improvisado
Não foi com pura alegria que o atendente de alarmes Marcos Piter da Silva, 50 anos, recebeu a equipe do Diário Gaúcho para mostrar a reforma de sua casa. Depois de um ano, o sentimento relatado pelo morador do bairro Rubem Berta, na Porto Alegre, era de alívio. Porém, com um espaço para a revolta.
Pela queda da árvore que destruiu sua moradia. Pelo transtorno causado. Pela demora e pela forma como foi ressarcido. Na lista de prejuízos financeiros não reembolsados, estão móveis, eletrodomésticos, roupas e outros itens. Entre o que não se pode atribuir um preço, estão a tranquilidade e a discrição.
Há indignação também pelo que ficou sem solução. Mesmo com o imóvel em melhores condições, ele aponta os resquícios de um incidente que poderia ter sido evitado.
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Reforma concluída
Logo no início da visita, Marcos elencou o que conseguiu fazer com a indenização paga pela prefeitura de Porto Alegre. Fachada, sala e quarto, os ambientes mais atingidos, foram restituídos. À reportagem do DG, apontou o muro em frente à casa, que foi reerguido para conter os três cães que vivem com ele.
Depois, apresentou a sala, que agora tem novo telhado e pôde voltar a abrigar móveis e outros pertences:
– Isso aqui, ficou tudo aberto. Com chuva ou sol, eu descia do espaço em que eu me abriguei e tinha que passar por aqui – conta, mostrando o cômodo.
Perrengues resolvidos
Por fim, foi a vez de mostrar o espaço que voltou a ser o dormitório. Ele recebeu telhas novas e permitiu a Marcos abandonar a área aberta, de oito metros quadrados, coberta por uma lona, em que dormiu nos últimos meses.
Durante a conversa, relembrou os perrengues que passou além da própria improvisação. Entre eles, a insegurança:
– Um dia, logo depois de a árvore cair, eu acordei e tinha um cara aqui dentro. Eu me assustei e ele também. Provavelmente, achou que não tinha ninguém e queria roubar.
Outras questões
Ao citar o quanto foi importante ter seu caso acompanhado pelo Diário Gaúcho ao longo do tempo, Marcos listou questões não resolvidas após a queda da árvore no ano passado. Uma delas é o restante do tronco que ficou no mesmo local.
– Deixaram esse toco aqui. Atrapalha a passagem e acumula lixo. À noite, com pouca iluminação, é um ponto bastante perigoso. Para mim e todos os vizinhos – explica.
Eles, os vizinhos, também lidam com os resquícios da queda do vegetal. Ao redor de sua casa, Marcos mostrou à reportagem uma série de telhados e paredes danificadas, cobertas por lonas e outros materiais improvisados.
– Eu penso que recebi indenização porque vocês (o DG) mostraram meu caso e repercutiu muito, mas ninguém veio ressarcir eles – observa.
O que diz a prefeitura
Marcos chegou a abrir um protocolo junto à prefeitura de Porto Alegre, em dezembro do ano passado, para reclamar do toco da árvore que permanece no local. O processo tinha o número 393149-22-49. Questionada sobre a reclamação, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSURB), por meio da sua assessoria de comunicação, afirma que quando o protocolo foi aberto as equipes da pasta não encontraram o endereço informado e requisitaram mais informações, que não foram repassadas pelo morador.
Além disso, reforça que a árvore não oferece mais risco e que é necessária uma avaliação técnica para definir se é possível a retirada. Não há, porém, uma previsão para a realização dessa vistoria.
Relembre o caso
08/09/2015
/// O DG mostrou que uma árvore localizada bem perto da casa de Marcos havia caído sobre a residência de vizinhos. À época, os moradores pediam à prefeitura a retirada do vegetal. Marcos era um dos moradores.
25/04/2022
/// Um temporal derrubou parte da árvore, uma grande figueira, sobre a casa de Marcos e destruiu o quarto, a sala e a fachada da residência. Ele estava dormindo no momento do incidente. Nas noites seguintes, precisou se abrigar no banheiro. Após a queda, a prefeitura afirmou que o local em que estava o vegetal era de difícil acesso e que trabalhava na remoção dos destroços.
20/05/2022
/// O DG voltou à casa de Marcos porque resíduos da destruição ainda permaneciam no local. Na ocasião, com a ajuda de lonas, ele já havia transformado uma pequena área aberta em um dormitório improvisado. À época, a prefeitura disse que ainda fazia a retirada do material e que a Defesa Civil havia atendido os moradores que tiveram prejuízos.
04/08/2022
/// Em nova visita, a reportagem concluiu que não havia mais resquícios da árvore sobre a casa de Marcos. O imóvel, porém, permanecia destruído, e o morador disse que não poderia deixar o local para não abandonar os cachorros que moravam com ele e dependiam de seus cuidados. Foi a primeira vez que, questionada pelo DG, a prefeitura citou a possibilidade de Marcos abrir um processo administrativo requerendo uma indenização do município.
28/10/2022
/// Ao completar seis meses do incidente, Marcos tinha aberto o processo e buscava orçamentos para a reforma, conforme as exigências do município. Com dificuldade de enxergar e sem familiares por perto, ele só conseguia fazer os trâmites por telefone.
08/03/2023
/// Com a indenização paga, Marcos iniciaria a reforma da casa. Ao DG, ele afirmou que o valor, porém, não cobriria os danos de móveis e eletrodomésticos. Para isso, segundo a prefeitura, seria necessário um processo administrativo à parte. Isso fez com que ele desistisse de tentar.
Produção: Guilherme Jacques